Mais que futebol
Um país dividido, uma cor verde amarela perdida para a insanidade política. A Copa do Mundo do Qatar 2022, num país do Oriente Médio, onde a cerveja é limitada, a mulher é cerceada, o LGBTQI+ é proibido. Uma competição super tradicional, onde os Deus da bola se fazem presentes. Cristiano Ronaldo, num gol de pênalti se tornou o único jogador a fazer gols em cinco copas diferentes. Messi que salvou a Argentina na segunda partida contra o México. Lewandowski, duas vezes melhor do mundo em 2020 e 2021, perdeu uma penalidade na primeira partida e caiu em prantos ao marcar seu primeiro gol nesse torneio secular no jogo seguinte.
Num Brasil onde as pessoas estavam dispersas, sem olhar mais para a beleza da nossa raiz futebolística, sem ruas enfeitadas, sem comentários e bate papos. Tudo cercado de polaridade. Inimigos políticos. Famílias divididas. Mas a bola rolou na quinta 24/11. 16h, aos poucos o país parou, os olhares estavam voltados ao Lusail Stadium.
Lá estava eu, rodando a cidade de Fortaleza em busca de um lugar para assistir o jogo. Disseram que ia passar na Praça do Ferreira, com um telão. Compramos cervejas, colocamos no cooler, e disparamos ao local. Para nossa surpresa, não tinha nada. E então, nem tempo de pensar tivemos, fomos a um barzinho, numa rua qualquer. Aqueles estabelecimentos, onde andam senhores da melhor idade para jogar sua sinuquinha. Foi o jeito tentar assistir a partida ali, com uma televisão no mesmo nível das cabeças das pessoas que estavam no nosso meio.
Um primeiro tempo de 0 x 0, contra a Sérvia. Um time recheado de craques, como Vini Jr, Casemiro, Neymar. Assim no intervalo sai com a minha turma de amigos e partimos ao Pitombeira, barzinho no meio da rua, frequentado por jovens universitários. E agora por nós, tiozãos, em busca de ver o jogo. Ali era pior. Lotação máxima, TV pequena, mas estava pelo menos animado. Foi ali que acompanhamos os dois gols de Richarlyson.
A contusão do menino Ney, que na mesma hora, foi bastante ‘homenageado’ pela turma jovem que gritava: ‘Ei, Neymar... vai tomar. Banho’. Alguns estavam felizes com o machucado no craque da camisa 10. Deve ser porque ele se manifestou em apoio a um presidente que desdenhou das mortes na pandemia, desrespeitou mulheres, espalhou Fake News. Eu mesmo não torci contra. Não gosto desse jogador como cidadão, não me passa nada de positivo, metido em tretas, acusações de sonegações de impostos. Mas como torcedor da seleção brasileira vejo a importância dele. Jogador que sempre se doou a amarelinha.
Neymar, Daniel Alves, Felipe Melo, goleiro Marcos (ex-Palmeiras) não tem as mesmas preferências que eu tenho. Mas quando veste a camisa sagrada da seleção, eu vejo apenas o talento puro do jogador. Os dribles, os passes, os gols.
Numa competição que ainda tem Mbappé da França que vem jogando muito. Uma Espanha cheia de craques como Asensio, Gavi, Morata e Ferran Torres. O que dizer de Sterling, Rashford, Grealish, Saka e Kane?
Ainda é difícil se acostumar com novembro e dezembro últimos meses do ano, quando já deveríamos estar pensando em Natal, Réveillon e estamos cá, a torcer, a sofrer, a se deliciar com grandes lances. Uma competição que já está marcada como aquela que no fim vai de novo unir os brasileiros, como fez em outras oportunidades. Viva o futebol.