Esporte e Política

Quem não gosta de algum esporte?

Temos no Brasil uma grande maioria aficionada pelo futebol. Tem aqueles que preferem esportes individuais, como as lutas, ou surf, tênis talvez, automobilismo. A variedade de esportes é enorme, e muito provavelmente sempre vai existir ao menos um que “mexe com você”.

Mas quando foi que começaram a misturar esporte com política?

Isso é sacanagem.

Então, vamos tentar entender.

É impossível dizermos com exatidão quando começou a existir o esporte em si. Antropólogos acreditam que práticas parecidas eram feitas por povos primitivos à fim de agradar aos Deuses. As atividades físicas por exemplo, que são predeterminantes para todos os esportes, já existiam quando lá no início da humanidade nossos ancestrais eram obrigados a desenvolverem habilidades complexas para sobreviverem, como caçar, atividade que exigia destreza em arremesso de lança ou arquearia; correr saltar e nadar, para fugirem de predadores ou emboscar alguma presa ou explorarem novos ambientes. Mas em relação ao esporte, a China Antiga possui o primeiro registro da existência de atividades semelhantes a ginástica em 4.000 a.C.. No Egito descobriram um mural com desenhos que mostravam o que parecia ser um tipo de luta em movimentos que indicavam uma certa organização com técnica e tática.

O primeiro registro de instituição premiando esportistas em dinheiro ocorreu em 580 a.C. na Grécia, sendo assim um início aceitável do profissionalismo dos esportes.

Não pretendo me alongar muito sobre o assunto do surgimento do esporte de modo geral, mas essa base é importante. Pois onde a política então, entra nesse bolo que tanto nos alimenta?!

Primeiro partindo de um princípio conceitual, o que é Esporte?

De um jeito simples, esporte é um jogo que possui regulamentos que são regidos por uma instituição reconhecida em todo o mundo. Ou seja, esporte é um jogo onde em qualquer lugar do mundo as regras são IMUTÁVEIS. Futebol por exemplo possui diversas federações pelo mundo, mas as regras são as mesmas em qualquer lugar do mundo. Assim como o vôlei, o xadrez, handebol.

Diferente do bétz, também conhecido como Taco em alguns lugares, por exemplo, possui regras diferentes para cada região, ou até mesmo de um quarteirão à outro. Isso faz com que o bétz seja um jogo, não um esporte.

Tá me acompanhando?

Logo, para o esporte existir, depende de diversos fatores, político principalmente.

Com tudo isso, chegamos ao ponto crítico, ao Esporte-Espetáculo.

Segundo alguns autores como Rodrigues e Montagner (2005), o Esporte-Espetáculo é o desporto praticado no alto rendimento reproduzido por diferentes meios de comunicação, sendo o mais poderoso a mídia eletrônica (rádio, televisão, internet).

É esse Esporte-Espetáculo que está sempre em nosso cangote. O futebol no Brasil faz parte desse nicho. O esporte torna-se espetáculo para agradar a população, agradando a população o lucro é certo. Quando o lucro entra em cena, o esporte em sua essência fica em segundo plano, o lucro entra sempre em primeiro plano.

Munido de toda essa informação, lembremos da famigerada Política do Pão e Circo dos líderes romanos. Que consistia em uma estratégia para apaziguar a massa. Desde sempre quem detém o poder é a população, (embora até hoje a população ainda não tenha entendido isso direito), então quando a população romana parecia se incomodar com algo que os lideres estavam fazendo, e revoltas começassem a ameaçar “a paz”, eram oferecidos grandiosos banquetes, festas, eventos artísticos e esportivos, assim como distribuição de alimentos (pão). Apenas para controlar a massa, mudar sua opinião em relação aos benevolentes líderes romanos.

Consegue ver como isso existe até hoje?

A política e o esporte estão sempre ligados, pois a política está ligada a praticamente tudo que está ao nosso redor. Se existe político buscando se manter no poder, ele vai se utilizar de tudo que a população gosta para tentar moldar a opinião da maioria.

E aqui no Brasil, o futebol é a principal ferramenta relacionada aos esportes para moldar opiniões da massa. Como esquecer as propagandas durante o período da Ditadura Militar através do futebol com o slogan “Pra frente Brasil, Salve a Seleção” a fim de consolidar uma imagem populista buscando aflorar um patriotismo de uma pátria que torturava a oposição.

E esse governo ditatorial, com Médici como presidente, possuía um relacionamento intrínseco com a Seleção Canarinha através da Confederação Brasileira de Desportes, dando palpites nas convocações, o que irritou João Saldanha, treinador na época, que não se curvou à opressão e provocou: “Ele escala o ministério dele, que a seleção escalo eu”. E mesmo montando o time campeão do Mundo, em um ato de retaliação de Médici, que não aceitava ser contrariado, perdeu o cargo.

Implementado após o sucesso da Copa do Mundo de 70 oficializado como Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o campeonato nacional era comandado pelo João Havelange, presidente da Confederação na época, usando sua influência, junto com diversos outros presidentes de Federações Estaduais, que eram militares com carreira política, para uma unificação nacional do campeonato. Assim nos anos seguintes houve uma expansão exagerada do campeonato para agradar as Federações, ainda mais quando o regime ditatorial se via enfraquecido, surgindo o bordão “Onde a Arena vai mal, um time Nacional”. Nesse período o governo construiu diversos estádios com capacidade acima de 40 mil pessoas pelo Brasil, em mais um ato de aproximação do governo com o futebol na época.

Com o governo tomando conta cada vez mais as rédeas das tomadas de decisões do campeonato nacional, começam a surgir entre os atletas movimentos de oposição, entre eles o principal sendo a famosa Democracia Corinthiana, sendo Sócrates visto como um símbolo, tendo suas comemorações marcadas como um ato de resistência com o punho cerrado para o alto. Além de lutarem contra os mandos e desmandos do governo no campeonato, também lutavam contra a ditadura e a favor da volta da democracia e do voto impresso, inclusive estampando sua camisa em prol das Diretas Já.

Durante a ditadura, é importante ressaltar um outro movimento de resistência e luta, a criação da Coligay, torcida Lgbtqi+ gremista, que enfrentou o preconceito e a discriminação. E ainda entre as torcidas, tivemos também a Fla-Diretas, movimento dos torcedores flamenguistas pioneiro no canto nas arquibancadas pela volta das diretas.

Todo esse movimento no futebol causa um furor enorme entre a população, aumentando cada vez mais os protestos e ida as ruas exigindo democracia.

Então, falar que futebol e política não se misturam é no mínimo desinformação. Governos usam da influência do futebol para angariarem popularidade, assim como futebolistas e torcedores protestam contra.

Hoje estamos ainda em uma democracia, tornando um direito à livre expressão e oposição ao governo, mas o que vemos são represálias à quem se opõem ao bolsonarismo, como aconteceu com a Carol Solberg, que por gritar “Fora Bolsonaro” foi julgada pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da Confederação Brasileira de Voleibol.

Em contrapartida, a então presidenta Dilma Rousseff durante a abertura da Copa do Mundo de 2014, foi vaiada e ofendida por todos no estádio, e em nenhum momento perdeu sua compostura. E na época, não houve nenhuma comoção em considerar absurdo misturar futebol com política.

Torno a dizer, falar que futebol e política não se misturam é no mínimo desinformação, mas também é ser parcial, pois se a política é de um ponto de vista que você concorda, então você aceita, mas quando é oposto ao que você acredita, então não pode. Esse pensamento é pequeno, mesquinho, ignorante.

Se você leu até aqui, então você já possui informação suficiente para entender que política está intrinsicamente ligada ao esporte, querendo ou não. São indivisíveis pois um se utiliza do outro para controlar as massas, ou protestar contra opressões. Enquanto nosso papel é de nos mantermos informados, protestarmos quando necessário, e ouvirmos pontos de vistas diferentes. Discutirmos em busca de soluções e estratégias para não sermos enganados, e assim, talvez construirmos um futuro no mínimo promissor.