Por quê?

Por quê?

Por que se esconde, quando lhe procuro? E nas asas do albatroz espírito, foge de mim; por que não me ousa ouvir e ao mesmo tempo repele o calor dos meus abraços. Onde está a sua alegria a me ver? À época, na tristeza procurava a proteção dos meus braços a afagá-la refugiando-se no calor deste peito febril e com o coração aos frangalhos a escudava dos medos. No corpo desnudo eu era a cruz que afugentava os fantasmas a esquadrinhar a face linda de infortúnio...

E agora, minha deusa, diz-me porque foi esconder-se no além-horizonte, onde o sol se oculta na escuridão do deserto e a lua, bela e airosa, em contraste, durante o dia perde a existência, assim, tão longe; por que não quer se encontrar mais comigo e na esteira sente repulsa de mim. Eu que sempre sequei as suas lágrimas doridas, o bálsamo das feridas, a luz que iluminava a estrada escura e deserta. Por que me evita agora? E este medo, esta angustia, este desespero a escapulir dos aconchegos, este pavor a cruciar evitando reencontrar...

O que houve? O que eu fiz para merecer tamanho desprezo? Logo você que sempre amei tanto nesta existência; que sempre foi o maior sonho, a nudez prazerosa a fustigar as retinas, a chama viva a surtar os desejos mais íntimos... Lembra do passado de muita dor e de grande sofrer? Fui os passos nos caminhos espinhosos a trilhá-lhos com lágrimas nos olhos; a estrela-guia que iluminava o chão de incertezas a açoitá-la, quando mal sabia a direção a seguir na estrada incerta da vida, e agora neste instante em que mais a procuro não a encontro.

Por que foge de mim? Não diga que um amor tão sublime morreu nas dobras do tempo, no silêncio da noite, nos braços do destino ou no sangue do peito... Mas, espere! No sangue de meu peito? Que dilacerou o meu coração, pondo fim a minha existência, quando ainda tinha tanto pra viver e amar.

Mas que ferimento é esse que me aniquilou e não matou este amor o qual deveras sinto por você fazendo clamar angustiado: de que necessito amá-la; que quer gritá-la e repetir de viva voz ante os astros mil que a amo e preciso tê-la de volta em meus braços. Deus. Oh Deus! Onde está que não responde. Por que este amor tão profundo, que nunca quer ser estancado, e se transforma num martírio inevitável e incessante a dissecar a alma púrpura, pondo a delirar de ânsia o mais que querer e a afugenta para bem longe de mim.

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 28/06/2010
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