Capoeira: Beijinho, beijinho? Pau, pau!!!

Origens e Definições

A capoeiragem nasceu em berço africano. Não, certamente, com este nome e tampouco com suas formas atuais. Até mesmo seus componentes mais herméticos – filosóficos, ritualísticos, técnicos, musicais e religiosos – ao longo do tempo, vêem sofrendo profundas modificações. A origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico, Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc – sem dúvida, é um bom exemplo. O mesmo raciocínio pode ser ajustado ao berimbau africano, instrumento musical que, no Brasil, acabou fortemente associado ao jogo da capoeira. Cada vez menos, mestres de capoeira e pesquisadores tendem a divergir quanto a esses aspectos.

Da mesma forma que está surgindo um consenso sobre a utilização do nome “Capoeira” para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo: berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque), e a utilização do nome “Capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual, no máximo, batiam-se palmas e cantavam-se versos curtos (samba duro, pernada carioca etc). A Capoeira, dança-luta, com ritmo completo e lindas cantorias, espalhou-se pelo Brasil inteiro, sendo muito difícil, senão impossível, afirmar com exatidão

aonde ela teria aportado ao chegar da África nas suas formas mais primitivas. O estado da Bahia, entretanto, hoje é reconhecido como o grande celeiro de mestres da capoeira mais tradicional, chamada genericamente de Angola.

Denominação sem muita precisão porque a História do Brasil é bastante pródiga ao registrar a prática da capoeira antiga, “tradicional”, em vários outros estados, como Pernambuco e Rio de Janeiro. Essas capoeiras, entretanto, nada tinham de “angola”, nem o nome, nem o estilo, nem o

propósito. Embora sendo também luta, a chamada Angola envolvia e envolve outros componentes, fascinantes, mais fora do presente contexto de luta pura. Já a capoeiragem, ou seja, a capoeira-luta, a capoeira briga-de-rua, concentrou-se, sobretudo, no Rio de Janeiro, onde foi, ora adulada ora perseguida pela sociedade e pelos governos. Em perspectiva atual, há diversos fatos passados sobre esta relação

conflitiva que podem ser apreciados nos registros de memória encontrados a seguir.

Estes, em resumo, sugerem um contraponto:

a capoeira é uma luta dramatizada;

a capoeiragem é uma luta dramática.

1828

O Governo convoca a Capoeira: “À 9 de julho de 1828, o segundo batalhão de granadeiros alemães revoltou-se, protestando contra o espancamento de um de seus soldados. D. Pedro I prometeu atendê-los no prazo de oito dias, mas no dia seguinte o batalhão de irlandeses insubordinou-se e poucos depois o dos granadeiros alemães. E os

mercenários iniciaram o saque na cidade. A população teve de correr para a rua, a fim de defender a sua propriedade. Vidigal congrega os capoeiras e os comanda no ataque à soldadesca desenfreada; consegue assim que os soldados retornem ao quartel onde tinham refúgio certo e poderiam ficar resguardados das cabeças, taponas, pontapés, rabos de arraia e navalhadas” (ver Marinho referenciado em 1945, p. 21 do livro

original).

1890

A capoeira quase derruba o Gabinete Ministerial do Marechal Deodoro. No dia 12 de abril deste ano, todo ministério reunido, o Ministro de Relações Exteriores, Quintino Bocaiúva pede a palavra:

ou o famoso capoeira Juca Reis, filho do Conde de Matosinho, seria solto ou ele pediria exoneração.

Todos os demais ministros intervêm, especialmente Rui Barbosa, tentando uma solução conciliatória. Episódio que está nos

Anais da História da República do Brasil.

(Fonte: Marinho, 1945, p. 27)

Fonte:

http://www.andrelace.com.br/atlas.pdf