Futebol sem perdão: o fatídico 20 x 1 no estádio "O Paulão"

Era uma tarde ensolarada do distante ano de 1985, no lendário estádio "O Paulão", em São Gonçalo, Sousa-PB, palco onde, segundo os mais velhos, os sonhos dos pequenos times muitas vezes vinham apenas para se desmoronar. Naquele dia, o Combinado de Sousa estava prestes a aprender essa amarga lição da forma mais cruel possível. Os meninos, com idades entre 15 e 17 anos, tomaram coragem (ou talvez se deixaram levar pelo excesso de confiança juvenil) e solicitaram uma partida para testar seu "poder de fogo". No entanto, um pequeno detalhe escapou ao planejamento: o adversário era ninguém menos que o Estudantes Esporte Clube, uma verdadeira máquina de fazer gols, das mais letais que "O Paulão" já conheceu. Com média de idade de 20 anos, o Estudantes era um time muito mais experiente e entrosado, habituado a disputar campeonatos de alto nível na região.

Faziam parte daquele forte elenco do Estudantes: Pedrinho (1964-1997), Toinho Araújo (1966-2021), Estanislau (1966), Careca (1965), Bardal (1966-2022), Eduardo Basílio (1965), Baeco (1964), Osmar (1961), Deodato (1965-2022), Gilson Batista (1965), Beré (1962) e Batinha (1966).

Logo aos dez minutos, Osmar, o habilidoso camisa 10 do Estudantes, tomou conta do meio-campo. A cada toque na bola, parecia estar dando uma aula prática de futebol. Seus passes precisos e dribles desmoralizantes abriram caminho para um cartaz que começou a se desenhar de forma cruel. Aos 15 minutos, já estava 3 a 0 para os Estudantes, e o inexperiente Combinado de Sousa mal conseguia respirar. A torcida, incrédula, ria enquanto os gols fluíam com a facilidade de quem colhe frutas maduras.

Do lado do Combinado, o goleiro lutou bravamente para conter o que parecia ser uma barragem rompida. Mergulhava, espalmava, gritava com a zaga, mas a defesa do Combinado mais parecia uma porta giratória: por mais que tentassem, os atacantes do Estudantes passando com a leveza de quem participa de um treino recreativo.

Aos 20 minutos, Deodato e Batinha já estavam no baile. Insatisfeitos com o placar modesto, começaram a brincar entre eles, deixando a defesa do Combinado completamente desnorteada. O público assistia a um espetáculo à parte: dribles, toques de calcanhar e até algumas pedaladas para a diversão geral. A fama dos Estudantes crescia a cada lance, e o goleiro do Combinado, apesar dos esforços heróicos, parecia estar tentando apagar um incêndio com um copo d'água. Seus gritos de desespero ecoavam pela defesa, mas, infelizmente, ela continuava parecendo uma peneira. Quando chegou o intervalo, o placar já marcava 10x0, e os meninos de Sousa se perguntaram se não seria melhor terem marcado uma partida contra o

time da paróquia.

Os jogadores do Combinado saíram de campo com os ombros caídos, a expressão de quem sabia ter entrado em um pesadelo, mas ainda não havia acordo completamente. Alguns lançaram olhares para o técnico, talvez esperando um sinal de que o jogo poderia ser encerrado ali.

No segundo tempo, o Combinado tentou se reorganizar. Apenas tentou. O técnico, pobre coitado, estava mais perdido que o anúncio de uma bolacha em uma reunião de dieta. A esperança de uma recuperação era nula.

Os Estudantes voltaram com ainda mais disposição. Beré, implacável na frente, e o quarteto ofensivo com Osmar, Deodato e Batinha deixa claro disputar entre si quem faria o gol mais bonito. Até Pedrinho, o goleiro dos Estudantes, em um momento de ousadia, saiu jogando, driblou dois adversários e quase marcou de longe, o que seria o 15º gol. A essa altura, o estádio inteiro estava em êxtase, menos, claro, os jogadores do Combinado.

Mas nada disso bastou para aliviar o massacre. Osmar, em vez de reduzir o ritmo, decidiu que era o dia de bater o registro de passes açucarados. Deodato e Batinha aproveitaram o banquete e encheram a rede de gols. Beré fazia questão de comemorar cada gol com a alegria de quem marca pela primeira vez.

Contudo, o grande momento para o Combinado aconteceu quando, em uma rara escapada, conseguiu marcar o gol de honra. A celebração foi tão intensa que mais parecia a conquista de um título histórico. O jovem atacante que marcou saiu correndo pelo campo com os braços abertos, como se tivesse vencido uma final de Copa do Mundo. A torcida aplaudiu de pé, celebrando o esforço e a coragem de continuar lutando, mesmo sob o bombardeio incessante dos Estudantes.

A essa altura, os meninos do Combinado só torciam para que o juiz apitasse o fim logo, talvez 15 minutos antes do tempo regulamentar. Mas o destino — e o juiz, fã de comédia, ao que tudo indicava — decidiu que ainda havia espaço para mais. O placar final? 20 a 1!

O resultado entrou para a história como uma das maiores goleadas do futebol sousense. Para os jogadores do Combinado, restou a lição de que, no futebol, a coragem às vezes precisa vir acompanhada de um pouquinho de cautela.

O Estudantes Esporte Clube, por sua vez, celebrou uma vitória sem sucesso, como se fosse apenas mais um dia no escritório. Para os garotos do Combinado? Foi uma aula inesquecível de como o futebol pode ser impiedoso — e, talvez, um tanto irônico.

Josemar Alves
Enviado por Josemar Alves em 17/09/2024
Reeditado em 20/09/2024
Código do texto: T8153424
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