Capoeira: A possível origem da capoeira! Waldeloir Rego
Antes de entrar no estudo da capoeira pròpriamente dita, é necessário responder a pergunta anteriormente formulada, indagando se os africanos trouxeram a capoeira da África, especificamente de Angola, ou à inventaram no Brasil.
Quando examinei o problema do tráfico de escravos africanos para o Brasil, falei da dificuldade em se afirmar, com precisão, a data da chegada dos primeiros escravos e a sua procedência, em virtude da escassez, no momento, de documentos. Entretanto, falei da tendência dos historiadores e africanistas, tomando como base poucos e raros documentos conhecidos, em se fixarem como sendo de Angola os primeiros negros aqui chegados, assim como ter o grosso de nossos escravos escoado dos portos de São Paulo de Luanda e Benguela.
Ao lado disso a gente do povo e sobretudo os capoeiras falam todo o tempo em capoeira Angola, mui especialmente quando querem distingui-la da capoeira regional, de que falarei no lugar oportuno. Ora, tudo isso seria um pressuposto para se dizer que a capoeira veio de Angola, trazida pelos negros de Angola. Mas, mesmo que se tivesse notícia concreta da existência de tal folguedo por aquelas bandas, ainda não era argumento suficiente.
Está documentado, e sabido por todos, que os africanos uma vez livres e os que retornaram às
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suas pátrias levaram muita coisa do Brasil, coisas não só inventadas por êles aqui, como assimiladas do índio e do português. Portanto, não se pode ser dogmático na gênese das coisas em que é constatada a presença africana; pelo contrário, deve-se andar com bastante cautela, No caso da capoeira, tudo leva a crer seja uma invenção
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afro-brasileiros, tendo em vista uma série de fatôres colhidos em documentos escritos e sobretudo no convívio e diálogo constante com os capoeiras atuais e antigos que ainda vivem na Bahia, embora, em sua maioria, não pratiquem mais a capoeira, devido à idade avançada.
Em livro recentíssimo, Luís da Câmara Cascudo defende a estranha tese de que “Existe em Angola a nossa Capoeira nas raízes formadoras e é, como supunha, uma decorrência de cerimonial de iniciação, aspecto que perdeu no Brasil.”1028,
Lamentàvelmente, o raciocínio e documentação que passa a desenvolver, para explicar sua proposição, não convencem, devendo-se, portanto, tomar conhecimento da referida tese, com bastante reserva, até que seu autor a elucide com mais desenvoltura e rigorosa documentação, dando o caráter científico que o problema está a exigir. Não tenho documentação precisa para afirmar, com segurança, terem sido os negros de Angola os que inventaram a capoeira ou mais especificamente capoeira Angola, não obstante terem sido êles os primeiros negros a aqui chegarem e em maior número dentre os escravos importados, e também as cantigas, golpes e toques da capoeira falarem sempre em Angola, Luanda, Benguela, quando não intercalados com têrmos em língua bunda.
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Por outro lado, há também a maneira de ser dêsses negros, muito propensa aos folguedos, sobretudo dessa espécie. Braz do Amaral, 103 dentre outros, afirma que os negros de Angola eram insolentes, loquazes, imaginosos, sem persistência para o trabalho, porém férteis em recursos e manhas. Tinham mania por festa, pelo reluzente e o ornamental. Seu pendor para festa, fertilidade de imaginação e agilidade eram
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o suficiente para usarem e abusarem dos folguedos conhecidos e inventarem muitos outros. Além da sua capacidade de imaginação, buscaram os negros elementos de outros folguedos e de coisas outras do quotidiano para inventarem novos folguedos, como teria sido o caso da capoeira.
102a Luís da Câmara Cascudo, Folclore do Brasil/Pesquisa e Notas. Editôra Fundo de Cultura, Brasil-Portugal, 1967, pág. 183.
MB Braz do Amara], Os grandes mercados de escravos africanos. As tribos importadas. Sua distríbuição regional, tri Fatos da Vida do Brasil, Tipografia Naval, Bahia, 1941, pág. 126.
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