ESTUDO PROFUNDO SOBRE A ALIMENTAÇÃO ANIMAL

Eu sou do tempo em que se dava os restos de comida aos cachorros. Não tinha esse negócio, aliás, um negócio extremamente lucrativo, de ração e todo o enorme aparato criado para animais domésticos.

Eu fico pasmo com a quantidade de produtos para animais domésticos. Rações com sabores diferentes, tosas especiais para os pets ficarem mais bonitinhos, tratamento psicológico, dentário...

Mas o cachorro e o gato pouco se importam se a sua ração é de peixe ou de boi. Somente o idiota do dono é que acha que estará fazendo a vontade do bicho dando esses mimos extremados à cachorrada.

Lembro-me do meu tempo de criança, das propagandas da ração de nome ‘Bonzo’. Até o slogan ficou na minha memória: ‘Bonzo não é ração, é refeição’. Brincávamos na escola com esse slogan do Bonzo.

A merenda servida era uma sopa de carne de soja que se parecia muito com a ração para cachorro, era a nossa refeição da época, digo, ração.

Ainda minha infância, década de 1980. Fecunda década, coisas pitorescas não faltavam. Afora o doce sabor de ser menino, de ser livre, de não se preocupar com merda nenhuma, nem trabalhar, era só brincar o tempo todo. Brincar e namorar as meninas, haverá coisa melhor nessa vida?

Mas o tempo se passou. E ao contrário do que se pensa comumente, ou melhor, grosseiramente, a evolução não está necessariamente atrelada à modernidade.

Continuamos tão humanos quanto os primeiros seres das cavernas. Nossos pontos fatais na vida são os mesmos, sempre nossos sofrimentos, angústias e desesperos estão ligados às questões do afeto, do dinheiro e da saúde.

Pense bem em você mesma, minha queridíssima leitora, e pense também nas pessoas que te cercam e todo mundo. Repare nas queixas recorrentes, todas, de uma forma ou de outra estão ligadas a esse tripé demasiadamente humano. Haverá outras coisas, mas são subprodutos dos três pontos fatais humanos. O sexo, por exemplo, está ligado ao afeto.

A questão profissional, a falta de perspectivas e de realização de sonhos de consumo está toda ligada à falta de dinheiro, e quem não tem uma dor de cabeça na vida? Uma dor de ouvido, de dentes... Quem não conhece alguém que já morreu de câncer? Aquele amigo viado que morreu de AIDS?

É a vida humana, senhoras e senhores, necessariamente trágica; com seu desaguadouro na nossa inevitável morte. Seremos adubo, comida de vermes. Esse nosso corpo cheiroso e gostoso, desejável, comestível, vai virar uma paçoca de carne podre e fedorenta. Mórbido eu, não?

Mas voltemos aos cachorros, chega de filosofia. O leitor brasileiro não é muito afeito a maiores reflexões. Nós, os filósofos, temos que ‘pegar leve’ com vocês. Senão não rola nada.

Mas vá lá, os cachorros.

Falava eu sobre que a evolução não está necessariamente ligada ao passar do tempo, ou seja, hoje não somos mais evoluídos do que os medievais, por exemplo. Eu digo que não. Não somos.

Digo isso por que certa vez postei aqui neste Recanto um texto, friso, literário, no qual eu assassinava um cachorro com uma panela de feijão fervendo.

As reações dos defensores da moral e dos bons costumes foram imediatas. Tanto que foi o único texto meu que os administradores do Recanto me mandaram retirar. Diziam que eu fazia ‘apologia à violência contra os animais’. Uma babaquice sem tamanho.

Já matei gente aqui, literariamente; humanos foram por mim assassinados. Mas não causou nenhum frisson a minha maldade contra nossos semelhantes e irmãos. É que a moçada do politicamente correto geralmente elege a categoria de incapazes que vão defender. Animais, meio ambiente, minorias e toda a babaquice generalizada do século, clean, XXI.

Às vezes me sinto saudoso da fumaça dos cigarros que eram fumados por quase todo mundo na década de 1970. Mesmo detestando e achando incrivelmente fétida a tal fumaça, as pessoas eram muito menos babacas, os produtos do mercado não tinham validade e muito menos as bactérias que iriam deteriorá-los sabiam quando já era hora de fazerem o seu serviço.

E os cachorros comiam arroz com feijão, se sobrasse, além de levarem uns bons pontapés de seus donos bêbados.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 28/04/2011
Reeditado em 28/04/2011
Código do texto: T2936729
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