OS ARQUIVOS E A CAPOEIRA

OS ARQUIVOS E A CAPOEIRA

"...com a invenção dos meios de fixar o som

e a imagem conseguimos reter e transmitir

essas manifestações artísticas que há cem

anos atrás se perdiam inexoravelmente".

JORGE COLI - in "O que é Arte", Primeiros

Passos nº 46, edit. . Brasiliense, SP

Escrevendo à respeito da sobrevivência dos objetos artísticos Jorge Coli argumenta que, por melhores que sejam as técnicas de recuperação, o filme, quadro ou disco que vemos e ouvimos hoje tem muito pouco do que foi no período em que o criaram, o pintaram ou gravaram. Logo, para a Capoeira, a velocidade registrada originalmente em fitas Super-8 ou filmes p/b dos primeiros tempos dela, em 18 ou 24 quadros por segundo, interfere na compreensão dos movimentos reais.

Vou além: num tempo de amplo desconhecimento da Capoeira, dos seus verdadeiros praticantes, seria aceito como tal qualquer um que se declarasse (a um jornalista0 "bamba", ás ou Mestre -- isso entre 1810 e 1940, ou seja, do início dos primeiros jornais no Brasil ao período da "massificação" dela -- principalmente se o elemento citado fosse negro. Disso se valiam "malandros" de todo tipo e a Guarda Real da época estava interessada em "voluntários" para combater as diversas revoltas. E chegaríamos ao Século XX com praticamente "todo mundo" identificado como "capoeiras", seja em romarias, na proteção de políticos, nos "cantos" e nas feiras, nas festas do povo, nas procissões e no átrio de cada igreja de Salvador. Vai daí, todo pesquisador tem um enorme contingente de "ases da Capoeira" (?!) apontados em jornais e revistas, sem que o repórter se desse ao trabalho de investigar o real currículo do citado... o termo "CAPOEIRA" trazia leitores !

Pouco entendíamos de jornais (além de vendê-los), meu irmão e eu, quando criamos o CCCP - Centro Cultural de Capoeira do Pará em maio/junho de 1988... tivéramos experiência com a reportagem no Diário do Pará de 17/junho de 1987, porque o fotógrafo Carlos Rauda conseguiu página inteira para o Grupo "Berimbau de Ouro", de mestre "ROBERTÃO" (Roberto Almeida), mestre que era mestre mesmo ! Curiosamente, os Bombeiros requisitariam o prédio em out/novembro daquele ano, "decretando o fim" do Grupo, que não encontrou novo local. Na tal reportagem havia depoimento de um sujeito se dizendo "com Grupo", êle que nem cacoete tinha de instrutor da dança-luta. Adiante, seria "uma pedra no sapato" de nosso Centro, como "responsável" pelo tal Grupo (fantasma, no tempo da reportagem) e usando o Comércio local para suas "negociatas". O Centro findou com a pecha de "bandalheira, safadeza e picaretagem" -- não sei se por causa dele -- porém colaborei ao publicar em 4/jan. de 1990 página inteira de futuros projetos do CCCP a partir de doação (?!) de 1 MILHÃO de cruzeiros da época (suponho que uns 150 mil reais hoje, 2021) a serem nos repassados pelo Governo federal, via um Ministério depois extinto, junto com a LBA - Legião Brasil. de Assistência.

Tal promessa NUNCA EXISTIU... devo ter dado um grande susto no tal Ministro da Ação Social, um enorme prejuízo aos jornalistas e à Redação -- que confiou em minhas declarações -- e o citado acima, dono do jornal, optou por "cacifar politicamente" a declaração fantasiosa, ao invés de me processar por envolvê-lo.

Naquela época repórteres nada anotavam, guardavam tudo "de cabeça"... tinham ótima memória contudo, por outro lado, saíam enormes bobagens, coisas que não disséramos -- um certo "fio de saxofone" foi uma delas -- declarações absurdas por parte de jornalistas que NADA entendiam de Capoeira. Eu produzia páginas (press release) com todos os temas que abordaria na entrevista, nem assim evitava que escrevessem "asneiras" em meu nome.

Portanto, pelo menos em Belém, quem fôr pesquisar que se acautele... o "Museu de Capoeira" anunciado em nov./1990 (num jornal de bairro, via O LIBERAL) nas dependências da antiga UFRA -- hoje Ciências Agrárias, no Guamá -- por um mestre oportunista NUNCA EXISTIU ! Dele também uma certa Associação de Mestres e Contramestres -- fundada lá por 1995/96 com 72 mestres (?!) e "guerra de bolos" -- me parece que nem saiu do papel, no caso com êle. O "SuperBatizado" (dele, claro) com ingressos a 5 reais em 1994 eu acho -- num Shopping recém-lançado e com dez mestres nacionais como "convidados" -- também "fez água"... durou meia hora ou nem isso ! Rendeu "bafafá" num programa policial de canal de TV devido à invasão dos jovens skatistas ao local da tal Roda, além de desmentidos oficiais da direção do Shopping e de desculpas tardias da TV que noticiou o fato, a partir das "denúncias" do "mestre-maravilha". Não estou inventando nada...

CONCLUINDO... jamais recebi o tal MILHÃO para o CCCP e nosso primeiro show no TWH - Teatro Waldemar Henrique, em Belém no dia 19 ou 20 de nov./1989 teve a presença de só metade dos artistas convidados, pois 4 ou 5 deles não compareceram devido à greve dos ônibus, sempre nesse período, e apenas 1/3 do tempo previsto para as apresentações, me irritei e encerrei o evento lá pelo meio. Logo, quem pesquisar PELOS JORNAIS que tome cuidado; nem tudo o que ler SUCEDEU realmente !

"NATO" AZEVEDO (em 17/out. 2021, 17hs)

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OBS: comentando a foto do tal Jornal meu irmão definiu que foi melhor não ter recebido aquela verba... NINGUÉM QUERIA a Capoeira em lugar nenhum, todos a recusavam na época, por isso não teríamos onde gastar tal valor e comprar 1 terreno para isso estava fora de nossos planos, pois consumiria boa parte da doação.