PARA QUÊ SERVE A ARTE ?!

PARA QUÊ SERVE A ARTE ?!

"...na obra de arte a inteligência se torna

totalmente autoconsciente. (...) Dessa

forma, a Arte seria o objetivo último para

o qual tende toda a inteligência". (pag. 8)

Friedrich von SCHELLING, in "Os Pensa-

dores", edit. NOVA CULTURAL, 1991, SP

Numa breve "limpeza" do amontoado de papéis (jornais, cadernos, livros) de um dos cantos de meu quarto surgiram 4 ou 5 apostilas -- de Filosofia quase todas -- além de uma "O que é Arte ?" em xerox, de um certo Jorge Coli, da famosa coleção "Primeiros Passos", da editora BRASILIENSE. Livro dedicado à memória do seu irmão Vicente, coisa surpreendente... seria o irmão um artistas ?! A discussão sobre o que é Arte é eterna, os conceitos variam, se chocam, se contestam ! Para o povo, a gente comum, quase nada É ARTE... logo, o oleiro de moringas e vasos não se vê Artista, apenas operário do barro.

O entendimento da Arte como "obra ÚNICA", sem repetições, cópias, é outra questão a embaralhar a discussão, pois camisas e calças feitas em série pela indústria jamais serão Arte, porém o modelista manual (costureiro ou algo assim) que produz originais exclusivos tem seus vestidos vistos como "obras de Arte". Já dizia SCHELLING que... "a inteligência teórica contempla o Mundo; a inteligência prática ordena o Mundo e a inteligência estética cria o Mundo". (id.ibidem). "A Arte seria a verdadeira Filosofia..."

O Autor cita o escândalo que foi nos anos 50/60 a descoberta de um falsário (?!) que de tanto reproduzir obras de seu artista predileto conseguiu IMITÁ-LO de tal forma que especialistas no falecido artista foram enganados quando "novas telas desconhecidas" surgiram, para espanto da Europa. O falsificador findou preso... onde conseguira tais relíquias ?! Respondeu que êle mesmo as pintara ! Passou por mentiroso e ladrão de arte até que lhe cederam na prisão tinta, pincéis e uma tela. Surgiu então o "milagre": pintura tão igual à original que pareceu aos peritos e antiquários "espantosamente autêntica" ! Resultado: todos os quadros do tal Autor -- o verdadeiro, no caso -- perderam muito do seu valor, para desespero de quantos os adquiriram. Não se podia mais saber quais eram ORIGINAIS !

Ao ler poucas das quase 90 páginas já meio mofadas lembrei de nossa exposição mais famosa, mais visitada no CENTUR de Belém, nas férias de 1991, num dia 8 de julho (até 26), a cidade completamente vazia, 30 ANOS atrás. (*1) Foi só o que fez o tal CCCP, mas nos orgulhamos até mesmo das "capengas" de 1989 e 1990. A SECULT decidiu nos apoiar, cedeu material, enviou 92 cartas para artistas de todo tipo, convidando-os a produzir ARTE com o tema Capoeira... vários responderam ! "Eliminei" o estilo "arte abstrata, cubista", para desespero do jornalista Hamilton Braga, que protestou contra o "pré-conceito", a discriminação. Então, não era "para TODAS as Artes", aliás título da exposição que, se não foi a maior da época no Brasil inteiro, foi sem dúvida A MELHOR !

Foi um sucesso, três TVs cobriram a inauguração, os jornais todos... só esquecemos de deixar alguém responsável para RECEBER as obras, não nos foi informando nada a esse respeito. Vai daí, muito artista deu "marcha a ré", não havia ninguém para se responsabilizar pela guarda delas.

Ainda assim, um gentil artista plástico iniciando, GILVAN TAVARES (por onde anda ?!), participou com 3 belas telas, inesquecíveis... que sumiram nas 3 ou 4 mudanças que a Vida errante nos impoz. Meu irmão lembra de figuras em borracha/latex -- de alguém de Icoaraci -- e eu de mãe e filha, esta com uns 15 anos, Aquarelas belíssimas, lamentando não terem entrado na Exposição, cuja montagem concluíamos naquela manhã. O simpático Gilvan Tavares foi quem fez os melhores registros da exposição "A Capoeira em todas as Artes", com fotos EM CORES (as dos jornais eram em p/b) e do salão inteiro, pelos dois lados. Gilvan nos doou 2 das 3 telas com as quais participou. Tempos depois (1993 ?) faria sua primeira Individual na Basílica, na galeria lateral à Catedral. Fui ver e gostei !

Modéstia à parte, como nossa Exposição não houve nada igual por anos no Brasil ! "Arrastamos" parte da Exposição até 1993/94 por todos os locais de Belém, chegando até a Marituba.

Afinal, para quê serve a Arte ?! Para embelezar os dias da civilização, espantar, alegrar, registrar atos e costumes, "ETERNIZÁ-LOS" !

"NATO" AZEVEDO (em 18/julho de 2021, 15hs)

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OBS: (*1) - encontrei sobre estante lá de casa o único cartaz da exposição itinerante de 92/93 (em compensado de 4 mm, 50 x 70 cm), ainda com trechos amarelados de reportagens da época e, nele, espécie de "prestação de contas". Há um balanço das atividades burocráticas do CCCP: cartas para a SECULT/Belém (20), PMA (18), LBA (10), COHAB (6) e SEDUC (?!) além de 6 para o Palácio Lauro Sodré, Governo Hélio Gueiros, mais 11 cartas para o Exterior e 18 para Brasília, estas praticamente ignoradas. Nelas, vários projetos como o "Museu da Capoeira', difusão da Capoeira nas escolas DO INTERIOR (à SEDUC, carta de 23/jan. 1989) e principalmente 1 LIVRO sobre a História da Capoeira DE BELÉM, proposta entregue ao prof. Franklin Tavares, da SEMEC, em 21/fev. 1989, que eu conhecera em 1984/85 no DEFIDE, hoje DEAF.

No mesmo cartaz, relação breve do acervo, sem citar os Jornais, uns 200 em 1991... chegariam aos 415 em 1996, quando decidimos vender o acervo: "106 fotos p/b e 90 coloridas, além de 10 livros, 20 livretos e (60 ?) revistas, 54 cartazes e posters, 65 "slides", 14 discos LPs e mais postais, jornais, xerocópias e 1 VÍDEO (este, fita VHS de nov./90, no antigo ISEP)". As fitas VHS totalizariam adiante quase 20, boa parte ainda conosco hoje, meia dúzia delas da Capoeira paraense. Infelizmente, num momento impensado em 2009/10, vendemos tudo como "papel velho", na RIOPEL, ainda em Belém, no Marex, eu acho.