1003 - Há uma diferença abissal entre “cozinhar” e “fazer comida”!
A gastronomia é uma arte vasta, que nem sempre se utiliza do calor para a preparação de um prato! Via de regra, generalizamos o que fazemos na cozinha, com o ato de cozinhar, mas a verdade é que “cozinhar” é o ato da cozedura, ou o mesmo que a prática de preparar o alimento através de uma fonte de calor, que pode ser por meio de fogo, micro-ondas, solar, dentre outras...
Eu adoro fazer a minha própria comida, e confesso que prefiro mil vezes o meu feijão com arroz e bife, do que o faisão servido no restaurante. Não que eu não goste do exótico, ou ainda que minha preferência seja pelo mais simples; mas quando eu enxergo o ingrediente, seja na minha dispensa, seja na minha geladeira, de imediato vislumbro um sabor, um prato, uma experiência única de libar algo intrinsicamente meu, sem chance para qualquer traço de egoísmo, porque o melhor da alquimia da culinária, é o prazer da companhia...!
Não lembro qual foi o primeiro prato que eu fiz, mas rememorando, acredito que a primeira vez que fui a cozinha preparar algo, ocorreu há uns 35 anos; mas a minha primeira experiência culinária que lembro, foi no dia em que abrir a geladeira e vi uma bandeja de ovos, um pedacinho de toucinho e uma garrafinha de molho inglês, cebolinha; e disso tudo, tentei fazer algo que assemelhasse a Ovos Beneditinos, pelo menor na minha cabeça...!
Desde aquela experiência fracassada de Ovos Beneditinos, que na verdade saiu “Ovos Henriquianos”, eu nunca mais quis parar de tentar aprender a cozinhar e a fazer melhor a minha, a nossa comida!
Nunca fui, nem nunca me vi no papel de “chef”, muito menos cozinheiro! Sempre fui e sempre serei um “curioso” que se permite errar muito, para acertar; mas me orgulho de pouquíssimas vezes nesse tempo de “vida culinária experimental”, ter errado ao ponto de ter que jogar fora a minha criação! Meus excessos são comigo mesmo, quando explano e integro a teoria e a prática de um prato que quero fazer, e sempre que posso, evito ler manuais.
Por tantas veredas que me permiti conhecer pelo Mundo, aprendi às duras penas a não ser preconceituoso com tudo que se pode matar a fome. Tive que me permitir encarar receitas, especiarias e ingredientes estranhos na África e Ásia, como por exemplo, comer fígado fresco de boi, com zátar e pão no café da manhã, para não citar outros pratos mais ortodoxos que já provei em determinadas culturas.
Na minha dispensa pode faltar muita coisa, mas eu sempre crio um prato depois que enxergo as especiarias do meu empório particular, e nunca elaboro um prato por coação! Quando enxergo o cominho, as pimentas, salsa, coentro, cebolinha, um tanto de outras ervas aromáticas, os corantes naturais, dentre outros; começo a pensar em qual tipo de carne eu vou aplicar aquela composição que me veio à mente; e quando decido entre carne branca ou vermelha, de imediato eu já imagino a quantidade de sal, alho, cebola, enfim; o prato já está praticamente pronto; e é por isso que eu falo que há uma distância abissal entre cozinhar e fazer comida!
No meu dia a dia, faço tudo que eu adoro comer! Compro muito peixe salgado, que simula bacalhau e faço inúmeros pratos bem econômicos e saborosos, abusando do uso das azeitonas e do azeite de oliva de boa qualidade. Quando tem promoção de cordeiro, sempre compro e o faço cozido ou assado. Adoro fazer cuscuz marroquino, substituindo a fécula de trigo por fécula de milho. Virei especialista, como milhares de outros, em feijoada bem “a minha maneira”. Sou amante inveterado das carnes de aves, e delas faço muitos guisados ou simplesmente, na brasa; e o que eu mais amo comer, que é carne de segunda cozida, seja com o que for para acompanhar!
Um bom corte de maçã de peito, com o mínimo de gordura, bem temperada; e cozida até podermos desfiar com o garfo, pode ser degustada com pão, com farinha, com arroz, com salada, com macarrão. Pode ser acompanhada por uma cachaça, suco, cerveja, vinho, uísque; e também, quando bem elaborada, pode ser lembrada para sempre como uma experiência única da sua memória ocular, olfativa e gustativa...
Não tenha medo! Experimente! Flagele a sua capacidade criadora! Tente, tente mais, e observe que você consegue fazer o prato que “lhe der na telha”; e se não achar que ficou bom, tente outra vez!
Se não tiver com quem dividir a sua experiência, me convide!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires