"...SEI TOCAR MEU BERIMBAU" !

"...SEI TOCAR MEU BERIMBAU" !

"Mas tenho a graça divina /

e a minha Capoeira... (*1)

sei tocar meu berimbau" !

me. LEOPOLDINA (trecho

final de ladainha, anos 70)

A acelerada evolução da Capoeira em nosso dias nos leva a concluir que as músicas do Passado... ficarão no Passado ! A quantidade inacreditável de CDs lançados nos últimos 10 anos e a propensão dos tais MegaGrupos de cantar preferencialmente seus próprios "corridos e ladainhas" me permite deduzir que qualquer cantador que "puxe algo" dos anos 80/90 vai ficar "falando sozinho". Em vídeo de Roda recente (2020) em Belém nota-se que as respostas são mais animadas (?!) quando a chula é de um CD de mestre do Grupo. E vai-se além... temo ter visto palmas quando o mestre dignou-se jogar "entre os mortais" na "Roda aberta", que até o antigo termo LIVRE parece ter saído de cartaz.

Faz sentido: traduzimos mal o termo "FREE" inglês que, como "gíria" americana, vale como GRÁTIS, que dispensa pagamento. Nos anos 50/60 usavam o francês "entrada franca", tendo o adjetivo o significado de PERMITIDA, "franqueada" ao povo. O "ABERTA" faz mais sentido do que LIVRE, pois o inverso é "Roda fechada", particular e não... "Roda presa" !

Bobagens à parte, mulher NÃO TOCA em Roda nenhuma... não tocava nos anos 70 e, salvo engano, continua "fora do Ritmo" até hoje, 50 ANOS depois. Me pergunto se os professores (e mestres) atuais dedicam pelo menos 15 MINUTOS dos seus treinos diários à questão musical, pelo menos de atabaque e pandeiro, já que berimbau ninguém quer aprender. Nos anos 70 também não havia treino SÓ DE MÚSICA e se formaram inúmeros Mestres de excelente jogo e uma "lástima" tocando ou cantando. Parece SINA da Capoeira que só aprenda a tocar berimbau QUEM QUER APRENDER... isso limita os tocadores a 3 ou 4 por Grupo/ano, saindo de cada Academia inúmeros praticantes incompletos.

A LIBERDADE que a Capoeira defende, representa e incorpora enquanto atividade talvez impeça a obrigatoriedade de se aprender a parte musical, no entanto isso a descaracteriza sempre mais, a ponto de em breve voltarmos à tal "capoeira do Sinhô" só de palmas e gritos. Embora não se vá LEGISLAR (via Federações) sobre tal matéria, MÚSICA e Canto são a ALMA da Capoeira, sua roupa de gala, sua ligação "com os Deuses", para os que os têm e acreditam neles.

Se aos iniciantes se permite ignorar os instrumentos, todo aluno de grau médio -- a "corda azul" de FORMADO, nos anos 70 -- tem OBRIGAÇÃO de saber os 4 ou 5 toques básicos essenciais ao jogo (nunca achei o "Samba de Roda" como "parte" da Capoeira), de cantar razoavelmente para ser ouvido num salão sem usar microfones e tocando com firmeza o berimbau. Se não faz nada disso, não deve passar aos graus maiores, Capoeira não é lugar para favores nem bajulação... ou teremos adiante Mestres fracos nos fundamentos básicos e "ensinando" alunos ainda mais deficientes. Depois queremos apontar estrangeiros que se mostram melhores do que nós EM TUDO !

"NATO" AZEVEDO (em 5/set. 2021, 17hs

OBS: (*1) alguns cantam como... "de saber a Capoeira ; e tocar o berimbau", etc. É curioso que a letra é uma crítica velada aos que, já naquela época, SABIAM POUCO ou tocavam mal !!! O título surgiu da forma como o exímio percussionista "BEBETO MONSUETO" me apresentou a ladainha.

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(onde está ; é uma barra)