A saga do São Gonçalo Futebol Clube: relato de glórias e memórias
A saga do São Gonçalo Futebol Clube: relato de glórias e memórias
O futebol de São Gonçalo, encravado no coração do sertão paraibano, carrega uma rica tradição marcada por momentos de glória que jamais se apagam. Em meio às disputas amadoras que ferviam nos campos do interior, o São Gonçalo Futebol Clube se ergueu como uma força indomável, cuja história, embora não tenha alcançado os palcos principais dos grandes campeonatos estaduais, permanece viva na memória daqueles que respiraram sua paixão. Em uma entrevista concedida no dia 10 de outubro de 2012, a Josemar Alves Soares, próximo ao campo do CSU em Sousa, o lendário craque Edilson da Sociedade (1950-2018) reviveu, com emoção e nostalgia, os dias de ouro dessa equipe, que marcou a época e o imaginário de muitos.
O dilema histórico: São Gonçalo ou Ceres?
Embora alguns detalhes permaneçam imprecisos sobre o nome correto da equipe na época em que Edilson jogou – se o time era o São Gonçalo F.C., extinto em setembro de 1972, ou o Ceres F.C., seu sucessor fundado logo em outubro do mesmo ano – o fato é que ambos os nomes estão indissociavelmente ligados à tradição futebolística do distrito. Edilson, no entanto, refere-se aos anos de 1968 e 1969, quando o Ceres ainda não existia, o que nos leva a crer que sua memória afetiva remonta aos últimos grandes momentos do São Gonçalo F.C.
Memórias de ouro: a força do São Gonçalo nos Anos 1960.
Edilson jogou entre 1968 e 1969, uma das fases mais memoráveis do São Gonçalo. "O São Gonçalo era uma grande equipe, quase no mesmo nível da Sociedade", relembra o craque, cuja admiração pelo clube é evidente. Segundo ele, se houvesse mais incentivo à época, a equipe poderia ter alcançado o mesmo patamar do Atlético Clube de Sousa, que brilhou nos campeonatos paraibanos de 1975 e 1976. Era uma equipe que jogava bonito, com técnica e vigor, trazendo orgulho aos torcedores do distrito.
O trato da comunidade e o espírito de união
O relato de Edilson também revela como a comunidade de São Gonçalo se envolvia com o time. “Chico Antunes nos convidava para jogar, a mim e a Pelim. Ele mesmo nos pegava e levava de volta a Sousa. Ficávamos hospedados no apartamento do DNOCS e fazíamos as refeições no Hotel Catete”, recorda-se o ex-craque, enfatizando o cuidado que o clube tinha com seus jogadores. Mais do que um time, o São Gonçalo era um ponto de união da comunidade, com treinos e jogos que atraiam multidões.
O elenco dos sonhos e a defesa intransponível
Entre os nomes que brilharam no São Gonçalo, Edilson destaca Chico Antunes, artilheiro do time, e figuras inesquecíveis como Bastião do Coco, Custódio e Acácio (estes dois últimos no Ceres). No entanto, uma reverência especial é reservada ao zagueiro Inaldo, que, segundo Edilson, “não tinha bola perdida e enfrentava qualquer dividida sem medo”. A defesa do São Gonçalo, liderada por Inaldo, era um bastião de segurança e coragem, elementos essenciais para as conquistas da equipe.
As conquistas históricas e o orgulho de São Gonçalo
Os feitos do São Gonçalo Futebol Clube extrapolam as fronteiras do distrito, com vitórias que ressoaram pela região. Uma das maiores lembranças de Edilson é a vitória épica por 3 a 1 sobre o Nacional de Patos, com gols de Chico Antunes e Inaldo, em pleno campo adversário. Outro triunfo que ficou marcado foi a vitória sobre o Santos de Cajazeiras, no Estádio Higino Pires Ferreira, com um gol solitário de Bastião do Coco.
O São Gonçalo também colecionou vitórias contra as equipes mais tradicionais da região. Em um dos jogos mais memoráveis, venceu o Ferroviário e o São Cristóvão de Pombal, por 3 a 0 e 2 a 0, respectivamente, com dois gols de Edilson e um de Chico. A supremacia da equipe ainda se estendeu sobre os clubes de Sousa, como o Flamengo de Seu Var, o Botafogo de Galego da Usina e o Palmeiras de Constantino. Talvez estes últimos feiros tenha sido protagonizados pelos Ceres F. C. na década de 1970.
O Legado do São Gonçalo: uma paixão imortal
Embora o São Gonçalo Futebol Clube tenha desaparecido como nome em 1972, sua alma e seu espírito de luta sobreviveram na forma do Ceres F.C., que herdou essa gloriosa tradição e continua a manter viva a chama do futebol são-gonçalense. Para Edilson e tantos outros que viveram essa época, o São Gonçalo permanece como símbolo de orgulho, tradição e resistência, imortalizado não apenas nos campos, mas na memória coletiva de um povo que respira o futebol com paixão e devoção.
O legado do São Gonçalo continua vivo nos relatos, nas histórias que correm de boca em boca e nas lembranças de dias gloriosos, em que o futebol amador foi muito mais que um esporte: foi uma demonstração de pertencimento e identidade. O São Gonçalo Futebol Clube é a representação máxima de que, no sertão, a força de um time está no amor incondicional de seus torcedores, na raça de seus jogadores e na imortalidade de suas conquistas.