Historietas para o doce deleite X

Não é folclore (ou é?), o acontecido de verdade e de mentirinha nos rincões do mundo, terras dos meus conterrâneos e de gente alegre e fanfarrona como Louro de Maninho e Neto de Cordeiro. E pode entrar na conta de folclore também que não há problema nenhum. As histórias dos brutos da cidade não passam ao largo das gargalhadas e pilhérias. São sobre esses brutos, mas brutos mesmos, de uma nervosia acachapante e repentina, essas historietas folclóricas de hoje. E tem mais e mais virão, todas elas apimentadas com um pontinho a mais que colocam pra dar tempero.

Eita brutalidade!

Celso Rodryg era já um senhor de seus mais de 70 anos de idade, criou uma renca de filhos, muitos deles grandes companheiros dos contadores dessas historietas. Certo dia, Celso, também conhecido como Celsão, passava sorrateiro, calçado com sua estimada precata, sobre a velha ponte de madeira, quando de repente deu uma topada daquelas de tirar pica-pau do oco e arrancar a cabeça do dedo. O dedo se esvaía em sangue e Celso em murmúrios, quando um moço que estava por perto pergunta: “Doeu, Seo Celso?”

Ele respondeu na bucha: “Doeu não, desgraça, vai doer é agora”. Ato contínuo, deu um grande chute, com vontade, numa ponta de madeira da ponte, acabando de dilacerar o dedo.”

É bruto ou não é?

Limão no dos outros

Ziquiel é outro bruto de fazer inveja ao destempero. Após uma semana labutando na roça, vai para casa na cidade e a mulher prepara um almoço dos mais gostosos no domingo. Quando ele se senta para almoçar, um dos filhos pergunta se painho não queria tomar uma pinguinha, pra abrir o apetite. Ele aceita. O filho, em seguida, pergunta se painho não queria um limãozinho, pra temperar. Ele aceita. Aí, levanta o copo de pinga na altura do rosto, o filho vai espremer o limão e uma gota cai no olho de Ziquiel. Pra quê, oche? Enfezado e com o olho ardendo, ele toma o limão da mão do filho, espreme e o esfrega, com força e com raiva, nos seus próprios olhos, enquanto esbraveja: “Faz assim, feladaputa, se é pra arder, que arda duma vez”. O menino, que queria agradar o painho, sai correndo e com medo.

Tamanho família

Assim que apareceu pizzaria na cidade, Celsão, aquele, levou dona Dolfa, sua esposa, e cinco filhas moças para uma rodada de pizza e, também, para conhecer a novidade, que diziam ser muito boa. É preciso dizer que Celso tem um probleminha de saúde, ele não escuta direito. Coisas da idade! Mas com um pouquinho de atenção dá para entender tudo. Ele chegou e se sentou com a família ao redor de uma mesa muito bonita, bem arrumada, música boa tocando ao fundo, e o garçom, por demais atarefado, atendendo muitas pessoas, gritou de lá para Celso se ele queria uma Coca Cola média ou tamanho família.

Na mesma hora, Celso avermelhou o rosto, ficou empapuçado e gritou de volta: “Não, aqui é tudo puta, seu desgraçado”.

A pizzaria veio abaixo e o garçom, todo sem graça, não se demorou para explicar a Celso o que tinha dito: se ele queria era uma Coca Cola média ou tamanho família e não se aquelas moças eram de família.

Ah, bom!

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por Hélverton Baiano

historietas ocorridas em Correntina -

Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 02/07/2010
Código do texto: T2354475
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