Saramagoo partiu. Seu Legado pertence à Humanidade
A triste notícia da partida de José Saramago foi divulgada pelo orbe. A sociedade mundial, a Literatura Portuguesa, os seres oprimidos de todo o mundo não têm mais a presença física de José Saramago.
Ele era uma criatura especial cuja ausência já está a ser sentida, pois certamente fará falta sua inteligência aguçada, sua crítica objetiva, concreta e perpendicular sobre os assuntos vários mais importantes para as criaturas deste planeta.
Não tenho pretensão alguma de escrever nada que não seja um registro sincero de minha despedida triste neste último ato da história de sua vida.
Todos temos um tempo de estada nesta Terra.Uns vivem mais, outros menos. Uns já ao nascer, outros, quase beirando - ou ultrapassando mesmo um século.
Acaciano (não procuro originalidade): temos todos um só destino: morrer, que é a única certeza da vida.
Daqui nada levamos de material, por mais ricos que possamos ser. Esclareço: o que se leva, como escrevi alhures , é "o bem que se faz, o amor que se doa, a solidariedade que se desenvolve e o pão que se divide". São nossas ações - e o que delas germina que aqui deixamos ao partir. Nada mais.
Fisicamente considerados, pouco ou nada somos. O material, o tangente, o aparente, não podem ser comparados ao que de etéreo, mas consistente e essencial em nós existe e nos orienta pelos Caminhos da Vida em nossas decisões e agires.
A sabedoria dos latinos é o quanto basta para que tenhamos consciência de quem somos e em que nos transformaremos quando chegarmos ao fim do Caminho e o Tempo completar o seu Círculo, fechando-se, ligando-nos à eternidade:
"Homem remeber: pulverus est et ad pulverus reverteribus. Revertere ad locum tuum", ou seja:"Homem, lembra-te: do pó vieste e ao pó retornarás.Volta agora à tua origem".
O legado de Saramago é riquíssimo, pois são suas muitas e consistentes obras, seu humanismo, sua visão política, sua real preocupação com a sociedade dos homens, as formas de governo, suas críticas logicamente encadeadas e a maneira instigante como as expunha.
A inteligência incomum com a qual foi dotado e sua condição de ateu, fez com que escrevesse sobre assuntos polêmicos - por isso contestados- principalmente por segmentos mais tradicionais da sociedade e mesmo pela Igreja Católica que, nem por isso, pode deixar de reconhecer seu valor como homem de letras: escritor, romancista, poeta e pensador, entre outros.
Suas declarações suscitavam e certamente continuarão a suscitar grandes e profundos debates e a causar celeumas.
Penso ter sido este, provávelmente, seu objetivo: fazer com que as pessoas pensassem livres de estereótipos, ie, de formas semelhantes, (ou idênticas), premoldadas, uniformizadas, rígidas.
Saramago retirou-lhes os antolhos e libertou-os dos conceitos preconcebidos todos, para passarem a pensar livre, mas corretamente chegarem às suas conclusões.
Sob certo ângulo, metafóricamente considerando, conduzia seus leitores de forma peripatética, como Aristóteles o fazia, na antiga Grécia.
É interessante notar-se que, às vezes, sem ter intenção,quase atávicamente, repetimos as lições que a História nos deixa.
Óbvio está que atingiu seu intento, tantas têm sido as manifestações de tristeza provenientes dos quatro cantos da Terra.
Saramago era um homem cuja bondade refletia em suas ações. E, inegavelmente, o maior dentre os escritores atuais da Língua Portuguesa, que sabia utilizar como poucos, caracterizada em forma e conteúdo únicos.
Adeus, José Saramago.
Partiste, mas teus escritos aqui permanecerão gravados e continuarão a surtir os efeitos que pretendias.
Mirna Cavalcanti de Albuquerque Pinto da Cunha
(*)v. a respeito:"Os três últimos desejos de Alexandre, o Grande"