Mito da Caverna de Platão

INTRODUÇÃO

Tenho como projeto deste ano de 2025, escrever sobre o filme “Matrix”.

Enquanto, mais uma vez, assistia ao filme, entendi a necessidade de preparar, embasar o texto sobre o filme “Matrix”, com outros três artigos: Este, apesar de muito divulgado “Mito da Caverna de Platão”; “Maya É Ilusão?” “; e “Mundo Perceptível e Mundo Oculto”, já publicados.

Justifica-se essa necessidade, devido à abordagem que dar-se-á ao texto sobre o filme e pela temática contida nesses três, estar relacionada ao mundo relativo, percebido pelos homens e o mundo absoluto, real – a realidade.

Para melhor entendimento sobre o mito criado por Platão e desenvolvido em um dos dez livros, que constitui a obra “A República”, se faz necessário discorrer, apesar de muito pouco, sobre Platão, suas ideias e sua obra.

Assim, julgamos como satisfatória organização, para desenvolver o texto “O Mito da Caverna de Platão”, a seguinte: Introdução; Um Pouco Sobre Platão e Sua Obra; Algumas Ideias de Platão; A Narrativa da Alegoria da Caverna;

UM POUCO SOBRE PLATÃO E SUA OBRA

Platão (428 a.C – 348 a.C), de verdadeiro nome Aristocles, nasceu, viveu e morreu na cidade-Estado de Atenas, hoje a capital da Grécia. O nome Platão foi dado ao pensador, ainda em sua juventude, por causa de seus ombros largos, que tem o termo grego “platon” como correspondente.

Um dos mais importantes filósofos da Grécia Antiga. Filho de família aristocrática, de excelente condição financeira e influente na política da Grécia democrática. Em sua juventude, viveu a democracia ateniense e depois, a decadência da Grécia, sob a tirania oligárquica espartana.

Aos 30 anos de idade, Platão conheceu o pensador Sócrates, que foi o seu mestre iniciador na Filosofia, mentor intelectual e amigo. A maioria dos escritos deixados por Platão forma os chamados diálogos socráticos, que são narrativas em que Sócrates é a personagem principal e porta-voz das ideias de Platão.

Esses diálogos socráticos falam de um determinado tema. Foram muitos os temas tratados: Sócrates; coragem e heroísmo; sabedoria; mentira, caráter; beleza e arte; retórica; bem e amor; constituição metafísica do homem, alma e reencarnação; política; e gestão da cidade.

A “República”, que pode ser considerada a primeira utopia política do Ocidente, foi escrita, mais ou menos, por volta de 380 a.C.

A obra é dividida em dez livros, todos escritos nessa forma de diálogos, em que Sócrates é o principal protagonista. Por meio desses diálogos, Platão apresenta as suas teses sobre diversos temas.

Em “A República”, Platão apresenta a busca de Sócrates por uma forma de governar ideal, que atenda a todos. O longo diálogo narra a trajetória de Sócrates buscando estabelecer, teoricamente, como seria o governo perfeito. Esclarece o que é a Justiça em si, apresenta: formas de governo duma cidade; a divisão dos poderes; e os tipos de caráter, que devem predominar entre os ocupantes de cargos públicos. Afirma que o conhecimento é o elemento primordial de um bom governante.

Uma das mais divulgadas e comentadas passagens de “A República” está localizada no livro VII, no qual Platão apresenta a sua Alegoria da Caverna, o Mito da Caverna de Platão.

ALGUMAS IDEIAS DE PLATÃO

Imanência e Transcendência

A imanência está ligada à realidade material, apreendida imediatamente pelos sentidos do corpo e refere-se a algo, que tem em si próprio seu princípio e seu fim.

A transcendência está ligada à realidade imaterial, de natureza metafísica, puramente teórica e racional e faz referência a algo que possui um fim externo e superior a si mesmo.

Na constituição metafísica do homem de Platão, o Corpo representa a Imanência e a Alma, a transcendência

Idealismo – Mundo das Ideias e Mundo Sensível

Segundo Platão, todo o conhecimento, toda a verdade, todas as relações e todos os seres existiriam, verdadeira e imutavelmente, em sua forma ideal, que seria suprema e verdadeira.

O conhecimento ideal estaria, segundo o filósofo grego, no Mundo das Ideias, estância metafísica racional, que só poderia ser alcançada pelo intelecto do homem.

Aquilo, que conhecemos por meio de nossos sentidos corpóreos, o Mundo Sensível, seria apenas ilusões causadas por nossos órgãos, portanto, um conhecimento inferior e enganoso.

As coisas, que percebemos pelo Mundo Sensível, são apenas imitações das formas perfeitas no Mundo das Ideias.

Por exemplo, o objeto que vemos na realidade é apenas uma cópia imperfeita da ideia perfeita desse objeto no Mundo das Ideias, a forma da verdadeira realidade.

A NARRATIVA DA ALEGORIA DA CAVERNA

Essa narrativa foi construída na alegoria existente no livro VII de “A República”, de Platão.

Diálogo entre Sócrates e Glauco em que Sócrates cria a alegoria com hipóteses e suposições e Glauco participa passivamente, concordando com Sócrates.

Uma caverna é habitada por seres humanos. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo, que não esteja diante deles.

Vivem como prisioneiros. O único mundo que conhecem é aquele de sombras, que enxergam projetadas na parede da caverna, dos sons produzidos pelos outros prisioneiros e do eco, que parece vir da parede da caverna.

Sombras produzidas pela luz que vem de um fogo, que queima por trás dos prisioneiros ao alto, sobre a parte de objetos diversos, que se movimentam e ultrapassam a altura de um muro. Esses objetos são transportados por homens, que se movimentam ao longo desse muro transversal ao caminho de subida existente entre os prisioneiros e o fogo.

Esse muro, os homens e os diversos objetos transportados, inclusive estátuas, funcionam como o tapume, acima do qual artistas manipulam e encenam marionetes, para que o espetáculo possa ser apresentado.

Os homens feitos prisioneiros na caverna não percebem a luz, nem os homens e objetos transportados, que causam as sombras. Eles escutam vozes e outros sons e imaginam que são originados das sombras projetadas.

Repentinamente, um dos prisioneiros se liberta. Andando pela caverna, ele percebe que havia pessoas e uma fogueira projetando as sombras, que ele julgava ser a totalidade do mundo. Ao encontrar a saída da caverna, tem um susto ao deparar-se com o mundo exterior. A luz solar ofusca a sua visão.

Aos poucos, sua visão acostuma-se com a luz e ele começa a perceber a infinidade do mundo e da natureza que existe fora da caverna. Durante a noite, ele poderá contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais facilmente que durante o dia, para o sol e sua luz.

Ele percebe que aquelas sombras, que ele julgava ser a realidade, na verdade são cópias imperfeitas de uma pequena parcela da realidade restrita à caverna. Percebe que àquela realidade restrita à caverna está muito aquém da imensa realidade percebida durante o dia e noite além da entrada da caverna.

Triste por seus companheiros, reféns de sua ignorância sobre a realidade, decide retornar a fim de libertar seus irmãos das correntes, para que tenham a mesma experiência. Mas, ao narrar sobre a ampliação de sua percepção da nova realidade que vislumbrou, foi rejeitado e reconhecido como louco.

No diálogo Sócrates com Glauco, Sócrates: “Suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir do ambiente luminoso fora da caverna? E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam?

INTERPRETAÇÃO DO MITO DA CAVERNA

Os prisioneiros da caverna simbolizam a humanidade, ou seja, humanos que vivem nesse mundo percebido, na linguagem platônica, dentro dos limites da Imanência, ou do Mundo Sensível.

A caverna é o nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.

As sombras e ecos, projeções distorcidas da realidade, captadas por nossa percepção. De forma mais contundente, trevas da ignorância, que nos tornam “prisioneiros de caverna”, expressa das mais diversas formas: preconceitos; obsessão ao poder; alienação; fanatismo; violência; idolatria; despotismo; desamor; submissão; sadismo; masoquismo...

Sair da caverna significa ir à busca da verdade sobre si sobre os reinos, o universo e seu “Mistério Criador”.

A luz solar é a luz, que ofusca a visão do prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, de insegurança pela expansão da percepção, pela imensidão da nova realidade, que traz a consciência, tão bem expressa pelo aforisma de Sòcrates: “só sei que nada sei”.

CONSIDERAÇÕES

Existe premissa da “Ciência Inciática das Idades”, que afirma: “o visível é manifestação do invisível”. Adaptando essa premissa ao Idealismo de Platão, poderíamos dizer: “A Imanência é manifestação da Transcendência”, ou o Mundo Sensível é manifestação do Mundo das Ideias. Adaptando aos termos utilizados no artigo “Mundo Perceptível e Mundo Oculto”: “o perceptível é manifestação do oculto”

O mundo percebido pelos sentidos humanos vem sendo ampliado significativamente, pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, que desenvolveram equipamentos, que ampliaram os limites tanto no micro (microscópio por exemplo), como no macro (telescópio, por exemplo).

Apesar de toda a informação e todo o conhecimento que temos a nossa disposição, os indicadores da história de nossa civilização sugerem, que ainda continuamos “prisioneiros da caverna”

Parece que se regrediu. Quanta preguiça para refletir de forma crítica sobre os fatos, ou sobre a realidade percebida. Quanto comodismo em somente escutar o mesmo e sobre o já percebido. Quanto apreço à segurança da submissão a dogmas, ou da aversão à dúvida socrática - o questionamento, a não aceitação das afirmações, sem antes analisá-las.

Perdeu-se o interesse sobre a política, a sociedade e a vida em comum, como se o “próprio umbigo” tivesse importância maior que a preservação da natureza e seus reinos, a evolução do homem e o desenvolvimento da sociedade.

Os que se negam a cultivar e que ousam se opor, bem como sugerir o abandono, a esse tipo de vida de “prisioneiro da caverna”, são considerados loucos e marginalizados.

Vive-se o predomínio da repetição de “clichês”, de opiniões rasas, conhecimento superficial, do misticismo, das teorias conspiratórias, das informações inúteis, ou falsas, que cada vez mais nos mantêm limitados às sombras e ecos refletidos da parede da caverna.

As perspectivas de que esse roteiro civilizatório se transforme não são promissoras, pois para tal dependeria de a libertação dos “prisioneiros da caverna”, que somente terá início a partir da tomada de consciência desse estado de “prisioneiro da caverna”.

FONTES:

brasilescola.uol.com.br; cadernosfilosoficos.com.br; pt.wikipedia.org; querobolsa.com.br; reaprendentia.org; recantodasletras.com.br; e usp.br.

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J Coelho
Enviado por J Coelho em 24/03/2025
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