Negro Di: o poeta da bola

Negro Di, ou simplesmente "Dí", como era carinhosamente chamado, era mais do que um jogador de futebol. Para muitos, ele foi um artista dos campos, capaz de transformar o jogo em poesia com sua habilidade técnica e inteligência tática. Segundo Andrade Filho (2021), o próprio Aldeone Abrantes, sobrinho de Dí e presidente do Sousa Esporte Clube, certa vez o chamou de "poeta da bola", em reconhecimento à sua capacidade de ver o futebol de uma maneira que poucos podiam: como uma arte a ser esculpida a cada passe, a cada desarme, a cada jogada pensada com maestria.

De acordo com Andrade Filho (2021), a carreira de Negro Di foi marcada por seu estilo de jogo único, que combinava força defensiva e uma visão aguçada. Se destacava por desarmar os adversários com precisão e, logo em seguida, dar continuidade à jogada, contribuindo de forma decisiva para a transição da defesa ao ataque. Ao lado de Zamba, formou uma das duplas mais emblemáticas da Sociedade Esportiva Sousa, e seus confrontos com a dupla Fuba e Mucuim, do Santos de Cajazeiras, são lembrados até hoje como verdadeiros clássicos do sertão.

Embora fosse mais conhecido por seu papel defensivo, Negro Di também possuía uma habilidade especial em encontrar o melhor caminho para armar o jogo. Quando questionado sobre sua função, ele era sempre modesto, mas os comentaristas e narradores da época sabiam que era ele quem "carregava o piano" — expressão comum no futebol para designar aquele que faz o trabalho mais duro, mas essencial para o time.

Negro Di não foi apenas um jogador profissional de sucesso, mas também marcou seu nome no futebol amador de Sousa. Mesmo após pendurar as chuteiras no profissionalismo, ele continuou a brilhar nos gramados amadores, sendo uma figura chave no título do campeonato municipal de 1988, quando defendia as cores do Boa Vista.

O legado de Negro Di, especialmente na Sociedade Esportiva Sousa, continua vivo nas memórias de todos que tiveram o privilégio de vê-lo em ação. A famosa dupla Zamba e Negro Di é uma lembrança nostálgica e carregada de admiração. Enquanto Zamba jogava mais avançado, próximo ao ataque, Dí desempenhava o papel de proteção à defesa, garantindo que o time mantivesse sua solidez defensiva. Essa química dentro de campo foi fundamental para o sucesso da Sociedade em muitos campeonatos e jogos memoráveis.

Segundo Andrade Filho (2021), nos registros históricos, equipes como o Atlético Clube de Sousa e o Botafogo de Cajazeiras também contaram com sua presença essencial. No Atlético, jogando ao lado de figuras lendárias como Bartô, Amadeu, Zamba e Edilson, Negro Di mostrou porque era tão reverenciado. Já no Botafogo de Cajazeiras, ele continuou a provar sua relevância, sempre oferecendo uma consistência tática que deixava seus companheiros de equipe confiantes e seus adversários preocupados.

Di encerrou sua carreira como começou: com a humildade de quem entendia o jogo e sua importância para a comunidade. Seus feitos dentro e fora de campo transformaram-no em uma verdadeira lenda do futebol sousense, cujo nome ainda ecoa nas conversas daqueles que testemunharam seu talento.

Negro Di era a alma do jogo, o "Poeta da Bola", cujas palavras eram escritas com cada toque na bola, cada jogada bem pensada e cada partida disputada com o coração. O sertão paraibano pode se orgulhar de ter dado ao mundo uma figura tão emblemática e talentosa, cuja história continuará a inspirar futuras gerações de atletas.

REFERÊNCIA:

ANDRADE FILHO, F. C. de. Capítulos da Formação e Trajetória do Futebol Profissional de Sousa. Sousa: Edição do Autor, 2021.

Josemar Alves e Francisco Cicupira de Andrade Filho
Enviado por Josemar Alves em 01/10/2024
Reeditado em 03/10/2024
Código do texto: T8163965
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