OS DIÁRIOS DE PASTINHA (trechos)

OS DIÁRIOS DE PASTINHA (trechos)

"Há mais coisas entre o céu e

a Terra do que sonha nossa vã

filosofia". - W. SHAKESPEARE

Uns dizem que o bardo inglês nem existiu, outros que não seria ele o autor de todas aquelas peças de Teatro, que se tornaram famosas, imortais algumas delas. Porém, se os manuscritos dele -- ainda gravados no papel com o cálamo, a pena dos gansos -- fossem mostrados para um grafólogo, este poderia identificar muito da personalidade da pessoa que produziu "HAMLET", onde a frase inicial deste texto está na boca de um personagem. (...)

Eis que, na curva do Destino, surgem finalmente os famosos "Diários" de mestre Pastinha, dos quais ouvi falar por volta de 1994, quando iniciei um "ensaio" sobre Capoeira -- em "O CRIME QUE VIROU MANIA" -- que se tornou um calhamaço datilografado de mais de 90 páginas, que virou "massa" para papel em junho de 2009, quando vendemos nosso acervo de jornais, livros e revistas como "papel velho", RECUSADO que foi por meia Belém, 5 ou 6 órgãos oficiais entre eles. (...)

O mesmo Destino me manteve vivo para conhecer (só agora) os 5 "cadernos" do "ALBO" de Vicente Ferreira que, tardiamente, apenas a partir de 2003 mestre Decânio trouxe à lume... aceito que SEJAM DELE cada palavra ali, resta saber se escritas POR ELE. (...) Explico para as Gerações "Millenium" e Zenialls": até 1962/63 se escrevia com "caneta de pena" (corpo de madeira), molhando-a num tinteiro. Se pressionada com alguma força sobre o papel "abria o bico" soltando tinta demais e borrando a palavra, muitas delas, quase todas num aluno pouco afeito à escrita. Quem tinha dinheiro comprava as canetas PARKER -- com tubinho interno de borracha para a tinta -- coisa para poucos na escola pública, eram caríssimas. Só em 1964 surgiria a caneta "de tinta seca", a famosa BIC azul. (...)

Professoras antigas sempre insistiram para os alunos FALAREM CORRETAMENTE, porque a gente escreve COMO FALA... então, porque quase NÃO HÁ ERROS nas letras das músicas, quando as Memórias do mestre estão repletas deles ?! (...) Curiosamente, temos um "Diário" sem a "graphia" centenária e sequer sem a posterior -- nas MÚSICAS, de novo ! -- que mantinha o C em algumas palavras (facto, contacto, restricto) e o Z em quase tudo (BraZil, paíz, mez, gáz, faze, quiz, poz, etc) . E temos um Manuscrito limpo, quase sem DATAS (há 3 ou 4 delas, do meio pro fim), outra estranheza e SEM GÍRIAS, pelo pouco que pude ler. Sem rasuras nem emendas (NA.: elas "surgem", adiante *1), sem correções, palavras riscadas, nada do comum, do usual, em escritos de qualquer época. Falo das letras de músicas, mais uma vez ! Enfim, temos um "Diário" PASSADO A LIMPO ! (continua)

"NATO" AZEVEDO (em 16/nov. 2023, 4hs)

OBS: (*1) - trata-se de comentário precipitado mas, ainda assim, 90% da parte referente às letras de músicas quase não tem "escorregadelas", falhas ao escrever. É quase "letra de bicheiro", se diria na época, sobre os anotadores de apostas peritos NA ESCRITA manual,

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OS "DIÁRIOS" DE V.F. - VÁRIAS INCÓGNITAS (trechos)

"O segredo da Capoeira morre

comigo". - mestre PASTINHA

(...) Hipoteticamente falando, se os tais Manuscritos tivessem sido escritos "a 4 mãos" (ou a 6, quem sabe ?!) isso não impactaria de forma alguma A HISTÓRIA da sua Vida e sua importância para a Capoeira moderna, porque o que vi/li até agora nada tem de Diário: ou cita músicas da época (qual época ?) ou trata das técnicas da Dança-Luta. Logo no início temos a explicação definitiva, acima das figuras, desenho precário: "para cada ataque [há] 3 defesas; para cada defesa 3 ataques" ! Olha a Numerologia marcando presença, desde a Santíssima Trindade, 2 mil anos antes: os 3 berimbaus, 3 toques básicos (a Angola e os 2 "São Bento") inspirados nos sinos das igrejas baianas -- veja-se a "Cavalaria" -- ao lado das quais aconteciam as Rodas.

RODAS de 3 "componentes": o Mestre, seu "treinel" (contramestre ?!) e o alunado. TRÊS CANTOS formam seu folclore: "corrido, chula e ladainha". (...) (*1)

Pra variar, na única página que parece realmente Diário -- rasurada, linhas sinuosas, grafia errada de quem "ESCREVE COMO FALA" (ver pag. VP-6) -- lá está o 3 na letra confusa... "3 moedas, 3 réis, 3 vinténs" ! QUEM ESCREVEU aquilo ?! Porque está ali, "abrindo o Diário" ?! A letra é grande demais -- em relação às TRÊS (epa!) outras -- e o D maiúsculo é muito "moderno", atual, "bate de frente" com AS FIRULAS que aprendemos na "Eschola antiga" para uso em letras "de fôrma", AS MAIÚSCULAS. (...)

Resta saber porque V.F. faria um "MÉTHODO de Ensinno" -- que o Manuscrito efetivamente é -- quando a Angola daqueles tempos primava em "ocultar-se", esconder suas técnicas, ensinar PELA OBSERVAÇÃO e não de forma tão direta ?! (...) No famoso Manuscrito alguns desenhos são ruins e não parecem ser EM NANQUIM, tinta para as canetas e usada também em desenhos. Aquilo parece bem mais BETUME, o popular "piche" utilizado para pintar e calafetar o fundo dos barcos. Sendo assim, um MARINHEIRO faz os desenhos... marujos na Capoeira são como feijão em feijoada; como o Mestre foi da Marinha pode-se concluir que pelo menos os desenhos iniciais são DELE ! (...)

A tal "Metafísica da Capoeira" (e não MetaPHísica, como deveria ser !) não mudaria a História do Mestre, que já estava ESCRITA quando ele findou este seu "ÁLBO". Este Manuscrito é essencial como está, nos traz MÚSICAS do Passado e "recupera" HISTÓRIAS"... (continua)

'NATO" AZEVEDO (em 28/nov. de 2023)

OBS: (*1) "...pois, note bem, amigo, a capoeira está dividida em trez partes, a primeira é a comum, é esta que [se] vê, ao o público, a segunda e a terceira parte, é REZEVADA no eu de quem aprendeu e é rezevada COM SEGREDO e depende de p tempo para aprender" (etc, pag. VP-79)

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"CURIOSIDADES" SOBRE A OBRA (considerações)

-- "Você é MALUCO ?! Vai trabalhar" !

(fanática me "dando recado" na WEB)

Certamente os "MANUSCRITOS" foram escritos pela mesma pessoa, com "exceção" de 3 ou 4 páginas no início (assinadas por um certo WLins) e de 2 ou 3 cartas ou recados que o autor REPRODUZIU, copiou das mensagens originais (ver VP-93), além da Ata, claro... infelizmente, o ensino obrigatório de Caligrafia "aplainou" para todos a escrita pessoal, ninguém "imprimiu seu estilo" no que escrevia, a ordem era "seguir o traço oficial". (...) Na relação da Ata temos um Ulisses (que não é Lins), um Manoel Menezes é citado duas vezes (nºs 48 e 68), embora tenhamos um colaborador de nome WILSON LINS, espécie de secretário ou tesoureiro, que foi até presidente do CECA. Aliás, o famoso CARYBÉ também consta da lista. (ver pag. VP-85)

1 - Pastinha "assina" apenas os desenhos iniciais -- com 1 carimbo (tinha 2), nome completo -- embora as figuras mais elaboradas estejam sem ele. (?!) (...) Nos dois "estilos" iniciais temos pessoas fortes, atarracadas, estivadores, vestuário cheio de vincos e dobras, amarrotados; já no terceiro estilo, roupas lisas, pessoas magras e altas (quase diria eu, brancas) e o uso da borracha de apagar ou de algodão para o sombreamento, técnica de artista tarimbado.

Nos desenhos "a nanquim" faz-se uso de "esponja vegetal" (é suposição) pois com o emprego apenas do bico da caneta seria complicado fazer os "pontinhos". (...) O que me intriga é saber como -- em MEMÓRIAS tão cheias de erros de grafia -- as letras das canções quase não contenham falhas e há até o uso do HÍFEN em verbos, fala incomum no homem do povo. (...) Note-se a perfeição delas nas pags 8, 16, com a 15 se repetindo na pag. 22... tem rimas em OR (valor, amor, Salvador) e só DOUTOR vira "DOTOU" ! Dá pra acreditar nisso ?!

2 - no caso dos desenhos, as letras de músicas teriam sido postas depois, tanto que alguns textos vão acima dos desenhos e outros ficam embaixo deles... tem-se a impressão do uso de "CARIMBOS", até de XEROXS, que só veio para o Brasil (Rio, SP) lá por 1965/66, com o "ÁLBO'" já pronto, terminado. Contudo, o papel CARBONO "reverte" qualquer desenho da mesma forma que um negativo fotográfico ou as "xerocópias". Pastinha era engenhoso e para poupar tempo "replicava" seu desenho inicial várias vezes, unindo tal imagem a outra(s), esta nova. Ía além: desenhava só no verso do papel (atrás) e anotava a canção na frente da imagem "apagada", coisa muito criativa.

Comparem os desenhos das pags 28 e 31, e das pags 32,33 e 35... são "gêmeos", têm medidas iguais, o mesmo tamanho. Eis as "curiosidades" INTRIGANTES do "albo", só vendo os originais para entender o processo usado por ele.

3 - OS MANUSCRITOS valem pelas histórias que narram os velhos tempos da Angola baiana e com extensa RELAÇÃO dos que a praticaram num período em que era proscrita e perseguida. (...) De curioso nele a "Teoria dos 3" que permeia a obra inteira e também AS REGRAS para o jogo, um monte delas, com JUIZ e tudo, que certamente fizeram debandar boa parte dos "capoeiras". (O CECA tinha até "livro de presença", novidade absoluta !)

O Mestre era CONTRA a "compra de jogo", o "corte" como dizem hoje... nada há a respeito da escolha das cores da camisa do CECA ! Vigorou por muito tempo a estória do amor dele pelo time do seu coração, suponho que Vitória ou o Bahia ! (...) INACREDITÁVEL mesmo é o controle de um idoso de 65-70 anos durante a escrita SEM LINHAS das Letras de música. É um caso a ser estudado ! (*1)

"NATO" AZEVEDO (em 11/dez. de 2023, 5hs)

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OBS: (*1) - meu espanto maior está nas LETRAS de música, algumas mero "discurso" difícil de entender como canção. Porque quase não contêm erros de grafia ?! Minha conclusão é que seriam "cópias" de um modelo, um texto "de exemplo" ou, talvez, um Ditado. Resta saber se este "ÁLBO" era um futuro MANUAL de ensino da prática. Pelo menos 1 pessoa (aluno ? treinel ?) teve conhecimento dele e deixa seu DEPOIMENTO a favor do Mestre... quem seria ?! ("É para O SEU LIVRO", anota ele na pag. VP-159)

Porque ficou guardado tanto tempo e porque é tão "explicativo" no que era antes "SEGREDO", detalhes que não se ensinavam ?! Só o Tempo nos trará a resposta final para essas dúvidas !

"NATO" AZEVEDO (em 1º/jan. de 2024).