AH, MEU TEMPO... FAZ TANTO TEMPO !

"Quando os negros de Aruanda / cantavam todos iguais", a Capoeira dava seus primeiros passos, ainda só Angola, ainda apenas com escravos, com libertos, com nascidos livres graças a Lei Áurea, ainda somente com "gente grande", sem mulheres e muito menos crianças. Eram os 1.800, já perto do Século 20 e o antigo "m'bolungunga", adiante berimbau -- feito do "biriba", da goiabeira ou outros paus -- já se incorporara às Rodas, à Dança e à ginga da luta de esquivas e negaças, mais do que do "barulho", da confusão, "vias de fato" !

Os Negros -- bisnetos e trinetos dos ancestrais que cruzaram o tenebroso mar, túmulo de quase todos -- cantavam todos iguais ! Lá se foram 3 SÉCULOS e o autor desta "chula" (ou "corrido", ainda não sei direito a diferença) está "na berlinda", não por seu disco LP magistral e que marcou época mas por "ações" movidas por instinto animal, onde coração e Consciência são soterrados. Como fica o Grupo, o trabalho de 50 ANOS, o conceito que teve por 3 ou 4 décadas ? Vai tudo "pro lixo" da História e quem está na Associação agora "paga o preço" da bestialidade que desconhece castigos e não teme punições, dívida eterna com a coletividade.

A Internet nos traz informações relevantes, registros e costumes pouco ou nada conhecidos. Do Maculelê temos lição que era a base do comportamento de quem visitava Grupo (ou academia) que não fosse o seu... "quando eu era menino, / minha mãe soube me educar: / chegando em terras alheias / eu piso no chão devagar" ! A lembrança dessa canção tem um motivo... mestre "Sapo", de Belém, reclama hoje no Facebook que, nas Rodas atuais, CANTA quem pega primeiro no microfone... "de qualquer lugar da Roda", acrescento eu, supondo.

Gente, algumas coisas precisam voltar AO QUE ERAM, a Capoeira não pode "EVOLUIR" (?!) tanto assim. Ela se pratica em residências, nas academias, em ginásios fechados, locais esses com boa sonorização... caixas amplificadas, para quê ?! Estarão todos ficando surdos ? A Bateria (ou "cozinha") que toque mais baixo se o CANTOR (eu, hein ?!) tiver voz pequena. Cordas vocais são "músculos", exigem treino constante, é isso !

Mestre "Sapo" relembra sentido os tempos em que cantava quem estava COM O GUNGA (que virou agora "médio" ou "de centro"), em geral o Mestre, seu contramestre ou o graduado a quem êle PASSAVA o Gunga, só aquele, com 3 berimbaus apenas, quem trouxesse o seu de casa -- coisa incomum, impensável, "quase uma afronta", exceto em mestre de fama -- o encostava num canto. Lamentavelmente nas ruas, em Roda livre ou aberta (termos que deviam ser extintos) não há regras. Em Belém, temos fotos dos anos 90 com 5, 6 berimbaus em Batizados e num vídeo recuperado de Roda aqui no bairro, em 2010 ou 12 eu acho, contei 15 berimbaus. Enfim, VIROU BAGUNÇA... os mestres antigos se calam, não interferem -- "Capoeira é liberdade", reza o mantra -- e o pessoal mais novo faz o que bem entende. Um aluno "toma as dores" do Mestre "Sapo" e vê a questão como "desrespeito", abuso mesmo ! Outra jovem aluna toca no tema "falta de comando" !

Me parece que Federações e, acima delas, a CBC precisam se posicionar, algo necessita "voltar aos eixos" ou teremos em breve Mestres -- em Rodas de rua ou em grandes ginásios -- procurando tomada elétrica para sua caixa amplificada. (*1) Microfone só se usa para eventos em teatro, locais com grande platéia... e usem MIC "de lapela", minúsculos, não há nada mais grotesco NUM FOLCLORE do que "ajudante" segurando microfone para o "mestrão" cantar ! E MAL, diga-se de passagem !

"NATO" AZEVEDO (em 2/julho 2021, 22hs)

OBS: (*1) em set./1988 (o)usei caixa amplificada e captador adaptado à cabaça, com o objetivo de atrair transeuntes, em Roda num domingo de tarde, a cidade vazia... deu certo, moradores dos prédios próximos desceram para conferir "o que era aquilo" !