Zamba: o craque que fez história no Futebol paraibano e além-mar
Segundo Andrade Filho (2021), elegante em campo, exímio cobrador de faltas e dotado de uma visão de jogo única, Zamba marcou época no futebol sousense, encantando a todos que tiveram o privilégio de vê-lo jogar nas décadas de 1960 a 1980. Seus pés talentosos foram responsáveis por gols importantes durante o período áureo da Sociedade Esportiva Sousa, destacando-se nas três grandes conquistas do futebol local: o Bicampeonato do Matutão Paraibano (1969-1970) e o famoso Quadrangular do Cariri, em Juazeiro do Norte-CE. Com suas habilidades inquestionáveis, Zamba tornou-se um ídolo imortal do futebol sousense, carregando consigo um legado que ressoa até os dias atuais.
Nascido em uma família simples, filho de Lourival Lunguinho e Nira Silva, Zamba iniciou sua carreira em 1964 e, ao longo de sua trajetória, acumulou passagens por uma lista invejável de clubes. Em uma folha de papel, que ele próprio redigiu para garantir que nem ele se esquecesse, registrou suas andanças pelo mundo do futebol. Entre os times que tiveram o prazer de contar com seu talento estão: Rural Esporte Clube, Sociedade Esportiva Sousa, Santos Futebol Clube de Cajazeiras, Clube de Sete da França, Botafogo de Cajazeiras-PB, Atlético Clube de Sousa, Corinthians de Caicó-RN, Centenário de Pau dos Ferros-RN, São Cristóvão de Pombal-PB, Portuguesa de Sousa, Associação Alexandriense de Futebol-RN e Santa C ruz de Sousa.
Além disso, Zamba chegou a realizar testes em clubes de renome, como o Pleno Esporte Clube de Mossoró-RN, o Bahia de Feira de Santana-BA, o Bonsucesso do Rio de Janeiro, e ainda atraiu o interesse de times nordestinos de peso, como Guarani e ICASA de Juazeiro do Norte-CE, Santos de João Pessoa, Campinense e Treze de Campina Grande-PB, além do Sergipe. Em 1964, logo no início de sua promissora carreira, ele recebeu um convite do Vitória da Bahia, mas foi em 1972, já jogando na Europa, que o Sporting Clube Olhanense de Portugal mostrou grande interesse em sua contratação.
Contudo, a passagem mais polêmica e de maior destaque na vida de Zamba foi, sem dúvidas, sua ida para a França. Por intermédio de um amigo brasileiro, ele foi negociado com o Football Club de Sète, um tradicional clube francês fundado em 1914, que, apesar de já ter conquistado dois títulos do Campeonato Francês, à época vivia em uma gangorra entre a terceira e a quarta divisão do futebol do país. Em uma carta datada de 16 de outubro de 1971, o presidente do clube, Jean Lorronde, depositava grandes expectativas no novo atleta sousense, encantado pela perspectiva de ter em seu plantel um jogador vindo do país tricampeão mundial.
A aventura francesa, porém, não seguiu conforme o esperado. Embora Zamba tivesse autorização para permanecer na França até novembro de 1973, ele retornou ao Brasil antes do previsto, alegando que sua documentação, que deveria ser liberada pela Federação Paraibana de Futebol, nunca foi devidamente expedida. Essa barreira burocrática impediu que Zamba tivesse outras chances no futebol francês, o que, segundo ele, foi o grande motivo para o encerramento precoce de sua experiência europeia.
De acordo com Andrade Filho (2021), após seu retorno, o craque sousense voltou à Sociedade Esportiva Sousa, onde participou de algumas partidas amistosas. Mais tarde, no final de 1973, integrou-se ao Botafogo de Cajazeiras, participando do Campeonato Paraibano de Profissionais, também conhecido como "Extra de Profissionais" pela imprensa esportiva da época. Naquela temporada, Zamba fez parte de um time memorável, ao lado de jogadores como Fuba, Costa, Carlos Augusto, Zé Edivar e Beré, levando o Botafogo a uma excelente campanha.
No amistoso entre Ceres e Botafogo de Cajazeiras, ocorrido em São Gonçalo em 1974, Zamba protagonizou um dos lances mais marcantes da partida. Perto da entrada da área, ele dominou a bola no peito com segurança e, sem deixar que tocasse o chão, soltou um potente chute de sem-pulo. A bola explodiu no travessão com tanta força que, por um momento, o público pareceu suspender a respiração. O impacto fez a bola percorrer uma longa distância, chegando próxima à linha do meio-campo.
A reação da torcida de São Gonçalo foi imediata. Os torcedores aplaudiram com entusiasmo o talento e a força do chute, mesmo sem ter sido gol, com um claro reconhecimento da habilidade do craque.
Entre gritos de incentivo e acenos de aprovação, ficou evidente o orgulho da torcida local, que viu no lance um reflexo da dedicação e da qualidade que o Ceres sempre representou em campo.
Em 1975, com o fechamento das portas do Botafogo de Cajazeiras, Zamba retornou ao Atlético de Sousa, onde disputou os campeonatos paraibanos de 1975, 1976 e 1977, encerrando sua brilhante carreira no futebol amador como destaque da Portuguesa de Pedrinho, no bairro das Areias.
Zamba também formou parcerias inesquecíveis dentro de campo. Na Sociedade Esportiva Sousa, a famosa dupla com Negro Dí se tornou uma lenda local, assim como os confrontos épicos com o Santos de Cajazeiras, onde as duplas Zamba/Negro Dí e Fuba/Mucuim protagonizaram jogos memoráveis que permanecem na memória do futebol sertanejo.
O craque faleceu prematuramente em 1997, aos 50 anos de idade, vítima de um câncer muito agressivo.
Assim, a história de Zamba, repleta de feitos marcantes, aventuras internacionais e conquistas inesquecíveis, transcende o tempo. Ele não apenas escreveu seu nome nas páginas do futebol sousense, mas também inspirou gerações futuras, mostrando que, mesmo vindo do sertão, é possível alçar voos para além das fronteiras do Brasil.
REFERÊNCIA:
ANDRADE FILHO, F. C. de. Capítulos da Formação e Trajetória do Futebol Profissional de Sousa. Sousa: Edição do Autor, 2021.