RAÍZES & "ORIGENS" DA CAPOEIRA EM BELÉM

RAÍZES & ORIGENS DA CAPOEIRA EM BELÉM

É curioso que boa parte dos "capoeiras" mais jovens, que iniciaram a partir de 1990, ainda creem na esperta estória de que foram os 2 nomes maiores (?!) dela que a "trouxeram" para a Capital. Também eu acreditava nisso, até entrevistá-los em março de 1989, meia hora gravada com cada... um deles já havia me dado depoimento em nov./1987, "de passagem" por Belém, êle que só vivia no interior. Sérgio Nazaré, presente no evento do SESC-Doca, também deu suas opiniões, que não gravei. Tal registro se perdeu, emprestei a fita e o filho do "traste" (que me pedira) a destruíu. A outra, de 3/1989, talvez também não exista... quando entreguei 11 páginas datilografadas com as "barbaridades" contadas pelo fanfarrão, este achou melhor "requisitar" a fita "para o seu acervo". Mal sabe "Zumbi" que o sujeito afirmou ser Sérgio Nazaré seu ALUNO, pois ficava na janela -- não disse onde -- vendo o grande mestre ensinar... se é que ensinava ! Nas palavras dele próprio, quando aqui chegou em 1976... "estava em Belém um certo Carlinho, vulgo "Babel", mestre "Babel". Portanto, êle não era o primeiro !

(*1) Já o outro encontrou aqui um certo Lourival -- não deixou claro se seria "capoeira" -- que o teria ensinado a fotografar na praia de Icoaraci. Estranhamente, não se tem fotos do mestre na época, exceto o que se vê em um ou outro jornal antigo.

Como o depoimento dos "pioneiros" era cheio de lacunas (?!) e "reticências" e não me satisfez, decidi procurar na biblioteca do CENTUR as origens reais (sem fantasias) da Capoeira na Capital e passei meio ano pesquisando jornais para encontrar alguma referência. Na Redação de O LIBERAL atuava o jornalista Álvaro Martins, ligado às Artes Marciais e que me deu "dicas" importantes: o já diretor na TV RBA Camilo Centeno e o jornalista do Society local "Pierre Beltrand" (ou seria Klaus Keller ?) que teria nos longínquos anos 50/60 um programa de variedades (ao meio-dia ?) na TV MARAJOARA, que exibia lutas entre "capoeiras" e "boxeurs". Aliás, o velho mestre A.B.S. cita algo parecido em seu depoimento, mas sucedendo no espaço náutico do Remo, na Cidade Velha.

Em livros antigos há a citação de um grupo de guardas reais que teriam aprontado o primeiro "arrastão" de que o Brasil teve notícia, lá por 1754 eu acho, fato citado nos "Anais da Província de Belém do Grão-Pará e Amapá".

Todo e qualquer arruaceiro era tachado de "capoeira" e todo "capoeira" era vadio e... desordeiro. Logo, muitos que mal sabiam da "Arte da pernada" levavam a vida com fama de "bambas da Capoeiragem". Em seu livro de memórias dos anos 1890 até 1930, mais ou menos, DeCampos Ribeiro (que nasceu em 1905) desmistifica boa parte desses "ases da rasteira", meros malandros chinfrins, A pesquisadora Maria Zeneide é categórica ao afirmar que no romance de Marques de Carvalho (de 1895 ?) "Hortênsia" ou algo assim, o personagem malandro que a explora e maltrata é um "capoeira" ! Li eu a mesma obra e nada vi nela que me GARANTISSE tal qualidade para o biltre. Não há garantias de que os antigos "capoeiras" tão citados em livros da época seriam realmente conhecedores da prática. Em sua tese (agora livro) "MULHERES INCORRIGÍVEIS: capoeiragem, desordem e valentia nas ladeiras da Bahia - 1900/1920", Paula Juliana Foltran Fialho desmistifica boa parte da fama de algumas das "arruaceiras" mais conhecidas na capital soteropolitana.

Isso pouco importa... havia "capoeiras" aqui em Belém durante meio século antes das 2 maravilhas chegarem. E vou além... os Grupos teatrais que vinham do Nordeste e do Rio de Janeiro na época dos Círios (nos anos 40/50) traziam "capoeiras" entre êles. Alguns certamente quedavam por aqui várias semanas, a repassar o que sabiam da Dança-Luta baiana. Uma coisa é certa... a maioria veio do Maranhão, tanto naquela longínqua época -- o "segurança" do prefeito Antônio Lemos era um, lá por 1715 -- como na era contemporânea, anos 70/80 do Século XX. Me parece que os mestres "China" e "Sapo" são de lá, mestre "Robertão" também... certamente existem outros mais ! (*2)

São as "RAÍZES modernas" da Capoeira na Capital, embora as ORIGENS continuem sendo um mistério difícil de ser desvendado. Levantamento recente que fiz entre "capoeiras" antigos de Belém aponta outros nomes -- "Pula-Pula", "Decente", "Brinco Dourado", "Mundico" (hoje mudado pra "Rai") e inclusive um certo "Maranhão" -- o que reduz a pó a estorinha "mal contada" ligada ao nome dos 2 "precursores" da Capoeira local, mesmo que não tenha sido divulgada por êles. Há muito o que pesquisar EM BELÉM ainda, longe de fanatismos, bairrismos e parcialidades !

"NATO" AZEVEDO (em 22/dez. 2021, 21,30hs)

OBS: (*1) - um certo mestre MARINHO, em 1990 no bairro Cidade Nova 4, me daria seu cartão de visita, talvez o único "capoeira" daquela época com um CARTÃO... já nas Rodas nunca ouvi falar de sua presença em nenhuma !

(*2) -o pesquisador da UFPA Augusto Leal me envia em 28/dez. pp extenso email, do qual reproduzo pequena parte, abaixo:

"Sugiro que leia "A política da capoeiragem". Lá eu indico as referências antigas da capoeira do Pará. (...) Além de Lourenço, Caboclo, Malaquias, Pé de Bola e Lenço de Seda, poderás conhecer a história de Cabralzinho e outras figuras da Época. Inclusive, da primeira mulher capoeira, em 1876, Jerônima."