AS INCERTEZAS DA VIDA

AS INCERTEZAS DA VIDA

"...a crítica não é a própria metáfora,

mas está acima dela" - G. FICHTE.

Num curto período de tempo, entre 1790 e 1805, quatro grandes pensadores encontraram-se na mesma cidade e universidade, a de Jena, em alguma região da Alemanha de imperadores e assemelhados. O filósofo Schiller seria o mentor dos outros, nem sempre amigos entre si, mas disputando a primazia do Pensamento sobre "as coisas-em-si", os mistérios da Vida, as incertezas (e incoerências0 dela. Schelling "roubaria" em 1803 a esposa do irmão de seu amigo Schlegel -- já havia divórcio naquela época -- aos 28 anos e Fichte, não sei se amigo de ambos, ao que parece não perdoou a "traição" do novo casal aos 2 irmãos, amigos seus.

Fichte publica em 1801 seu depois definitivo livro "Exposição da Doutrina-da-Ciência", com teorias que já vinha elaborando desde 1794... Schelling não deixa por menos e lança no mesmo ano seu "Exposição do meu Sistema", que Johann G. Fichte quase insinua serem bobagens. Por sua vez, (Friedrich ?) Schelling "desanca" as teorias do então rival, ambos professores na Universidade de Jena. Fichte sairia de lá em 1799, expulso por ateísmo e "conspiração contra o Regime" mas, antes, deixou seu protesto ao sugerir aos gaiatos "que segurem o riso", "que seus comentários são dispensáveis" e que "já é bastante infelicidade terem dito" o que escreveram em seus artigos. O comentário tinha "endereço certo" e Schelling acusou a estocada maligna... "Meu Deus, protege-nos de nossos amigos, pois dos inimigos cuidamos nós" !

Não sei como findou a querela "entre tantas cabeças admiráveis" -- fina ironia de Fichte -- contudo este tem argumentos de peso que "bateram de frente" cm os conceitos religiosos da época, daí o tacharem de ateu e o expulsarem até da cidade. O filósofo questionou as bases das Ciências, de doutrinas, Religiões enfim. Segundo êle, a partir de uma definição inicial -- um dogma ou conceito, noção -- tida como CORRETA, juntavam-se a esta inúmeros "penduricalhos" que não passavam por análise alguma. Nessa crítica poz em dúvida a existência de Deus, a imortalidade da alma e os tais "seres humanos com asas" que ninguém nunca viu... os anjos !

Discordo apenas num ponto: de acordo com êle, para se expor uma crítica é preciso estar acima (em Conhecimento) do texto ou relato produzido. Isso tem cheiro de "restrição à liberdade de expressão", soa como "repressão", limite elitista aos possíveis comentários. E onde entra a CAPOEIRA nisso tudo ?! É de Fichte o exemplo de que todo "edifício" -- seja prédio, Doutrina ou prática de alguma espécie -- exige não apenas uma base firme sobre solo idem, mas também paredes e colunas sólidas, tão testadas e APROVADAS quanto a fundação, o baldrame ou coisa que o valha.

Ao corrigir um aluno formado em Roda livre ou aberta, meu irmão recebeu deste resposta seca:

-- "Eu tenho a melhor fonte, não preciso de nenhuma outra" !

Logo, se a "fonte" dele não se preocupou em TESTAR (e comprovar) o que lhe foi passado, ensinado... se aprendeu "invenções" que a Capoeira nunca teve, então o Conhecimento do aluno é quase nenhum e se tornará professor de "coisas" que a Capoeira "não deveria ter" MAS TEM !

Sempre tive curiosidade em saber efetivamente o que seriam os FUNDAMENTOS tão falados na trissecular "Angola": seriam palavras, exemplos morais, práticas passadas só para alguns poucos ?! Segundo Nestor "Capoeira É O JOGO na Roda"... segundo meu irmão "quem faz as regras é a Bahia", onde ela nasceu e "quem não vive na Capoeira nem devia escrever sobre ela", se referindo a mim mas "batendo" em vários autores "leigos' que a descreveram, Waldeloir Rego entre êles.

Como nos jogos "nas Rodas" NÃO SE VÊ os tais Fundamentos, eu poderia ousar dizer que êles não existem, se acaso existiram. Se entre os tais Fundamentos estão os "Passo a Dois" (de 4 ou 5 a 30 !), diria que estão muito deteriorados. Ainda citando meu irmão, "o segredo da Capoeira" ocultado por mestre Pastinha seria somente o conhecimento do "Passo a Dois" (os golpes, todos sabiam), um cavalheirismo, "cortesia esperta" com o oponente que estivesse em desvantagem técnica, "perdendo" no jogo, quem sabe um "descanso", como o "rodar", quando se troca de parceiro. Enquanto LUTA que a Angola também é, nasceu assim (ou daí), o "Passo a 2" me parece um desses "penduricalhos" (de Fichte) acrescido ao principal E INÚTEIS, ao final de tudo.

"NATO" AZEVEDO (em 4/out. 2021, 5hs)