Modernismo brasileiro: uma evolução literária
Desde a chegada do Modernismo no Brasil após o desdobramento da Semana da Arte Moderna em 1922 muitos escritores se estabilizaram como grandes literários, seja na prosa, na poesia, no conto e, em alguns casos, na música popular brasileira, como Vinícius de Moraes, fazendo uma grande mudança no quadro literário brasileiro.
A divisão da literatura moderna nacional se deu por motivos sociais, tendo cada etapa um contexto diferenciado, uma vez que a situação social e política, de então, foi formando uma pluridimensionalidade poética e prosaica, tanto na formação estrutural quanto nos assuntos abordados, desde a época do Pré-Modernismo, em que se percebem as características nacionalistas, que não davam conta das mazelas que a sociedade passava. Destacaram-se, nesta fase, Rui Barbosa e Coelho Neto, que fizeram de seus escritos uma maneira de transmitir a visão conservadora que possuíam, caracterizando a sua altivez pela pátria. Não obstante, a segunda fase pré-moderna agiu adversamente à primeira, dissertando sobre os vários problemas sociopolíticos da época, cujos escritores – como Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha - foram contornando as características do Modernismo.
A literatura modernista teve um caráter diferenciado na sociedade brasileira. Esta última via, distintamente, no decorrer do desenvolvimento artístico, a situação política em que a mesma e o restante do mundo se encontravam. Passando por três etapas diferentes, o Modernismo delineava-se, em primeira instância, por um nacionalismo desenvolvido através de uma revisão crítica da história colonial brasileira, tornando o índio, o mestiço e o europeu, residente no Brasil, personagens importantes na prosa da época. Logo, valorizava-se uma visão interiorana, definindo o mosaico cultural que o Brasil recebia aos poucos. O próprio Mário de Andrade, ao escrever Macunaíma, discorre sobre essa miscigenação étnica, apresentando, de certo modo, os costumes de uma tribo de índios negros do interior amazonense.
No entanto, com o processo evolutivo na visão da sociedade, houve um aumento da criticidade ao segregacionismo socioeconômico, visto a partir de um retrocesso político. O Brasil passava por um momento histórico importante, em que o período democrático foi sendo destrinchado, sendo posto de lado pela ditadura de Getúlio Vargas, colocado no poder após a Revolução de 1930; no âmbito mundial, assistia-se a eclosão da Segunda Guerra Mundial, separando o mundo em dois grandes grupos, o capitalista e o comunista. Tanto na poesia quanto na prosa, o Modernismo passou a descrever esse momento “neurótico”, transpondo a violência e as guerras através de uma tomada de consciência da realidade mundial. Assim, a literatura foi se delineando por meio de um feitio neorrealista, que passava a transformar as políticas do século XX, essencialmente o marxismo, em um manifesto às suas preocupações.
Deste modo, é perceptível, também, a constituição de um regionalismo na prosa dessa que é a segunda fase modernista, tendo se iniciado com o lançamento de A bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928, e prosseguindo com autores, como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Érico Veríssimo. É de praxe observar neste momento a exposição dos diversos problemas que abatem o Brasil, como o problema da seca, da luta pela terra, o êxodo rural, entre outros. Um exemplo dessa exposição se encontra nas obras de Rachel de Queiroz (1910-2003), cujo principal romance O quinze sintetiza o drama da seca e da difícil manutenção das fazendas, devido à árdua resistência do gado no sertão.
Na poesia também houve esse comportamento universalista e os poetas articulavam a sua preocupação com o mundo, devido aos estragos originados pela guerra. Quem melhor discorre sobre esse tema é Carlos Drummond de Andrade, autor de A Rosa do povo, em que condena a utilização da agressividade e da destruição para o desenvolvimento econômico.
A partir da década de 1940, período do pós-Segunda Guerra Mundial, da ocorrência da Guerra Fria, da divisão de blocos econômicos (principalmente entre os Estados Unidos e a então antiga União Soviética), da instauração do período militar no Brasil depois da Era Vargas, aconteceu uma mudança na poesia e na prosa nacional. Mesmo com a existência da preocupação com os problemas que assolavam o mundo inteiro, ocorreu uma redução sobre esse tema em analogia à elaboração de textos que deram ênfase aos significantes, afirmando que a maneira mais eficiente de explorar os enigmas sociais era através do enriquecimento do algoritmo literário. Excelentes escritores nesse perfil foram Guimarães Rosa, que criou regionalismos diversos, e Clarice Lispector, que possuía modo original de escrever.
Sendo assim, a literatura foi recebendo diferentes concepções na arte textual, surgindo novas tendências que mudaram o aspecto de ver a sociedade. Essa liberdade, consolidada no século XX, teve como principais expoentes os irmãos Haroldo e Augusto Campos, e Décio Pignatari, criando uma nova escola literária: o Concretismo. Essa arte concreta divide-se em dois momentos: o primeiro, em que são relevantes os poetas João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, se fundamenta no cuidado no artifício de escrever, cujos temas vãos desde a aflição do indivíduo até a dificuldade de vida no campo e na cidade; o segundo, em que se destacam os seus criadores, propõe uma preocupação com o código linguístico e esse recebe diversos significados.
Essa mudança literária ajudou na formação de duas outras convergências poéticas: a Poesia-Práxis, criada por Mário Chamie, e Poema-Processo, por Wlademir Dias Pino. O estabelecimento dessas disposições literárias cultivou ainda mais o radicalismo no método da exploração das palavras, a fim de explorar a sugestão apresentada pelos significantes.
Por conseguinte, pode-se dizer que essa diversificação na criatividade da literatura brasileira tornou possível, a partir do Modernismo, tanto nas estruturas como nos temas poéticos e prosaicos, o crescimento de gerações que tendessem a diferençar-se no quadro da cultura brasileira e, desta forma, a auxiliar na construção de novas figuras literárias de grande renome, seja em âmbito nacional como internacional.