CARLOS S. PENA FILHO, POETA PERNAMBUCANO (homenagem ao Dr. Augusto Sampaio Angelim e à memória do poeta, Pena Filho)
Carlos Souto Pena Filho, de Recife, nascido em 17 de maio de 1929 e falecido em 1 de julho de 1960, na sua cidade natal, aos 31 anos de idade, vitimado por um acidente automobilístico. Filho do casal de portugueses, Carlos Pena, comerciante, e Laurinda Souto Pena. Em 1937, após desfeito o casamento dos pais, mudou-se juntamente com a mãe e os irmãos Fernando e Mário, para a residência dos avós paternos, em Portugal.
Foi na terra de tantos poetas que viveu dos oito aos doze anos de idade, retornando então ao Brasil. Considerado um dos mais importantes poetas pernambucanos do século XX , tem seu nome ladeado ao de João Cabral de Melo Neto.
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife. Quando acadêmico, participou da política universitária e das campanhas eleitorais ali realizadas.O poeta interessou-se pela política e pelo social, observando os diversos aspectos da vida pernambucana .
Além de haver atuado como advogado para o Estado de Pernambuco, também foi jornalista e repórter no Diário da Noite e Jornal do Commercio, nos quais escreveu crônicas e poemas. Assinou duas colunas: Literatura e Rosa dos Ventos. Sua esposa chamava-se Maria Tânia Tavares Barbosa. O casal teve uma filha, Clara Maria de Souto Pena. Desta filha vieram os três netos: Maria Joana, Maria Luiza e Carlos Souto Pena.
Relacionou-se intelectualmente com Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, João Cabral de Melo Neto, Mauro Mota, Gilberto Freyre e Jorge Amado, dentre outros.
A poética de Carlos Pena Filho mostra-se originalmente lírica. O poeta e autor de sonetos esplendorosos coloca em algumas de suas composições o registro da linguagem oral, além da musicalidade que imprimiu aos textos de suave plasticidade, movimento luz e colorido intensos. Apreciava a cor azul e, por tal motivo, afirmaram ser a sua "poesia vestida de azul". O primeiro trabalho como poeta, o soneto Marinha, foi publicado em 1947 pelo Diário de Pernambuco. O primeiro livro: O Tempo da busca (1952).
Depois de bacharelar-se em Direito, foi a vez da edição da obra Memórias do boi Serapião (1956), ilustrada por Aloísio Magalhães. Convém frisar que as fontes consultadas apresentam pequena divergência quanto à informação, dizendo uma que ao publicar a obra referida, Carlos Pena ainda era estudante universitário; e a outra fonte afirma haver acontecido a publicação após o poeta obter a graduação em Direito (1957).
Outra produção de Carlos Pena, A vertigem lúcida (1958), foi premiada pela Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco. E, no ano subsequente, sua obra foi reunida no assim intitulado, Livro Geral. Naquele momento foi o detentor do Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro.
A responsabilidade da organização de A compilação de Os melhores poemas de Carlos Pena Filho (antologia/1983) foi efetivada sob a responsabilidade de seu biógrafo, Edilberto Coutinho.
Parceiro de Capiba, músico pernambucano, com ele assinou letras de músicas de sucesso, a exemplo de A mesma rosa amarela, incorporada ao movimento da Bossa Nova, interpretada por Maysa Matarazzo.
Posteriormente foi a canção gravada por outros intérpretes do nosso cancioneiro: Vanja Orico, Tito Madi e Nelson Gonçalves.
A MESMA ROSA AMARELA
Carlos Pena Filho
Você tem quase tudo dela,
o mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela,
só não tem o meu amor.
Mas nestes dias de carnaval
para mim, você vai ser ela.
O mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela.
Mas não sei o que será
quando chega a lembrança dela
e de você apenas restar
a mesma rosa amarela,
a mesma rosa amarela.
Em: Melhores poemas, Carlos Pena Filho, ed. Edilberto Coutinho, Editora Global: 2000/São Paulo.
Antes de sua trágica partida, no dia 26 de julho de 1960, foi publicado o último poema de Carlos Souto Pena Filho:
SONETO OCO
Carlos Pena Filho
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
Para exemplificar ainda mais a poética de Pena Filho, incluo a este texto os sonetos de fino lavor poético:
Marinha
Tu nasceste no mundo do sargaço
da gestação de búzios, nas areias.
Correm águas do mar em tuas veias,
dormem peixes de prata em teu regaço.
Descobri tua origem, teu espaço,
pelas canções marinhas que semeias.
Por isso as tuas mãos são tão alheias,
Por isso teu olhar é triste e baço.
Mas teu segredo é meu, ó, não me digas
onde é tua pousada, onde é teu porto,
e onde moram sereias tão amigas.
Quem te ouvir, ficará sem teu conforto
pois não entenderá essas cantigas
que trouxeste do fundo do mar morto.
Poema extraído (do livro A Vertigem Lúcida)
***
Para Fazer um Soneto
Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere um instante ocasional
neste curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial
Ai, adote uma atitude avara
se você preferir a cor local
não use mais que o sol da sua cara
e um pedaço de fundo de quintal
Se não procure o cinza e esta vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse
antes, deixe levá-lo a correnteza
Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza
ponha tudo de lado e então comece.
***
A Solidão e Sua Porta
Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha
A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório
Este apontamento sobre o poeta Carlos Pena é uma singela homenagem ao Dr. Augusto Sampaio Angelim, pela extrema delicadeza do comentário colocado ao meu poema "Bonitinha, mas ordinária". Especialmente agradeço haver remetido o seu pensamento ao imortal poeta, seu conterrâneo, ao ler meus versos. Estou muito honrada e emocionada.
CHOPP
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
http://www.revista.agulha.nom.br/cpena10p.html
http://www.revista.agulha.nom.br/cpena04p.html
http://www.revista.agulha.nom.br/cpena01p.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Pena_Filho
http://peregrinacultural.wordpress.com/2009/02/23/a-mesma-rosa-amarela-poema-de-carlos-pena-filho/
http://www.interpoetica.com/carlos_pena_filho.htm
http://www.releituras.com/carlospena_menu.asp