"O Mulato" E "O Cortiço"
Aluísio de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão em 1857, morreu em 1913 em Buenos Aires. Era caricaturista de jornais num ambiente sócio-cultural em mudança.
A partir da segunda metade do século XIX, viveu no Rio de Janeiro porque não fazia os jogos de cartas marcadas da política de sua terra natal. A burguesia política, social, econômica, industrial e mecânica, isto é, ideológica, se imbuiu de um conjunto de idéias pré-formadas, ao autodefinir-se enquanto classe (apelidando-se de "elite").
"Elite" por autodenominação. Esses liberais, do capitalismo cromagnon, se apossaram do conceito grego de democracia, e se assentaram nele como se fossem os cavaleiros da Távola Redonda das oligarquias regionais. Paradoxalmente, os liberais eram a vanguarda pensante da sociedade. Qualquer leitor de atualidade mediana poderia ser um eficiente escritor da escola do realismo-naturalismo. Nela estavam presentes, o desenvolvimento ufanista das ciências naturais, com novos métodos de experimentação e observação da realidade, a exemplo do darwinismo social.
A idéia darwinista da evolução, em voga em todo o ambiente científico "globalizado", da época (a seleção natural pela busca da sobrevivência do mais apto; o estudo e a interpretação da vida humana em sociedade), serviu de motivação literária para o autor de "O Cortiço". Aluísio de Azevedo afirmou-se enquanto um escritor crítico dos costumes sociais da época. A sociedade no estrato da pequena-burguesia, não possuía nenhuma orientação ideológica de classe, que pudesse salvá-la do comando, comunicação e controle (domínio maquiavélico) de seus tutores burgueses.
A tutela da sociedade estava em mãos dos banqueiros da propaganda política do capitalismo cromagnon em expansão. No romance mencionado, datado de 1890, a história do Cortiço não difere da de seu proprietário, o português João Romão, que explorava os sem teto da época, e os fazia devedores infindáveis do dinheiro das mercadorias que compravam em seu armazém.
João Romão comprou a escrava Bertoleza, uma beleza, que comercializava peixes fritos para seu patrão. João era um fundamentalista fanático do liberalismo (que originou uma coisa política, econômica e jurídica covarde, fraudulenta e impune, que se chamaria, algum tempo depois, de neoliberalismo). Como todo bom corrupto precursor dos neoliberais, João Romão fez dela amante, e, a pretexto de, como todo bom patrão, cuidar bem do dinheiro dela, depositou-o inteiro em suas contas, entregando-lhe, como compensação, uma falsa carta de alforria. Próspero, ele torna-se proprietário de uma pedreira na parte dos fundos do Cortiço.
Cheio da grana, que é tudo que a sociedade pequeno-burguesa precisa para se curvar reverentemente diante da ideologia fascista de qualquer bucaneiro, João Romão não tarda a encontrar sua "princesa", filha de um vizinho. Do vizinho interessado em por as mãos em parte do dinheiro do dono da mercearia, do Cortiço e da pedreira. A filha, possivelmente, para ele não valia nem a metade do preço dessas mercadorias.
Ela, a filha, era sua mercadoria disponível para começar as negociações matrimoniais dos interesses de ambos os burgueses. A cerimônia de casamento poderia realizar-se se ele se livrasse da escrava. Ao denunciar Bertoleza, que "se dizia" supostamente alforriada. Seus antigos patrões vieram buscá-la. Ela, acuada, se suicida. Há também a história de outro português, Jerônimo, um dos muitos moradores do Cortiço e administrador da pedreira. Casado, com uma vida domesticada pela rotina, ele é pego pelo "calcanhar de Aquiles" de todo português que almeja realizar lubricamente seus delírios de domínio sexual.
Rita Baiana chegou outra vez, com a inspiração de sua música de "guetho", dançou e cantou num boteco, ponto de animação do cortiço. O Jerônimo não se segurou. E lá se foi a felicidade do casal que, até então, eram "felizes para sempre". Depois de ver o gingado da baiana se encrespar para seu lado, ele não resistiu: a paixão falou mais alto. A pulsão mencionada por "tio" Freud jogou para o alto tudo que ele havia conseguido até o momento de vê-la dançar. A sereia canta mas o Ulisses caboclo não está amarrado ao mastro do navio mercante.
O vulcão fundamentalista da paixão ganha dos demais impulsos envolvidos. Firmo, o namorado de Rita, o esfaqueou numa briga. Posteriormente Jerônimo matou seu rival e fugiu com Ritinha Baiana. A delinqüência mental, patológica, das personagens pequeno-burguesas do romance naturalista de Aluísio Azevedo, indica a decadência geral dos valores éticos e morais, supostamente criados pela civilização dos velhacos teóricos de todos os matizes: os descendentes da civilização cromagnon da pré-história, vestidos de suposta civilidade.
A civilização ocidental, mãe do fundamentalismo jurídico da atualidade, estava a serviço dos banqueiros do colarinho branco da época do naturalismo literário. As influências históricas criavam as possibilidades criativas da essência pulsional das personagens naturalistas. O Naturalismo era uma corrente cientificista do Realismo. Sua exposição literária afirmava alguns aspectos de consideração particularizada. Ele resistia à criação das personagens idealizadas da escola romântica.
Os realistas e naturalistas criaram uma literatura de maior verossimilhança com a realidade. Não utilizavam a ingenuidade, por vezes fantasiosa, característica do estilo anterior. Valiam-se, os naturalistas, da aplicação dos princípios deterministas de Taine.
Para os naturalistas, assim como para o determinismo, os fenômenos pessoais e sociais se encontram associados por uma cadeia de fenômenos condicionados por outros que os precederam. Fenômenos esses que condicionavam, com a mesma vitalidade, a repetição da história pessoal, familiar, profissional e social, dos acontecimentos que, por sua vez, vão lhes suceder.
Aluísio de Azevedo, leitor contumaz de Eça de Queiroz, cria um intertexto tropicalizado da literatura deste, excluindo as influências da primeira fase do realismo incipiente, mascarado com as peripécias literárias da herança da escola do romantismo. O Cortiço está mais para o estilo da segunda fase literária do escritor português de "Os Maias": O discernimento social crítico da cultura de costumes da vida portuguesa. A ironia com que desmascara a hipocrisia e a crueldade ociosa da sociedade portuguesa.
Há alguns elementos, na literatura de Aluísio de Azevedo, da terceira fase literária de Eça: eles mostraram um escritor que dissertava sobre a criação de suas personagens de maneira veemente, lírica, sem que se incluísse na rigidez das etiquetas, das regras impostas pelos cânones da literatura realista e da literatura naturalista da escola européia.
Em "O Cortiço", o autor maranhense mexe com a vaidade dantesca dos "marimbondos de fogo" da sociedade maranhense, sinônimo de intriga caluniosa, mexericos e fofocas. A chamada "elite" social maranhense sentiu-se atingida pela leitura intertextual do autor: em sua terra natal nada mais era do que um "outsider". Os escitores que merecem este nome são, por vezes, os excluídos de seu tempo, porque em suas criações literárias, expõem, frente ao espelho da conduta social, a careta ávida de lucro, contraída pela ansiedade voraz, antropofágica, por ter (ter sempre mais), dos burgueses. Principalmente da burguesia praticante da "dança primata do avestruz":
A pantomima indigna das idéias e costumes da classe "A", que os fazia escravos de interesses extremamente particulares, que não possuíam nenhum resquício de democráticos. A aparente oposição que existia entre Miranda e João Romão, era, simultaneamente, a exteriorização dramatizada de uma profunda identidade de interesses comerciais (tipo levar vantagem em tudo, todo tempo), e outros, de natureza social incestuosa, entre eles. Eram, Miranda e João Romão, ambos portugueses em busca, no Brasil, da terra prometida do comércio pirata de mercadorias e de mulatas. Outros códigos literários (doutrinas científico-filosóficas), influenciavam a literatura naturalista. A exemplo da Dialética do Processo Racional.
Segundo Hegel, qualquer raciocínio pode ser lógico, desde que estruturado na trilogia seqüencial tese, antítese e síntese. O Positivismo de Augusto Comte, apregoava a superioridade da ciência para a sociedade. Comte garantia que a Teologia e a Metafísica poderiam ser excluídas da "teoria do conhecimento", uma vez que a "realidade" é uma realidade concreta, sólida, maquiavélica, implacável. Proudhon teorizou sobre as bases do pensamento socialista a partir das idéias de Comte.
O pessimismo da filosofia de Schopenhauer, outra influência da literatura naturalista, afirmava que o ser humano da espécie sapiens sapiens, está vocacionado para a dor e o sofrimento, desde que a felicidade vulgarizada pela escola romântica, não passava de um delírio persecutório: uma ilusão. Essas influências contribuíram para uma crítica da sociedade burguesa vigente na época. A maneira burguesa, liberal, a partir da qual João Romão enriquece, ao roubar seus fregueses no preço e, ao mesmo tempo, pervertendo e deformando a prática das relações sociais em benefício próprio, configura a crueldade de algumas personagens literárias que caracterizaram o Naturalismo.
A vida cotidiana da sociedade burguesa, está presente na natureza da linguagem descritiva que dispensa os eufemismos românticos. Há a presença da solidariedade no exercício da iniciativa estética na literatura realista e na criação literária do realismo.
A literatura realista cria a possibilidade de conceituar de maneira, por vezes "expressionista", a aderência incestuosa, simultânea, das influências do realismo literário, somadas à realidade burlesca da sociedade: O sentimento de harmonia na narração das emoções de prevalência social do mundo burguês decadente e cerimonioso, ao mesmo tempo real e horrível. Os naturalistas consideravam-se, na época, os únicos a criar metáforas literárias para explicar racionalmente o universo limitado pelos cinco sentidos dos interesses fundamentalistas burgueses do liberalismo.
Em Portugal, essas idéias criaram a polêmica conhecida como "Questão Coimbrã", quando Antero de Quental contestou as críticas dos românticos, através do texto conhecido por "Bom Senso e Bom Gosto". Em suas "Odes Modernas", nas poesias que representavam a fase realista do autor, há a presença das idéias de justiça social, igualdade e dignidade, precursoras das atuais idéias de cidadania. Futuramente (nas literaturas fantástica e de ficção científica), essas criações, de maneira gradual, foram integradas ao discurso literário científico da ficção (realista e científica), formas culturalmente elaboradas para que sejam mostradas, de maneira mais eficaz e intensa, o futuro das relações sociais nas quais prevalecem as diferenças, os preconceitos e a exclusão social.
Em outras palavras: os interesses da burguesia cromagnon, que autodenomina-se "elite". Elite é o que há de melhor num grupo social. Na realidade, a burguesia é uma minoria dominante, constituída de indivíduos que visam apenas o lucro. Do ponto de vista intelectual, espiritual, histórico, político e econômico, há muito a burguesia é uma escória. Veja o leitor no documentário do cineasta Michael Moore, "Fahrenheit 11 de Setembro", que o presidente dos Estados Unidos, o famigerado "Bush de Blair", se reporta à "elite" americana como sendo, para ele, uma "massa de manobra" para os interesses pessoais e os de sua "família".
A "elite" é a escória. Abastada. "Elite" nos Estados Unidos autodenomina-se de pele branca, do olho azul, rica e protestante. Essa "elite" costuma fazer guerras e usar as pessoas negras e "os mulatos", porincipalmente os de origem latino-americana, morando em "cortiços", para ir morrer por eles, onde quer que seus interesses estejam sendo defendidos.
Atualmente, a principal guerra que fomentam é no Iraque. É a "família" do "Jedy" Bush em grandes negociatas com a "família" americanófila de sauditas. O presidente dos EUA atacando "Satâ" Darth Wader (Hussein), que nunca matou sequer uma barata americana. "Bush de Blair" está a garantir parte do petróleo do oriente médio para as contas correntes de sua turma de delinquentes milionários: a "elite" americana do partido Republicano. Depois que eles mataram os irmãos Kennedy (o presidente John e o senador Ted), parece que não há nada que os faça parar com o despotismo político. Burguês.
A corrupção e a impunidade dessas importantes autoridades da política do complexo industrial militar, faz com que eles tomem não "mão grande", até eleições ganhas pelo partido Democrata. O terror e o medo que essas "autoridades" estão implantando nos Estados Unidos, se confirma na atual baixa auto-estima do povo americano, que deles vêm aceitando tudo, até a quase extinção dos direitos individuais em nome de uma suposta proteção dos americanos na luta contra o terrorismo. Ora, os terroristas são aqueles que matam um presidente e um senador de seu próprio país para poder fabricar armas, helicópteros, e bombas à vontade. Invadir países, fabricar guerras, E ficaram impunes, até hoje.
Para a desgraça e a vergonha de uma nação que se apelida de "democrática". A "elite" burguesa fede, através dos corpos dos americanos mortos nas guerras que o complexo industrial-militar promove. Como afirmou, com propriedade, a poesia daquele cantor popular. Quem vai parar a burguesia? Ou o planeta acaba com a burguesia, ou a "elite" dessa burguesia acabará com o mundo, Ao "defendê-lo" apenas para seus interesses.
Se alguém fizer um exame de DNA, ou equivalente para saber o quanto há de sangue branco nessa "elite", verá que a progênie da grande maioria deles é mais negra do que eles mesmos possam pensar. Que diferença se a pele deles é negra ou branca? Na realidade "a burgusia
fede e quer ficar rica". Mais rica. Sempre. Sem que a ética e a moral sejam levadas em consideração. Só isso, A isso eles chamam de cultura, de civilização e de "democracia".
Os "mulatos" e os habitantes latinos dos "cortiços" são os que vão morrer em mais essa "guerra suja". E o pilantra do "tio" Sam, representado pelo golfista à "black-tie", o "Bush de Blair", continua com aquele sorriso de hiena. De ave de rapina. Mentindo para o mundo globalizado pela impunidade e a corrupção? Até quando?