O Campo de Força da Criação Literária (Processo De Criação)
Primeiro passo, a intencionalidade: escrevo para dizer o quê? Para dizer, seja o que for, contar uma história longa, novela, conto, crônica ou ensaio. Imagino uma situação dramática de interesse para o leitor, um contexto através do qual enredo, personagem, paisagem, ação, possam manter vivo o sentimento pertinente que mantem acesa a chama da fábula leitura.
Segundo passo, qual o perfil do leitor para o qual escrevo? Quero crer uma pessoa interessada na vida, em descobertas, em questionamentos e garimpagem do inconsciente na busca infinita de autoconhecimento (que otimismo). Esse leitor existe?
Para conseguir este objetivo, leio a receita do bolo literário de Erza Pound: "Bons escritores são os que sabem manter a linguagem eficiente". Escrevo de maneira que, quem ler minha ficção, realista e/ou científica, surpreenda-se cada vez mais co-partícipe nos desdobramentos da história.
O terceiro passo, conseqüência dos anteriores: as revisões ortográfica, gramatical e literária. Ao escrever o romance HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) a intencionalidade presente: criar uma composição narrativa, síntese de categorias classificadas literariamente, promover, talvez, a gênese de um novo gênero.
Uma editora encaminhou o romance para avaliação do escritor Orlando Bastos, da geração de 45. Conhecido pela excelência de seus textos nos meios literários paulistanos, ainda que incógnito para outros segmentos de leitores, transcrevo a opinião desse autor da 3ª geração modernista:
“Um misto de H. G. Wells, Borges, Bioy Casares, Dalton Trevisan, Orwell e Aldous Huxley. Embora não muito ligado a essa modalidade de ficção (salvo os autores acima mencionados), li sem enfado o livro do autor Decio Goodnews. Parece-me que seu propósito de inaugurar um novo gênero literário foi atingido. Seguiu a trilha de outros inovadores. Conseguiu inovar a inovação. O estilo é desenvolto, fluente, denotando grande intimidade com a produção literária...”
A intenção do romance HOLOCAUSTO NUNCA MAIS...: mergulhar o leitor nos meandros subjetivos da origem da espécie Homo sapiens/demens sapiens, sugerindo que a hipótese do surgimento da raça humana, desenvolvida nessa ficção, seja considerada crível por ele, ledor. O romance sugere que, no código genético do ser humano, está embutida a gênese da autodestruição da espécie.
Tal origem expõe as limitações conseqüentes dessa cultura encarregada de tutelar a psicologia dos humanos, por uma raça alien, através dos milênios e séculos, até para além do ano 3000. A ficção PsycoCity, é um desafio aceito a partir dos ensinamentos de autores das mais diversas ficções e nacionalidades, com ênfase para o estilo literário desenvolvido por Pauwels e Bergier em O Despertar dos Mágicos.
As influências vêm de todos os momentos e lugares. O livro insere-se na cultura literária brasileira, prestando-se homenagear, ao longo dos capítulos, autores que fizeram acontecer as três gerações da Semana de Arte Moderna, criando, por sua vez, inovações narrativas que justificam o título HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity). E fazer lembrar ao leitor que o Holocausto é o mais impressionante e lamentável acontecimento genocida da espécie humana. Um delito que torna a humanidade de até então moralmente irredimível.
Criar, presumo, é saber exercer parceria com o subconsciente. Não sei se possível educá-lo (educar quem sabe muitíssimo mais do que o educador?). A criação, imagino, exige do autor literário, ao longo da experiência de vida, que are a terra do discernimento teórico, da prática de vida, lançando nela as sementes do aprendizado das várias linguagens criativas: humanas, físicas, biológicas, artes plásticas, dramaturgia, filosofia, história, cinema, teoria literária, pesquisa parapsicológica.
Talvez tudo isso tenha começado a se estruturar no espaço cênico grego, com autores que narraram as inter-relações, por vezes complexas, entre o homem e as realidades universais do inconsciente (pessoal e coletivo).
Aristóteles formulou as regras básicas da arte teatral, no primeiro volume da "Arte Poética". Cada encenação deve seguir as unidades de tempo, de lugar e de ação (elementar). Ésquilo, segundo Aristóteles, o criador da tragédia grega, escreveu mais de noventa dramas; os principais: As suplicantes, Os persas, Os sete contra Tebas, Prometeu acorrentado, Agamenon, As coéforas e Eumênides (estas últimas, a trilogia Orestia).
Sófocles (subversivo muito procurado pela repressão do regime militar nas décadas de 60/70), subscreveu 120 peças, as mais encenadas até hoje: Antígona, Electra e Édipo Rei.
O mais trágico dos autores gregos, Eurípedes, destaca-se pela autoria de Medéia, As troianas, As bacantes. Aristófanes, em Lisístrata narra as mulheres fazendo greve de sexo para pressionar atenienses e espartanos a instituir a paz (as feministas que me perdôem, mas pouco têm de modernas).
O romance HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) é resultado da cata aos metais, às pedras preciosas da literatura dramatúrgica grega. A dramaturgia antiga, seus multisentidos, os meandros enigmáticos da alma, os ritos secretos, misteriosos, da história humana, sugeridos nos enredos carregados de emoção do teatro grego.
As tragédias gregas expõem dois tipos principais de sofrimento: os decorrentes da paixão e os que derivam de uma imposição acidental atribuída ao destino. Como se os seres humanos não tivessem domínio de seus atos e suas vidas dependessem de forças que estão além de seu conhecimento consciente. Objetivo.
Os fenômenos parapsicológicos, neo-pós-modernos, nele (romance HOLOCAUSTO NUNCA MAIS...) narrados, são inspirados no coro da dramaturgia grega (534 a 388 a. C.) As manifestações destrutivas do inconsciente coletivo, funcionam como uma espécie de macroestrutura (macroestesia) provocando perturbações da sensibilidade, em decorrência das quais, os objetos passam a impressão de se revoltarem contra o domínio desumano de tudo e de todas as coisas.
O inconsciente coletivo, nesse romance, substitui o coro do teatro grego (coro sacro, profano, polifônico) provocando o desdobramento de ações dramatizadas, no mundo real, desencadeadas por forças inconscientes. Em "PSYCity", cada fonema estranho, cada dicção pronunciada pelos que querem desesperadamente mudanças, que nunca serão feitas, é evidenciado por membros mutantes da raça humana que não pretendem ser compreendidos: as crianças e os jovens.
Eles sabem: o poder está em mãos de quem jamais se interessará em promovê-las (as mudanças). As atualizações perceptivas de uma nova realidade emergente que não tem condições de adaptar-se às gestões de uma superestrutura caduca, deteriorada pela ferrugem das evidências mórbidas dos fenômenos destrutivos que provoca. E pelos quais vive sua economia de mercado.
Os membros das novas gerações não têm nada a dizer, simplesmente sabem que nunca serão ouvidos. Que adianta falar a mesma linguagem deles? Dos adultos que não tiveram outra experiência de vida senão viver com medo, alimentando ansiedades? Fazendo todos os tipos de concessões morais para manterem uma condição social de sobrevivência?
O romance torna inteligível para as pessoas, que o universo ultraconservador (neoliberal), dos que preferem ver o mundo deteriorar-se e acabar, do que contribuir para vê-lo mudar, é responsável pela erupção vulcânica das forças destrutivas do inconsciente.
Enquanto autor, pesquisar a transindividualidade das relações multisentidos, descer a caverna profunda do húmus da antigüidade, dos mestres primeiros, constituiu-se em ato vital da criação literária de HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity).
Objetivo: escalar a antigüidade em direção ao hoje, à atualidade da novalíngua, achar a expressão neo-articulada, idade chegada do neologismo vital, para a compreensão da abrangência neoneural, novuniversal.
Fazem parte do processo literário as muitas faces da criação: o fetichismo cultural passeia, passos largos, pelas páginas voluptuosas dos acontecimento como se num enredo de Borges. A sensual alma sensitiva das personagens vagam por labirintos cósmicos no cenário sobrenatural da História (vide capítulo O Exterminador Orbital Da Democracia Do Pós-Guerra & Cia. Da Gestapo Globalizada).
O leitor acompanha as personagens em sua viagem como se quisesse espontaneamente ser projetado pelos acontecimentos (não de todo ficcionais) em direção interior, longínqua, próxima à natureza extraordinária da Eternidade. Próxima à fenomenologia criativa inconsciente.
Conflitos armam-se no ferro do rancor, ódios despertam em caminhos ermos nas províncias das almas provincianas. Personas mal saídas da infância viram pó em mutações incompreensíveis. A impossibilidade do diálogo. A incomunicabilidade definitiva, intuída a partir dos filmes de Stanley Kubrick, Kurusawa e Michelângelo Antonioni.
A beleza transcendente das paisagens amazônicas do Mato Grosso. Os enigmas da determinação biológica da raça humana, sendo explorados para além das simplificações acadêmicas. "PSICity" faz plena justiça à vida urbana e subjetiva, pessoal e coletiva, de qualquer grande cidade nos dias de hoje. Denuncia a existência apenas virtual das pessoas: a ânsia, a fadiga diária de representações semoventes da não-existência, da existência aparente, que não cria possibilidades senão insignificantes de crescimento.
O romance revela a total inutilidade social das pessoas empenhadas na tarefa de conseguir condições coletivas menos nefastas à sobrevivência coletiva. Cada um e todos querendo meter os caninos na jugular de qualquer vizinho, desde que obtenham alguma vantagem com isso.
A cultura expõe os ressentimentos e mágoas, as pressões, interior e exterior, que diariamente se renovam. E envolve as pessoas, cada dia mais intensamente, num processo de perversão presente em conflitos familiares, de classe, profissionais, que as tornam incapaz de sequer pensar em mudar os paradigmas sociais impostos de cima para baixo e aceitos como válidos e inseridos no contexto de suas rotinas robotizadas.
HOLOCAUSTO NUNCA MAIS S/A VOCÊ.