A grande decisão: Ceres e Estudantes duelam no Paulão pelo título de honra de São Gonçalo
O ano era 1991, o cenário: o lendário estádio O Paulão, em São Gonçalo. Naquela tarde ensolarada, as arquibancadas vibravam com a expectativa de um confronto que prometia entrar para a história do futebol local. De um lado, o Ceres, time tradicional e com décadas de glória, formado por jogadores experientes, símbolo de raça e tradição. Do outro, o Estudantes, jovem, cheio de entusiasmo, cuja crescente popularidade contagiava os mais novos e revitalizava a rivalidade na terra de Paulo Doroteu. Não era apenas um amistoso; para todos os presentes, aquela era a verdadeira decisão de quem merecia o título simbólico de campeão são-gonçalense.
Com as torcidas divididas ao meio – metade vermelha, azul e branca do Ceres, metade vermelha e branca do Estudantes – o Paulão parecia respirar a tensão e a ansiedade. O grito de vitória ecoava de ambas as torcidas, e cada jogador carregava nos ombros o peso da expectativa de um distrito inteiro.
O apito inicial soou, e o jogo foi marcado por uma atmosfera de tensão e cautela. Nenhuma das equipes queria errar. O Ceres, com sua estratégia sólida, tentava ditar o ritmo da partida, enquanto o Estudantes, com seus jovens talentos, buscava oportunidades em rápidas trocas de passe e incursões velozes pelas pontas. A defesa do Ceres, liderada pelo experiente Élio, se mostrava intransponível.
O primeiro tempo terminou com o placar intacto: 0 a 0. Apesar das chances criadas, ambas as equipes pareciam evitar ao máximo se expor a qualquer risco. Os torcedores aguardavam ansiosos pelo que estava por vir, e sabiam que, no segundo tempo, algo especial estava prestes a acontecer.
Na volta do intervalo, a tensão era palpável. O Ceres começou a pressionar mais, tentando usar sua experiência para quebrar a resistência dos jovens rivais. E, aos 25 minutos, em uma jogada bem trabalhada com Osmar pela direita, o time azul e branco finalmente rompeu a defesa do Estudantes. Um cruzamento preciso e um desvio de cabeça do atacante Gilson sem chances para o goleiro Pedrinho. O grito de gol da torcida do Ceres foi ensurdecedor, como se o estádio inteiro tivesse explodido em um único rugido.
Por alguns minutos, parecia que a tradição havia vencido o entusiasmo. Mas o Estudantes, com sua característica garra juvenil, não se deixou abalar. Aos 35 minutos, uma jogada coletiva começou com Baeco no meio-campo, que tocou para Eduardo Basílio, e este, com visão de jogo afiada, lançou Deodato pela ponta direita. Com habilidade, Deodato cruzou rasteiro para Mauricélio, que, com maestria, completou para o gol. O Estudantes empatava a partida, e agora era a vez de sua torcida entrar em êxtase.
O empate inflamou os ânimos. Dentro e fora de campo, o clima ficou ainda mais acirrado. Cada dividida se tornava uma batalha feroz. O árbitro, atento, tentava manter a ordem enquanto o jogo caminhava para um clímax inevitável.
Cinco minutos depois, o inesperado aconteceu. Em uma jogada de um rápido contra ataque, demonstrando a força do conjunto, o Estudantes faz o segundo gol, para delírio de sua torcida.
A explosão nas arquibancadas foi instantânea. O Estudantes, com sua raça e determinação, havia conseguido virar o jogo contra o Ceres, consagrando-se o campeão simbólico de São Gonçalo.
O Ceres ainda tentou reagir nos minutos finais, apostando em jogadas aéreas e bolas longas. Mas a defesa do Estudantes, inspirada e com a segurança de Francimar, Bolinha, Jonhson e Tatá, segurou a pressão. Quando o apito final soou, o estádio estava em ebulição, com a torcida do Estudantes celebrando como se fosse a conquista de um título oficial.
Naquela tarde de 1997, ocorrera mais do que um simples amistoso. O Ceres, ainda que derrotado, manteve sua honra intacta, reconhecendo a grandeza de seus rivais. Mas o título moral de campeão de São Gonçalo, naquele ano, ficou com o Estudantes, que venceu na base da garra e do talento.