ESQUEÇAM O PASSADO...

ESQUEÇAM O PASSADO...

"De médico e de louco

todo mundo tem um pouco"!

(ditado popular antigo)

Para se construir o Futuro, dizem alguns, é preciso ignorar o Passado; para se construir bem o Presente (adiante, Futuro) é preciso CONHECER o Passado, para não repetir falhas e erros cometidos nele. Optamos por não esquecer nosso Passado -- em relação a Capoeira (em Belém) e ao CCCP-Centro Cultural -- porque as lutas foram muitas e as dificuldades também. É necessário que uma pessoa NADA SAIBA sobre o que fizemos (ou tentamos) para poder declarar agora que "aquilo é Passado e pode ser esquecido" ! Dizem os indianos que "um elefante perdoa mas não esquece", ou seja, não perdoa e muito menos esquece coisa nenhuma. Alguns péssimos tratadores ou treinadores deles já foram pisoteados, quando o elefante relembrou os maus tratos, 10 ou 15 anos depois.

Nossa luta com (e contra os) Centros ditos Comunitários e com a famosa COHAB daquela época (1988/91) daria um livro se pudesse ser contada... agora não pode mais, virou "difamação", as verdades foram trocadas por FANTASIAS e pessoas que mal conheceram os 2 nomes maiores dela em Belém os enchem de loas e elogios, põe um deles entre os CEM MAIORES da Capoeira nacional. Apenas na Bahia eu citaria 50 ou mais: se acrescentarmos à lista baluartes de Pernambuco, Maranhão, Rio, SP, Minas e RS ele ficaria lá pelos 300... isto se merecer entrar nela !

Voltemos aos Centros, os do bairro Cidade Nova (CN), ligado a Belém até 1995: boa parte deles viviam fechados o ano quase inteiro, sem atividades até as eleições, embora trouxessem nas portas cartaz com aulas de manicure e de costura, raramente outras funções. Aceitavam qualquer atividade, para detoná-la logo depois, queriam apenas o NOME da atividade em sua parede, a criançada atendida pela novidade que "se virasse" em outro canto.

O hoje famoso CRAS 2 bem perto de casa foi também famoso como Centro, tendo apenas futebol nele, isso até 1990, por aí. Com o CCCP legalizado, tentei pôr a Capoeira nele, em set./outubro de 1988, um dos 3 "polos" dela. (O outro estava num "Motel" e o de meu irmão numa "entidade infantil" do Estado no CN8, que não tinha atividade alguma mas NÃO QUERIA a Capoeira lá... simples assim !)

No hoje CRAS também RECUSARAM... simples assim ! Não me conformei, o espaço era público, DO POVO ! Fui ao "gerentão" da COHAB na área, um certo João (Nunes?), a sede na Av. Arterial 18, em frente ao posto de gasolina. Me deu um bilhete "liberando" o salão do tal Centro... seu "dono" retrucou que ali... "ele NÃO MANDAVA nada", a COHAB lhes tinha DADO o prédio. Sem alternativa, voltei a poderosa LBA - Legião Bras. de Assistência -- que nos apoiava -- e esta oficiou à Cohab, que exigiu do João obrigar os "comunitários" a serem realmente... comunitários. Perderam todos o seu tempo !

RESUMINDO, na primeira noite, uma quarta-feira, tudo "nos conformes"... na quinta-feira teriam reunião da Diretoria bem na hora do treino da Capoeira, o barulho do pandeiro iria "atrapalhar" as conversas, na sala ao lado. Fomos postos na quadra de futebol de salão, às escuras e suja, muito suja. Na sexta-feira tinha reunião dos evangélicos (estes, cheios de "templos" no bairro) NO NOSSO HORÁRIO, claro ! Outra vergonha para o Grupo inteiro, a criançada sem entender nada. A sala ficou vazia, não foi usado pelos "crentes" naquela noite. Na segunda-feira nem houve disfarce, não abriram o salão ! (*1)

Dispensei mestre "Robertão" do compromisso com o CCCP e o Gr. "Berimbau de Ouro" -- que já fora "defenestrado" de outro Centro porque a COHAB cedera a área inteira pros Bombeiros, em fins de 1987 -- ficou sem local para treinos, mantendo apenas uma Roda semanal na principal praça do Conjunto inteiro.

Findaram os problemas ?! Ledo engano ! "Comunitários" daquela área quiseram IMPEDIR as Rodas lá, a praça "era deles" e, Capoeira, "esporte baiano". Usaram até um "PMBox" recém-instalado nela. Recorri mais uma vez a LBA e ao Prefeito "de Ananindeua", evangélico que me disse na cara que "Capoeira era coisa de quem não tem o que fazer" ! ("Porta de entrada para as coisas demoníacas", "sentenciou" livro evangélico de 1982. Nossa Capoeira, 40 anos depois, está sendo muito útil para várias "vertentes" pentecostais, entre outras. É muito OPORTUNISMO !)

O CCCP -- ainda bem vivo em seus primeiros meses -- venceu mais uma batalha... ficamos na praça por uns 2 anos, mas fizemos muitos inimigos. A partir de fins de 1988 a Capoeira teve as portas fechadas em todos os locais de recreação das 8 ou 9 Cidades Novas. A toda poderosa "presidenta" de um deles recebeu carta minha citando o artigo 5 da Constituição, referente à prática de folclore NAS PRAÇAS. Mas, "dei o troco" nela uns 3 anos depois... (*2)

ESQUEÇAM... isso é Passado ! (E nem pode ser contado, agora.) Ninguém calcula o tamanho da nossa insistência -- com modestas "exposições" no CENTUR em junho de 1989 e 1990, usando tiras de cartolina e papel de pão -- até chegarmos à maravilha de julho/1991, a roleta acusando 6 MIL visitas (rodava na saída, também), uns 1200 curiosos, por aí. Tudo graças a Sra REGINA MANESCHI, que apostou em nossa competência. Em 1993 outro Maneschi, prof. Paulo eu acho, nos permitiu mostrar nossos painéis sobre Capoeira para o Brasil todo, via TV Liberal e JORNAL NACIONAL, com a presença do então Ministro dos Esportes, vindo do voleibol. A. Nuzman. Ainda assim tivemos belo prejuízo: 6 ou 8 dos 30 e tantos painéis com fotos exclusivas "sumiram". Com o evento indo até 13, 14hs, funcionários do CENTUR desmancharam a "exposição" lá pelas 10hs, deixando as cartolinas num sofá, no hall do 2º andar, "à disposição" de quem quisesse levar.

ISTO É PASSADO... esqueçam ! Teria alguém consciência das dificuldades que tivemos para pôr a Capoeira no TWH ?! Em 1990 nos impuseram ingressos de 5 CRUZADOS, eu querendo realizar o evento com entrada franca, quitando eu a parcela do Teatro, as taxas de uso, para lotação completa. O diretor NÃO ACEITOU e, dos 110 ingressos vendidos, faltou a cota de 23 deles. Fiz várias reclamações no CENTUR... e nada ! Levei o caso pra DP próxima... ME PAGOU LÁ, 10 cruzados, lembro bem. No ano seguinte, nov./1991, a "vendetta": aceitou minha inscrição e a deu (2 semanas antes do show) para amigo músico recém-chegado de Paris. Ameacei entrar NO PALCO junto com ele... o gajo desistiu ! Prejuízos para ambos... meu evento foi um desastre !

Descobri tempos depois que mantiveram o portão do Teatro FECHADO, informando aos visitantes que o show estava com lotação "esgotada", e nós lá dentro se exibindo para menos de 20 pessoas. O diretorzinho sairia algemado do mesmo TWH ano e meio depois. Mas, ESQUEÇAM... isto é Passado !

"NATO" AZEVEDO (em 9/julho 2024, 6hs)

OBS: (*1) - junto conosco veio um certo "LÚCIO" (L. Y. Martins) também via LBA. Vinha fazer torneios de "pelada" lá, com troféus e medalhas. "Quebrou a cara", o impediram ! Adiante, uma jovem bailarina, com disposição e talento, Anália... com 2 ou 3 meses "expulsaram" professora e alunas. Estamos em 1989: entra o prof "Jararaca" com... com... (eu até engasgo) CAPOEIRA ! Não ficou muito tempo ! Em 1990 entra lá um "saltador" que só pensava em patinar... tinham posto 2 mesas de sinuca no salão, que não podiam ser mexidas. O sujeito ficou lá POR 30 ANOS, ensinando (dizem) CAPOEIRA. Alguém consegue "explicar" isso ?!

(*2) - mal sabe ela que tive chances de tirá-la do posto. Fiz parte do "conselho" (?!) da Diretoria por 2 sessões somente, sem a presença dela. Não suportei, era um bando de interesseiros visando apenas LUCRAR com o uso dos espaços do prédio e da praça ao lado. Me deram o endereço de família nobre no Leste -- que "sustentava" a entidade -- para que EU INFORMASSE que a tal praça estava abandonada e a "cabeça" de nada participava. Agora, leio numa placa no local só os nomes dos "queridinhos" da "leoa", deixando de fora os dos Srs Boucinhas e Castelo, que realmente cuidavam das atividades nela e também da limpeza. Uma bela injustiça !