Autor e narrador: não confundir!
Antes de haver começado a publicar alguns escritos, maioria exercícios para aprender a contar – não só até dez; um pouco mais adiante, digo: histórias –, confesso que jamais havia me sentido atraída por teoria literária; não me interessava tanto. De uns tempos pra cá, no entanto, isto mudou.
Costumo pensar que tudo em minha vida se dá num tempo exato, tempo que tinha que ser. Superstição ou não, assim se deu também neste caso. Mas isto não vem ao caso, e sim ao conto: descobri um esquema(1) simples que pode ajudar a esclarecer certos equívocos, uns em que, pelo que percebo, muitos leigos (eu, incluso) incorrem na hora de interpretar um texto. Falo aqui sobre confundir os papéis de autor, narrador, leitor-fictício e leitor-real em textos literários - via de regra, ficção.
Grosso modo, a idéia pode ser reduzida a:
Autor produz Texto;
Texto = Narrador que conta Historia a um Leitor-fictício;
Leitor-real recebe Texto;
Esquematicamente:
Autor --> Texto --> Leitor-real.
Autor --> Narrador que conta Historia a um Leitor-fictício --> Leitor real.
Autor (quem produz o texto) e Leitor (quem o recebe) são elementos externos ao texto produzido. Assim sendo, ao ler um texto literário (contos, romances, poemas etc.), para evitar falsas interpretações, é bom que se tenha em mente a distinção entre esses papéis. Já no caso de gêneros considerados não-ficção (artigos jornalísticos e certos tipos de crônicas por exemplo) o esquema é outro.
Como ninguém é obrigado a conhecer teorias literárias (ou teoria alguma), em meus primeiros contos costumava colocar no final: “favor não confundir autor com narrador”. Com o tempo, no entanto, abandonei esta prática. Se bem que, na época em que os publiquei, não via com mais clareza essa separação de papéis: o “eu poético” não é necessariamente o poeta, muito menos o “eu-narrador” de um conto é a pessoa que o escreveu.
Querido leitor/a (real), não pense que subestimo sua inteligência – espero que não subestime também a minha -, dá-se que, no tocante a informação, antes pecar por excesso do que por falta, não? Primo por deixar as coisas sempre o mais claro possível. De fato, incomoda-me, por vezes, testemunhar discussões vazias, geralmente causadas por problemas de comunicação, bagatelas que poderiam ser facilmente resolvidas se houvesse um pouco mais de generosidade.
Bom, se este texto (não-ficção!) tiver utilidade, fico muito mais feliz.
Ah, e se encontrar erros ou equívocos de qualquer natureza, principalmente em se tratando de teoria literária, muito grata por compartilhar.
Um abraço fraterno :-)
(1) Schulze-Witzenrath, Elisabeth (2006): Literaturwissenschaft für Italianisten. Eine Einführung, Narr.