O retorno do craque: quatro gols e a eterna lenda de Edilson

Era por volta de 1983, e eu, tomado pela curiosidade e pelo peso das histórias que rondavam Edilson, o maior craque que Sousa já havia conhecido, decidi que era hora de assistir ao seu retorno aos gramados. Ele estava de volta à Portuguesa de Sousa-PB, time do saudoso Pedrinho Ferreira, com o seu tradicional e vistoso uniforme rubro-verde, após uma brilhante passagem pelo River e outras equipes do Piauí . Eu ouvia sobre suas glórias desde pequeno, mas morando em São Gonçalo, raramente conseguia ver os jogos em Sousa. Naquele dia, não pude resistir ao chamado de vê-lo em ação no estádio Antonio Mariz.

Convidei meu tio, Edésio Vieira Fernandes, grande entusiasta do futebol. Para ele, Zico era o maior jogador que ele já tinha visto jogar, depois de Edilson! No entando, embora respeitasse Edilson, dizia que, com a idade, ele já não jogava mais nem 10% do que fora nas décadas de 1960 e 1970. Relutou em ir comigo ao estádio, repetindo suas ressalvas, mas minha insistência prevaleceu.

Chegamos ao estádio numa tarde quente, o clima típico do sertão. As arquibancadas estavam lotadas, e o burburinho entre os torcedores era intenso. Todos queriam ver se o velho craque ainda tinha alguma faísca do passado brilhante. Quando o jogo começou, confesso que fiquei apreensivo, com medo de que o tempo tivesse realmente pesado sobre Edilson.

Mas logo que a bola rolou, as dúvidas começaram a se dissipar. Edilson dominava o campo com uma leveza impressionante. Seus movimentos não eram apressados, mas calculados, como se ele enxergasse o jogo alguns segundos antes de todos os outros. Quando a bola chegava aos seus pés, o estádio silenciava por um instante, e ele brilhava. Em pouco tempo, marcou seu primeiro gol. Foi uma jogada clássica, um toque sutil para o lado, seguido por um chute preciso no canto. Meu tio, ainda cético, balançou a cabeça, mas não pôde negar o talento.

Pouco depois, veio o segundo. Dessa vez, Edilson desarmou um zagueiro com um drible rápido e chutou forte, no alto. O goleiro da equipe adversária, completamente vendido no lance, só pôde assistir a bola estufar as redes. A arquibancada veio abaixo. Olhei para Edésio, esperando uma reação, mas ele continuava firme em sua avaliação, repetindo que "o craque de antes era muito mais".

Quando Edilson marcou o terceiro gol, já não restava muito espaço para críticas. O veterano estava em pleno domínio do jogo, distribuindo passes e ditando o ritmo. Era como se o campo fosse uma extensão de sua mente, e ele conduzia a partida como um maestro. Nesse ponto, até meu tio começou a prestar mais atenção, e eu percebia que, por mais que tentasse se segurar, algo nele havia mudado.

Então veio o quarto gol, e foi o mais espetacular de todos. Edilson recebeu a bola quase no meio-campo, avançou driblando dois defensores e, sem qualquer cerimônia, encobriu o goleiro com uma leveza que parecia desdenhar do tempo que, supostamente, lhe havia tirado a habilidade. O estádio explodiu em euforia. Não havia mais dúvidas: Edilson ainda era o craque de sempre.

Mas, curioso, ao fim da partida, Edésio não cedeu. Com aquele tom de quem já havia visto muito futebol, ele me disse: “Quatro gols, mas aquele Edilson de antes, aquele... era outra coisa.” Sorri, sabendo que, apesar das palavras, até meu tio não poderia negar a grandeza do que havíamos testemunhado naquela tarde. Para mim, foi a confirmação de uma lenda viva, e para todos no estádio, uma recordação que ficaria gravada para sempre.

Josemar Alves
Enviado por Josemar Alves em 19/09/2024
Reeditado em 20/09/2024
Código do texto: T8155505
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