A MOTIVAÇÃO ESTÁ DENTRO DE NÓS: A INSPIRADORA HISTÓRIA DE RULON GARDNER
*Por Herick Limoni
Rulon Gardner foi medalha de ouro na luta greco-romana (Wrestling) nas olimpíadas de Sidney, Austrália, no ano 2000.
Caçula de um grupo de nove filhos de uma família de agricultores do Estado de Wyoming/USA, o pequeno gigante teve uma infância conturbada. Por causa do peso e tamanho avantajados, era vítima frequente das brincadeiras dos colegas. Nos bailes, tão comuns na adolescência, nunca era chamado para dançar e tinha receio de convidar as meninas, em razão dos complexos com os quais convivia desde tenra idade.
Buscando virar a chave, decidiu praticar algumas modalidades esportivas, nas quais não se encaixou pelos motivos mais diversos, até que conheceu a luta que o catapultou ao panteão dos campeões olímpicos. Segundo suas próprias palavras, descobriu uma afinidade instantânea com a luta greco-romana, e o motivo principal residia no fato de não precisar se relacionar e ter a ajuda de ninguém, fator preponderante nos esportes coletivos. Foi na solidão do ringue que Gardner se encontrou. Mesmo com a desaprovação e descrença dos amigos.
Não demorou muito para começar a se destacar no esporte, chegando a sagrar-se campeão estadual. Por essa razão foi convidado pela Universidade de Nebraska a fazer parte de sua equipe de lutas, considerada uma das melhores do país. Na Universidade decidiu que faria o curso de educação física, sendo desencorajado pelos diretores, os quais disseram que ele não teria capacidade de aprender anatomia, por causa de seu déficit cognitivo. Insistiu naquilo que realmente queria, e, uma vez mais, venceu os incrédulos, formando-se educador físico ao final do curso.
Já acostumado a destruir obstáculos, naturalmente começou a pensar nas olimpíadas. Lembrava-se do orgulho e da maravilhosa sensação que sentiu ao ver a delegação americana adentrando ao estádio nos jogos de 84, 88, 92 e 96. Imaginava a felicidade daqueles atletas em representar o seu país, e queria sentir aquilo. Contudo, na sua modalidade, somente um atleta se classificava, e o grande nome americano e favorito à vaga era Matt Ghaffari, multicampeão da modalidade. Meses antes dos jogos olímpicos de 1996, Ghaffari quebrou uma das pernas, o que o impossibilitaria de disputar os jogos. Era a tão sonhada chance de Gardner. Porém, Ghaffari se recuperou a tempo de disputar os jogos, onde foi medalha de prata.
Gardner, por sua vez, mantinha acesa a chama do sonho olímpico, mas, para disputar os jogos de 2000, teria que derrotar o atual vice campeão olímpico, Matt Ghaffari, algo que parecia pouco provável. Porém, a vontade do gigante falou mais alto, impulsionando-o à vitória contra Ghaffari, que garantiu a ele a classificação para os jogos de Sidney.
Em Sidney, apesar de sua compleição física avantajada, o gigante de Wyoming passava despercebido por todos, torcida e imprensa. Poucos do seu próprio país o conheciam. Sua torcida no solo olímpico resumia-se, inicialmente, aos seus pais e irmãos, que fizeram questão de fazer parte desse sonho. Pouco a pouco Gardner foi avançando, derrotando seus adversários, alguns com facilidade, outros com certa dificuldade, até que chegou à final olímpica, algo inacreditável para alguns, menos para ele.
Na final iria enfrentar a lenda do esporte, o também gigante de nacionalidade russa Alexsandr Karelin, que era favoritíssimo - não sem razão - ao ouro olímpico. Karelin havia ganhado a medalha de ouro nas três edições anteriores e buscava a sua quarta, a fim de fechar com chave de ouro (ou seria medalha?) sua espantosa e fenomenal carreira. Para se ter uma ideia dos feitos do russo, basta destacar que ele possuía, naquele momento, um cartel de 888 lutas e apenas uma (isso mesmo, apenas uma!) derrota. Algo inédito e que até hoje não foi superado por qualquer outro atleta. O gigante russo era tão forte que tinha o hábito de levantar seus pesados adversários durante as lutas e jogá-los ao chão, como se leves fossem. Agora, porém, ele iria enfrentar o peso da vontade de um homem que, ridicularizado desde a infância, tinha em seu íntimo a vontade de fazer história.
Para a luta final, Gardner disse ter-se inspirado no filme Rocky IV, em que Rocky Balboa (interpretado por Sylvester Stallone) enfrentaria o também gigante russo Ivan Drago (interpretado por Dolph Lundgren). Era a vida imitando a arte mais uma vez. Em um ginásio lotado, a cada segundo que passava sem que a lenda o derrubasse, a então pequena torcida de Gardner ganhava novos adeptos. A cada segundo mais e mais pessoas passavam a torcer por ele, ratificando a empatia natural que se costuma ter pelos mais fracos. E quando o juiz finalmente finalizou a luta e sinalizou a vitória de Gardner, parecia que 100% do ginásio estava a seu favor, até mesmo os russos. O então desconhecido Gardner entrava, definitivamente, para a história do esporte.
É importante destacar a força interna desse homem que, mesmo diante das inúmeras dificuldades, não desistiu de seus sonhos e, inspirado no exemplo do personagem Rocky Balboa tornou-se, ele próprio, exemplo de superação para muitas outras pessoas.
*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas