A CAPOEIRA NOS JORNAIS DE BELÉM

A CAPOEIRA NOS JORNAIS DE BELÉM

É curioso como a Capoeira é arredia aos Jornais e isso vem dos tempos de Pastinha e Bimba, talvez até antes. Como foram principalmente os Jornais que a "criminalizaram" -- a tornaram marginal, marginalizada, tanto ou mais do que a Polícia da época -- séculos atrás, instintivamente mestres do Passado não a procuravam. Em parte porque, pouco alfabetizados ou sem instrução formal alguma, não viam na Escrita, no texto publicado, algo significativo para suas vidas.

O que se tem sobre os 2 nomes maiores dela foi impresso após suas mortes, bem depois delas. O que lemos antes dos anos 50/60 quase sempre só a denigre... arruaças, badernas, agressões e mesmo mortes, poucas vezes provocadas por "capoeiras" legítimos mas que a Imprensa em geral não se preocupava em investigar, jogando "nas costas" da Luta-Dança dos ex-escravos e de libertos e livres, praticamente todos NEGROS, todo tipo de delito. Pesquisar em Jornais sobre a Capoeira dos 1700 e 1800 se torna um sacrifício, um drama, pois que ela é encontrada tão-somente nas páginas policiais. Portanto, todo "capoeira" era quase um "bandido"... assim a Imprensa de antanho (n)os via !

Para nossa alegria, o reverso desse "discurso" injusto vem por parte dessa mesma Imprensa, nos anos 1960/70, pouco depois que os grandes mestres "Bimba" e Pastinha partiram. Serão as REVISTAS, feitas para jovens (e por jovens, quase sempre) que recuperarão a imagem da Capoeira, a porão num pedestal de Esporte -- rumo que Pastinha e Bimba já apontavam, nos títulos de suas Academias -- e de prática nacional, brasileiríssima. Do pouco que sei, foi a revista DO - Artes Marciais (da EBAL) por volta de 1972, a primeira a inaugurar espaços para nossa Arte, modestos mas frequentes. Lhe seguiriam a famosa ARTES MARCIAIS, inclinada às lutas orientais (*1) mas já dando espaços para os primeiros Campeonatos de Capoeira no eixo Rio-São Paulo e entrevistando mestres dela, quase todos brancos. Infelizmente o público destas revistas era pequeno e circunscrito aos jovens amantes de Bruce Lee e de filmes de KungFu, mania naquela época. Tais revistas não atingiam o praticante de Capoeira de bairros pobres ou de outras Regiões do Brasil, Nordeste e Sul, principalmente.Foi preciso que uma revista realmente nacional, voltada para Moda, comportamento & preferências dos jovens da época -- a famosa Revista POP -- dedicasse breves espaços para a Capoeira, a carioca principalmente, por volta de 1973/74, para enfim nossa ex-Luta de cativos ser assimilada com prática comum à juventude "flower power".

Em Belém a Imprensa sempre esteve aberta aos ases e bambas da Arte-Luta, tanto é que se tem páginas inteiras em tempos longínquos, como os anos 60 e 70 do século passado. "Bois" e Pastorinhas, "Pássaros" juninos de 1900 e pouco admitiam "capoeiras" -- e moleques iniciando nela ou meros "curiosos" das cabeçadas e rasteiras -- como "abre-alas" dos cortejos, Cordões e procissões,a provocar embates em festividades de bairros vizinhos, quase sempre como "tradição" dos 1800 nos arredores de Belém.

Ainda assim, 50 ANOS depois da abertura da Imprensa nacional às práticas e mestres da Capoeira, em Belém raros são os professores a procurá-la. Custa-se a ver breve nota sobre algum evento e nossa FEPAC faz torneios anuais ignorando a força dos Jornais no sucesso de seus eventos. Os poucos mestres que apresentaram projetos com base na Lei Aldir Blanc, em 2020, até onde sei não deram retorno em termos de DIVULGAÇÃO ao apoio recebido do Estado... e é só isso que o Sistema espera dos favorecidos, PROPAGANDA de seus atos oficiais. É assim "que o galo canta" !

Continuo a estranhar que o projeto de premiação anual aos melhores esportistas da Capital -- o Troféu RÔMULO MAIORANA, do Grupo O LIBERAL, ativo desde 1975 -- só não tenha a Capoeira entre êles. Há perto de DOIS MIL jovens gingando na região metropolitana e vemos premiação para esportes com 1/3 disso, como Natação, Boxe, Tênis, Saltos Ornamentais, etc. Também na recente inauguração do "Projeto TERPAZ", belíssimo momento do Governo Hélder Barbalho, mais uma vez o esporte MAIS POPULAR do país depois do futebol ficou "de fora".

Ao menos para trazer a Capoeira de volta às discussões contemporâneas pretendo publicar ainda neste ano uma revista, "A CAPOEIRA NO JORNAIS DE BELÉM", recuperando um pouco do "oceano" de matérias e reportagens positivas que vários Jornais produziram -- alguns já extintos, como a "Folha do Norte e o centenário "A Província do Pará" -- e algo do que está em acervos de mestres locais, além de bibliotecas públicas.

Não vou IMPLORAR a colaboração de ninguém... mas quem me permitir acesso ao seu arquivo terá FOTO de si e de seu acervo na futura Revista. Será um trabalho insano, para 4 ou 5 meses de labuta diária, mas que devo à IMPRENSA de Belém, que sempre me apoiou (e á Capoeira local) quando dela precisei. Que Deus me dê Vida e saúde para levar a cabo essa difícil empreitada. Estou aberto a todos, tanto os amigos quanto "adversários" que possa eu ter, esse projeto não me permite VAIDADES, caprichos. "ALLONS-Y", diriam os franceses ! (*2)

"NATO" AZEVEDO (em 10/março 2022, 6hs)

OBS: (*1) foi doada por meu irmão a um funcionário do MUFPA - Museu da UFPA revista ARTES MARCIAIS dos anos 70 que tratava da presença do grande mestre oriental "CONDE KOMA" aqui no Brasil. Afirmava a publicação que tal Mestre, MATSUO MAEDA salvo engano, JAMAIS LUTOU NO BRASIL. Portanto, pesquisadores de Capoeira que APONTAM luta dele com nossos "capoeiras" ESTÃO DESINFORMANDO... eram seus "secretários", dois me parece, que lutavam e os Jornais faziam a "confusão", que ainda permanece. Tal REVISTA É UM DOCUMENTO que precisa ser recuperado, caso exista em bibliotecas ou com colecionadores. Ouvi dizer que em Belém há até "teses" que apresentam um certo "PÉ DE BOLA" -- mero "arruaceiro" no dizer do escritor DeCampos Ribeiro -- como tendo lutado com o invencível Mestre japonês.

(*2) - ALLONS-Y - segundo um amigo a expressão significaria... "AVANTE" ou "Vamos em frente" !

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Na foto abaixo, reportagem de junho/1987 no jornal DIÁRIO DO PARÁ sobre o Grupo BERIMBAU DE OURO, (mestre "ROBERTÃO") do bairro Cid. Nova 6, em ANANINDEUA, Pará, com fotos de CARLOS RAUDA, o fotógrafo número 1 da Capoeira, no Pará.