Minicontos e flash fiction contemporânea parte 1

Minicontos e flash fiction contemporânea

Por Ramon Bacelar

O miniconto e flash fiction contemporâneo no mainstream literário e no universo da literatura fantástica em especial, ocupa uma posição um tanto incômoda. Admirado por alguns, excecrado por outros, é geralmente, e injustamente, considerado entretenimento frívolo, nada mais que anedotas cujo o efeito se dissipa tão logo se termine a leitura. Não é de todo errôneo classificá-los desta maneira, mas em mãos habilidosas e mentes capazes este formato ganha surpreendentes contornos, nuances e profundidade que os eleva a vários patamares acima do mero entretenimento. Incontáveis praticantes do fantástico exercitaram sua pena neste formato, mas pode se contar nos dedos os escritores que realmente dominam o forma. Ambrose Bierce, Fredric Brown, Patrícia Highsmith nos vem a mente como exemplos de miniaturistas consumados . Na encruzilhada entre a flash fiction, prosa poética e conte cruel (formato este que teve como seu fundadaor o aristocrata francês Villiers De L`isle-Adam) poderíamos citar o Thomas Ligotti, Thomas Willoch e o W.H. Pugmire.

Com a proliferação de publicações on-line, o formato ganhou um lugar mais adequado e no momento goza de bastante popularidade na rede .

Vou relacionar alguns autores que a meu ver se sobressaem neste formato e estão produzindo uma ficção criativa e vigorosa.

D.Harlan Wilson-Wilson é um dos líderes e certamente o mais inteligente e cerebral dentre os autores do relativamente novo movimento conhecido como Bizarro (prefiro defini-lo como New Absurdism). Dono de um estilo extremamente polido, um invejável comando da língua inglesa e um fino wit, suas vinhetas demonstram uma forte influência dos absurdistas europeus clássicos mas com uma pegada moderna. Kafka, Vonnegut Jr., Philip K Dick, (William) Burroughs e J. G. Ballard no mesmo pacote.

Michael Arnzem- Arnzem é o rei sem coroa do micro conto horrorífico contemporâneo. Seus temas e estilo são uma mistura insana e amalucada de gore, goulishness, humor negro e farsesco, cinismo, existencialismo e pathos. Não me perguntem como ele consegue fazer toda essa maluquice funcionar. Em meio ao caos, tumulto e pesadelo cômico espreita um artista com uma habilidade incomum com as palavras (e nos contos do Arnzem cada palavra conta).

Brian McNaughton- McNaughton é autor do premiado e genial Throne of Bones (um dos genuínos clássicos da dark fantasy contemporânea. Estilo compacto, denso, hiper concentrado, rico em detalhes, cor e nuance, um senso de humor ácido (as vezes ofensivo) e ferino, Mcnaughton é da linhagem dos fantasistas clássicos, da turma da New Yorker (Collier, Saki) que acreditavam que forma e conteúdo são inseparáveis.Um estilista consumado e sua morte prematura é de se lamentar.

Ramon Bacelar
Enviado por Ramon Bacelar em 25/04/2010
Reeditado em 05/05/2010
Código do texto: T2218245
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