A Prosa Poética Simbolista
O Simbolismo, reação ao Parnasianismo, conviveram no espaço cultural europeu em fins do século XIX e início do século XX. Nesse mesmo período no Brasil dominava a escola parnasianista, enquanto na Europa esse convívio conflitivo prenunciava a arte moderna preponderante no século vinte.
Em Portugal, teve início em 1890 com a publicação do livro “Oaristos” de Eugênio de Castro, no Brasil, em 1893, com a publicação de dois livros de Cruz e Souza, “Missal” e “Broquéis”.
Ciência e Razão são as duas palavras que resumiam as tendências da literatura e da filosofia na segunda metade do século XIX. Todos os fenômenos pareciam poder ser explicados a partir delas.
Havia a prosperidade material que as tornava como que “palavras mágicas” que justificavam o mundo das conquistas da burguesia. No final do século a “mágica” não era a mesma, e filósofos como Henry Bergson, Arthur Schopenhauer, e Soren Kierkegaard, estavam presentes enquanto motivação para os simbolistas europeus. Bergson destacava a intuição, o discernimento instantâneo e visionário, forma ideal de conhecimento do mundo. Schopenhauer via o mundo como vontade e representação da consciência humana.
A impossibilidade de conhecer o mundo, exceto algumas de suas representações particulares, afirmou as bases pessimistas de sua filosofia, para a qual a vida era sinônimo de sofrimento. A criação de arte para ele era uma saída. Kierkegaard afirmava a defesa da supremacia da subjetividade. Igual a Schopenhauer compreendia que o estado de angústia e desespero frente à impossibilidade de autoconhecimento, fazia do homem um pêndulo a oscilar entre o finito e o infinito, o micro e o macrocosmo.
A saturação das crenças racionais nas pesquisas científicas motivavam a crença na decadência da civilização e dos valores mecanicistas.
Nesse contexto surge o Decadentismo, origem, na França, do Simbolismo na década de oitenta do século XIX. Mais precisamente com Charles Baudelaire que com suas “Flores do Mal”, em 1857, traduziu o pessimismo e o subjetivismo vigentes que abriram caminho para a arte moderna.
Paul Verlaine, com seus “Poemas saturnianos” (1866), ampliou o influência de Baudelaire, quando enfatizou a musicalidade na construção da poesia: “A música está em tudo”, dizia: “A música acima de tudo”. Stéphane Mallarmé, com sua poesia “Um golpe de dados jamais abolirá o acaso”, sugeriu a idéia de que as coisas, os fenômenos, não podem ser descritos com precisão.
Arthur Rimbaud apregoava que “o poeta torna-se vidente através de um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos”. A poesia de Rimbaud sinônimo de inspiração da poesia simbolista e da arte moderna, sintetizou-se no livro “Uma estação no inferno”.
O Impressionismo na pintura de Claude Monet e na música de Claude Debussy, assim como alguns ensaios literários, derivaram do Simbolismo literário da poesia desses poetas, na França de 1866.
Na Paris do século XIX a literatura simbolista começou a se afirmar a partir de textos com menções inexatas de acontecimentos memorizados por seus autores.
Havia a presença de uma certa prolixidade na percepção e narração da realidade exterior. Por vezes a presença de uma “inteligência multiinterativa”, a tentar reunir em narrações inusitadas, universos pessoais paralelos, como se veria na literatura de Marcel Proust: “A la Recherche du Temps Perdu”.
A prosa poética, assim como a poesia simbolista, pode ser considerada o zunzunzum mais pertinente, alusivo aos conteúdos até então intraduzíveis do nível inconsciente da psique. O inconsciente até então era uma zona inacessível para a literatura: estava fora do alcance da razão. Para atingir essa finalidade, alguns autores simbolistas retomaram algumas variações dos padrões narrativos românticos.
Sigmund Freud desenvolvia, no final do século XIX, mesma época do surgimento da melhor prosa poética simbolista, pesquisas científicas que culminariam com a Psicanálise. A arte literária simbolista estava, talvez, mais próxima das definições de inconsciente pessoal, familiar, e coletivo de outro psicanalista (este rompeu com Freud), o suíço Carl Gustav Jung.
Os simbolistas viam o mundo através de uma ótica multidimensional mística, plurisignificativa. Usavam o espiritualismo enquanto vocabulário litúrgico. Celebravam a vida não como um ritual rotineiro, repetitivo, mas como uma maneira de renová-la através da liturgia da palavra. Da celebração de uma nova espiritualidade, que saísse da gaiola da hierarquia cristalizada das fixações religiosas, eclesiásticas, ascéticas, dogmáticas, do Vaticano. E quejandos. Os quelelês não mais interessavam a seus autores, exceto enquanto experimentalismo da palavra, do discurso poético paraprosaico.
As imagens poéticas dos simbolistas, supostamente vagas e imprecisas, transcendiam o sentido clássico, barroco, romântico, realista, naturalista. As escolas de samba aristotélicas, pitagóricas, socráticas, peripatéticas foram visualizadas a partir de um ponto de vista (simbolista)que inaugurou antecipadamente o modernismo.
O Simbolismo preludiou a arte literária de uma nova sugestão perceptiva do mundo, atualizada com as descobertas mais recentes das experiências com partículas atômicas da Física. O Simbolismo iniciou, em inusitadas bases criativas, o exercício interminável da compreensão e da interpretação pertinente aos meandros labirínticos da alma humana.
Uma nova linguagem se fazia necessária para exprimir as novas descobertas desse mundo interior de significados nunca dantes navegados. A linguagem simbolista criou-se da vontade ?nietzschiana? de superação das limitações das outras linguagens: das locuções antiquadas, atreladas à formas de expressão que não queriam nem podiam nada mais, devido a suas limitações genéticas, atávicas, senão perenizar as antigas formas de mundividências.
As linguagens anciãs não poderiam questionar as velhas estruturas do agir e do pensar. O Simbolismo criou a possibilidade de uma nova elaboração de significados a partir da linguagem existente.
Os conluios, os antigos projetos de linearidade vocabular começaram a ser pertinentemente desconstruídos pelas projeções, sem projetos, das criações de poetas, prosadores inusitados, trazendo para a literatura, as combinações inusitadas, saindo do tatibitate das categorias taxonômicas de mumificação das palavras e de seus significados:
Neologismos, sinestesias, sensações musicais, odores de carnes recém-nascidas, violinos violando volições de omoplatas que mutam em asas para escapar da prisão do útero infectado dos dicionários e de seus significados emoldurados nas fotografias cristalizadas dos sorrisos mumificados do inconsciente familiar das pessoas da sala de jantar.
Os odores salgados dos xibius frios da poesia dos “Missais” de Cruz e Souza. As mulheres simbolizadas, e seus “Broquéis”, seus bacalhauzinhos indefesos diante do dinheiro através do qual se davam às estações no inferno, nas quais se submetiam, e submetem, à vontade insaciável de prostituição coletiva da burguesia em seus “psycho motéis”.
A burguesia populista sempre esteve interessada em fazer feder a sociedade, submetendo-a a seus interesses sepulcrais. “A burguesia fede e quer ficar rica”.
As amarguras floridas como feno em flor brotando dos grotões das sepulturas das garotas de programa atuais, vivas, quase mortas, soro positivas. Tantas já se foram. A aliteração e a assonância de Eugênio de Castro e, outra vez, Cruz e Souza. A agonizante submissão aos missais dissimulados do tédio à Cazuza:
A transcendência mórbida de uma sensualidade sujeita à realidade de uma religiosidade de motel. A uma educação universitária equivalente à quintessência da 5ª série do ensino elementar. E todos, docentes e discentes, parecem absortos numa morbidez passiva que os faz aceitar. Ahh! Sei, Tá. Em última instância. Depois de se virar, como naquela musiquinha popular, A seita vai te salvar, garota crepuscular, ou o vampiro. Namorado.
Sepultaram toda uma geração nos festivais da micarina. Enquanto alguns políticos disputam as verbas públicas como se fossem ativos financeiros particulares. É o carnaval macabro da ditadura que ainda não terminou. No Piauí, Ainda hoje um candidato a vice-prefeito, filho de um ex-governador/interventor, posto na política pelos generais da ditadura, quer ser eleito às custas da molecagem de um senador populista sem nenhum valor político, ético, social. Moral.
O Simbolismo precisa de uma atualização de suas personagens. A literatura simbolista no Brasil apenas começou?