Análise binária dos poemas “Canção do Exílio” – Gonçalves Dias com “Canção do Exílio às Avessas” – Jô Soares.

Palavras-chave: intertextualidade, leitura, conhecimento prévio.

Muito se ouve falar em dificuldades de leitura. Um dos problemas que pode acarretar essas dificuldades é a falta, por parte do leitor, de um conhecimento de mundo que o faça reconhecer em um texto a presença de outro, e até mesmo, reconhecer a intencionalidade do autor ao trazer para o seu texto outras fontes. A palavra intertextualidade significa interação entre textos, um diálogo entre eles. A intertextualidade ocorre quando um texto remete o leitor a outro para defender as idéias nele contidas ou para contestar tais idéias, e pode ocorrer de forma implícita ou explícita. Na forma implícita pode ser caracterizada por paráfrases, paródias, etc. Na forma explícita caracteriza-se por epígrafes, referência e alusão, citação entre aspas. Este trabalho trata sobre a intertextualidade entre os textos “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias e “Canção do Exílio às Avessas” de Jô Soares. O primeiro texto é revestido de um expressivo cunho nacionalista, exalta a natureza brasileira e a pátria. O segundo é uma sátira à era Collor, na qual o país passou por profundas mudanças políticas. A intertextualidade tem grande importância na leitura destes dois textos, pois tendo um conhecimento prévio da obra a qual esta sendo feita alusão, torna-se mais fácil o entendimento da idéia que está sendo exposta e ainda é possível na relação dos dois textos perceberem o cunho irônico dado por Jô Soares ao se utilizar do texto de Gonçalves Dias. Este trabalho tem por objetivo fazer uma leitura dos dois textos, identificarem suas consonâncias e suas divergências e explicitar os mecanismos intertextuais usados por Jô Soares para atingir o significado irônico já denunciado no título de seu poema: “Canção do Exílio às Avessas”.

- Análise binária dos poemas “Canção do Exílio” – Gonçalves Dias com “Canção do Exílio às Avessas” – Jô Soares.

COMENTÁRIO

A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, é o mais conhecido e parafraseado e parodiado (reescrito com intenção de satírica) poema romântico. Nele transparece a idealização da pátria através da natureza, flora e fauna (palmeiras/sabiá), com simplicidade nas construções cria rimas até com palavras monossílabas (lá, cá etc.), e um ritmo, uma melodia, que de poema passou a ser considerado uma espécie de hino. Hino à nacionalidade à natureza, a nostalgia que se sente quando se está longe da terra natal. A saudade da terra, tema da Canção do Exílio, além de romântica é predominantemente nacional no sentido em que expressa contradição entre a necessidade de se sair para conhecer a “civilização”, e a necessidade de retornar, para não perder as raízes, a consciência de que se tem um chão.

Poliglota, inteligente e versátil, Jô Soares esbanja bom humor e sempre brinca: ''Sou um gordo exibido''. Mas sua carreira é, sem dúvida, um destaque em todos os campos nos quais se enveredou.

Nos anos 60, esteve envolvido com artistas plásticos de São Paulo em um movimento classificado como Underground. Influenciado por grandes nomes norte-americanos, como Liechtenstein e Rauchemberg, e pela Arte Pop, Jô participou da 9ª Bienal de São Paulo e foi premiado em salões de Campinas em 1967 e 68. Em 1995, Jô se enveredou no mundo dos best-sellers. Já tinha escrito dois livros anteriores, mas foi com O Xangô de Baker Street, seu primeiro romance, que o escritor figurou na lista dos mais vendidos e foi traduzido em oito línguas. Três anos depois, repetiu o sucesso com O Homem que Matou Getúlio Vargas. Em 2005, tenta repetir os números estrondosos de vendagem com Assassinato na Academia Brasileira de Letras.

No poema de Jô Soares, o tema não é mais a “terra” tão querida de Gonçalves Dias, e sim a famosa casa da “Dinda” simbolizando o ambiente no qual a mídia explorava e referenciava como o ir e vir do então Presidente Fernando Collor de Melo. Jô Soares busca inspiração neste momento histórico, e parafraseando satiricamente, constrói um texto na base da Canção do Exílio, através do ritmo e da melodia que todos os versos e estrofes expressam, verifica-se que o novo texto quando lido percebe-se logo sua origem, até os leigos dos clássicos da literatura brasileira conhecem alguns versos da Canção do exílio. O autor tece com tão grande maestria que usa e transforma versos (Minha terra tem palmeiras em Minha Dinda tem cascatas), ressaltando as aberrações e exuberâncias da vida privada do ex-presidente Collor. Um ponto interessante nos poemas é o fato de Gonçalves Dias na Canção do exílio enfatizar sua vontade de retornar à sua pátria Brasil (Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte lá) enquanto o poema de Jô Soares, repetidas vezes utiliza o verso “Não permita Deus que eu tenha de Voltar pra Maceió”, a partir da 2ª estrofe. Sabemos que Maceió é a Cidade natal de Collor, e o Jô em nenhum momento utiliza o nome do Estado de Alagoas.

Sônia Martins
Enviado por Sônia Martins em 28/12/2008
Reeditado em 09/05/2019
Código do texto: T1357131
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