Edilson: o gênio do Futebol Sousense que enfeitiçou o Sertão

Edilson: o gênio do Futebol Sousense que enfeitiçou o Sertão e além

Segundo Andrade Filho (2021), há momentos na história do futebol que se eternizam nas palavras dos torcedores, nas lembranças vívidas de lances que pareceriam ficção se não fossem reais. Assim foi Edilson, um dos maiores expoentes do futebol sousense e, sem dúvida, ao lado de Perpétuo de Cajazeiras, o craque que marcou o interior da Paraíba com seu talento incomparável. Seu nome ressoava nos estádios, bares e nas rodas de conversa, onde sua maestria com a bola era motivo de admiração. Jogando pela Sociedade Esportiva Sousa, Atlético Clube de Sousa, Portuguesa de Sousa, River do Piauí e outros clubes, Edilson brilhou como poucos.

O artista da bola

Edilson foi o que muitos chamam de "jogador nato". Seu estilo cadenciado, dribles curtos e desconcertantes, e cabeçadas certeiras faziam dele um verdadeiro artista em campo. Ele não era apenas um atleta, era um poeta do futebol, cuja caneta era seus pés e o papel, o gramado. A cada toque na bola, ele criava obras-primas que deixavam adversários perplexos e torcedores em êxtase.

Não por acaso, conquistou títulos que se tornaram parte do folclore do esporte nordestino: Tricampeão do Campeonato Interiorano da Paraíba (Matutão), nos anos de 1969 e 1970, pela Sociedade E. S., e em 1971 pelo CPP - Clube Centenário Pauferrense, Campeão do Cariri-CE, pela Sociedade E. S., em 1970; artilheiro incontestável do Campeonato Paraibano em 1975 e 1976; campeão piauiense pelo Flamengo em 1979; e bicampeão Piauiense pelo River em 1980 e 1981, sendo o artilheiro em 1980, período em que compartilhou o gramado com Sima, o maior nome do futebol piauiense. Edilson também atuou pelo Botafogo-PB e Tiradentes-PI, em 1978; Piauí-PI, em 1979; River-PI, em 1982; e Auto Esporte-PI, em 1985.

Gilmar Marques, uma autoridade no esporte sousense, chegou a declarar que, se Edilson tivesse nascido em tempos de estrutura moderna, bem preparado fisicamente e lapidado desde a base, ele teria sido o maior jogador do mundo. "Nenhum jogador no planeta poderia ter se comparado a ele," afirmou Gilmar. De fato, a genialidade de Edilson era tamanha que ele se formou jogando nas ruas, longe dos centros de treinamento que hoje produzem astros globais.

Um fenômeno indomável

Mas a genialidade de Edilson não residia apenas na técnica. Havia um fator quase mítico em sua personalidade. Edésio do Bar, um dos mais fervorosos torcedores sousenses, narra com nostalgia um episódio que resume bem a lenda em torno do craque. Numa partida amistosa contra o Sergipe, Edilson, famoso por suas noites boêmias, não apareceu para o jogo. Dormia profundamente após passar a noite em um bairro de tolerância. O primeiro tempo foi um desastre para o time de Sousa, que viu o Sergipe abrir 3 a 0 no placar. Mas, no intervalo, com os torcedores já vaiando a equipe, surge Edilson. Com sono nos olhos, cabelos desgrenhados e um palito de dente na boca, ele entrou em campo como se o placar não fosse relevante. O que se viu depois foi um espetáculo: Edilson virou o jogo, marcando três gols e provocando discussões acaloradas na defesa sergipana. O craque saiu de campo ovacionado, imortalizado por mais um feito extraordinário.

Humildade e glória

Apesar de sua grandiosidade nos campos, Edilson manteve-se sempre simples e acessível. De acordo com Andrade Filho (2021), em 2004, recebeu de Josemar Alves Soares e Francisco Cicupira de A. Filho o título simbólico de "Melhor Jogador da Paraíba do Século XX". Quando recebeu a honraria, em sua casa humilde, seus olhos se encheram de lágrimas. "O silêncio que ele fez ao olhar o diploma revelava um filme que passava em sua mente, revendo os momentos de sua gloriosa carreira," disse Josemar. Esse silêncio profundo, que dizia mais do que palavras, era típico de Edilson: um homem de feitos grandiosos, mas de gestos simples.

Um ídolo eterno

De acordo com Andrade Filho (2021), Edilson recusou convites para jogar em grandes equipes nacionais, preferindo manter sua vida no sertão, onde era venerado. Em Sousa, era visto como uma lenda viva. Um torcedor anônimo lembra com carinho de como esperava, na entrada do estádio Marizão, a chegada do ídolo na carroceria da caminhonete de Sinval Gonçalves. Edilson, ao lado de seus companheiros, caminhava entre os torcedores, sempre acessível, sempre presente. No fim dos jogos, muitas vezes voltava para casa a pé, ainda uniformizado, como qualquer outro cidadão, mas com a diferença de carregar consigo o peso da admiração de uma cidade inteira.

Edilson nasceu em 25 de setembro de 1950 e partiu em 25 de janeiro de 2018, aos 67 anos de idade, mas sua memória continua viva. Para os que tiveram o privilégio de vê-lo em campo, ele será sempre aquele que encantou com sua genialidade e humildade. Talvez sua pior jogada tenha sido não ter aceitado os convites dos grandes clubes. Mas, para os que vivem na "Caatinga", seu nome é sinônimo de lenda, alguém que preferiu brilhar em campos modestos, mas que deixou um legado imortal no futebol do sertão nordestino.

Edilson foi mais que um jogador; foi o herói que Sousa e o futebol da Paraíba merecem. Um gênio de carne e osso, cuja trajetória será contada e recontada por gerações.

ANDRADE FILHO, F. C. de. Capítulos da Formação e Trajetória do Futebol Profissional de Sousa. Sousa: Edição do Autor, 2021.

SOARES, J. A. São Gonçalo: Fragmentos da História. Sousa: Ed. do Autor, 2013.

SOARES, J. A. Capítulos para a Historiografia de São Gonçalo – Memórias, sentimentos e legado de um distrito agrícola federal. Sousa: Ed. do Autor, 2024.

Josemar Alves e Francisco Cicupira de Andrade Filho
Enviado por Josemar Alves em 01/10/2024
Reeditado em 14/10/2024
Código do texto: T8163840
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