GASTRONOMIA E SEDUÇÃO
É inegável o prazer que a comida proporciona. E este prazer é um dos fatores mais importantes da vida depois da alimentação de sobrevivência. A gastronomia nasceu da idéia desse prazer e se constituiu como a arte de cozinhar e associar os alimentos para deles retirar o máximo proveito.
A gastronomia é uma cultura muito antiga e esteve na origem de muitas e importantes transformações políticas e sociais. A alimentação em geral, passou por várias etapas ao longo do desenvolvimento humano.
O homem nômade caçador evoluiu para o homem sedentário que aprendeu a importância da domesticação dos animais e do uso da agricultura. Essa fixação à terra provocou um aumento demográfico em determinadas áreas e consequentemente um esgotamento rápido de recursos, obrigando a migração e a exploração de novos locais.
A diversidade proporcionada pela abundância de alimentos próprios de cada localidade, instigou a curiosidade cada vez maior pela novidade e pelo “exótico”. O homem sentiu então necessidade de complementar a sua dieta com alimentos que não havia no local onde se fixara, o que deu origem ao comércio, que foi levado a cabo por alguns homens que continuaram nômades para que muitos outros pudessem se fixar à terra.
O homem viajante, ou seja, o então comerciante, não só levava consigo aquilo que faltava, como introduzia novos alimentos e novos costumes por onde passava, criando necessidades e dependências cada vez maiores em suas peregrinações o que levava à uma expansão vertiginosa nos seus negócios.
Muitas guerras aconteceram pela apropriação indevida de recursos alimentares, que de uma forma geral são escassos em determinadas regiões e que determinam o poder para quem domina a gestão desses recursos.
Todos já ouvimos falar da busca incessante pelas “especiárias” principalmente, quando a Europa entra na fase dos Descobrimentos Marítimos cujo móvel principal é o controle da rota das especiárias.
A humanidade , muito cedo, conheceu e se valeu das virtudes da associação de certas plantas aromáticas aos alimentos para lhes exaltar o sabor e contribuir para a sua conservação, permitindo o uso mais prolongado e mais saudável dos diferentes produtos alimentícios que estavam ao seu alcance, percebendo também , as propriedades afrodisíacas de alguns alimentos.
O culto dos prazeres da mesa não param por aí, chegamos hoje, ao ponto de elaboração de estudos mais sofisticados e aprimorados com o intuito de se descobrir e introduzir novos e curiosos alimentos ao mercado ou melhor à mesa, não o alimento tradicional de subsistência mas sim novos produtos visando a sedução do consumidor, pelo seu aspecto exterior e seus sabores específicos e afrodisíacos, explorando o erotismo contidos no prazer proporcionado por determinados tipos de comidas.
Sabe-se que o chocolate estimula a produção de endorfina, a “quimica da felicidade”. O gengibre, por sua vez, é vasodilatador, o que dá a sensação do sangue correndo rapidamente pelas veias que aquece todo o organismo, provocando alguns “excitantes calores”. No entanto, o empenho, o cuidado, até mesmo a malícia no preparo de um prato é o que faz a diferença no paladar e nas reações que se espera de quem é servido.
Apesar de todas as pesquisas voltadas para este novo e diferenciado mercado de consumidores, percebeu-se cedo que o que faz um prato ser afrodisiáco é muito mais a intenção no seu preparo do que nas propriedades dos alimentos em sí.
Na verdade o erotismo na gastronomia não está apenas nos pratos servidos com os devidos temperos e ervas ditos afrodisíacos, mas e principalmente na intenção de quem os prepara, serve e na maneira como os serve.
Fiz apenas uma rápida e superficial viagem, desde a origem da gastronômia convencional ,seu desenvolvimento e importância até os dias atuais e sua gradual e sutil evolução com o claro enfoque de investimentos cada vez mais voltados para uma gastronômia afrodisiaca, explorando e expandindo o mercado do “erotismo alimentício” que se vale desde ervas naturais, temperos e condimentos até alimentos dos mais variados e inusitados, com a promessa de prazer e sedução à mesa.
Apesar do mercado gastronômico afrodisíaco encontrar-se em clara expansão, o erotismo implícito no preparo e na disposição dos pratos e o prazer proporcionados por estes alimentos estão mais nos sabores e nas sensações experimentados pelas pessoas quando há uma pré-disposição de seduzir e de se deixar seduzir, do que propriamente na comida dita afrodisiaca.
É claro que um bom vinho, uma determinada erva aromática colabora nas reações do organismo, porém o clima excitante que se cria num almoço ou jantar à dois, se deve muito mais à sutileza da sedução de cada olhar, de cada gesto e até mesmo no modo que se mastiga cada alimento, que se seca a gota do vinho que escorre discretamente pelo canto da boca do que na comida em sí. São estes pequenos detalhes que tornam eficazmente afrodisiaca uma “inocente” refeição.
Com tudo que se tem investido e pesquisado nesse promissor campo gastronómico, observa-se que não se mede o prazer e as sensações pelo que se consome, mas sim pelo clima que se forma ao redor da mesa quando os pratos ditos afrodisiacos exalam seus deliciosos aromas, porém, juntamente com os aromas e perfumes da cumplicidade, do amor e do desejo exalados pelas pessoas que se reunem ao redor dessa mesma mesa, cuja intenção principal, mais do que se alimentar,é realmente de... seduzir.
bon appétit