PASSO A DOIS... "QUEM DÁ MAIS" ?!

"A chamada é a mandinga dos angoleiros

que tem mandinga . Do contrário o risco

de fazer uma coisa desprovida de sentido

é grande." - me. GUARÁ, ECAP/Paris.

Luto para não parecer saudosista, velho ranzinza para o qual só o Passado prestava... uma jovem me convida para jogar com ela um desses joguinhos idiotas modernos, mera cópia mal adaptada do Mário, do SONIC, do criativo Donkey Kong, do insuperável Bomber Man. "Faço das tripas coração" -- é desses ditados antigos que não entendo como foram criados -- para ao menos ACEITAR TUDO "de moderno" que a Capoeira de hoje tem... e olha que esse "tudo" é muito mesmo, DEMAIS até ! Mas, às vezes não dá !

Mestre Laíca, à frente da FEPAC, fez em Outeiro (periferia de Belém) mais um belo exemplo de confraternização neste domingo, 23/maio... precisamos entender que Federações -- pelo menos na Capoeira -- não são órgãos POLÍTICOS, são MCs, mestres de cerimônia, apenas REÚNEM, aglutinam os Grupos e Associações existentes, mesmo as não-filiadas. Quanto mais cedo compreendermos isso, mais nossa Arte avança ! Houve um tempo em que a Direção só visitava eventos de filiados, "visitas seletivas", que só prejudicavam a entidade.

Nesse feliz momento de satisfação coletiva comentou-se "sobre o Passo a Dois" que, para um jovem professor, podia ser feito EM QUALQUER TOQUE, desde que fosse DE ANGOLA. Seu mestre -- que sabia tudo -- lhe afirmara que assim era !

Só se fôr agora... nos anos 70, na Zona Sul pelo menos, raramente vi-o sendo feito. Ouvi falar dele, sei que existia, "era Fundamento" -- esse conceito que ninguém parece saber realmente o que é -- mas ouso dizer que NUNCA VI ! Nem mesmo mestre "Baiano Anzol", de jogo mais tradicional dentro do Grupo SENZALA, lembro de ver "puxar" o movimento. Havia uma "crença", interpretação, de que aquilo só cabia a velhos Mestres, nesse caso, ao Mestre Leopoldina. Associado ao "estranho movimento", mera "valsa fora do compasso" o conceito de HOMENAGEM ao oponente, com igual tempo de Capoeira e semelhante Conhecimento. Porém, na Feira de São Cristóvão, aos domingos, Roda de rua, no "Passo a 2" dela valia tudo, as "crocodilagens" que vídeos atuais nos mostram. (Segundo meu irmão raramente se tocava Angola lá !) Quem está com a verdade ?! Digo apenas o que vi: era coisa muito rara na Zona Sul, da Zona Norte nada sei... muito menos do que sucedia na Feira !

Sou surpreendido com vídeo em p/br de Mestre Camisa, camisa listrada -- só lhe faltou o chapéu de palhinha -- numa Angola tradicional (?!) que sequer sabia eu que êle fazia, em jogo com mestre "ZÉ PEDRO", um "poste negro" com muita perna e mais malícia ainda. É de 1977 e a Angola com Nestor Capoeira no filme "Cordão de Ouro" é do ano anterior... comparem os dois jogos e sintam a diferença, com Camisa fazendo o "Passo a Dois" em ambos.

Me parece que "esta festa pobre" atual, "essa farra de Passo a Dois", começou com a divulgação do "Regras Gerais" infeliz da recém-criada CBC, em 1993. Propondo um Torneio (?!) do "negócio" admitia existir mais do que os 3 ou 4 praticados nos anos 70, bem mais !

Diz meu irmão que Waldeloir Rego cita mestre baiano "sabendo uns 30"... isso vai "por conta" da "enrolação" proposital que o "capoeira" fazia com quem não era "do meio" ! O que vejo, o que sei é que um "MOMENTO MÁGICO" antigo se transformou hoje "numa pandemia", em que a dupla "puxa" um Passo a Dois a cada minuto... para meu espanto, já vi em vídeo "capoeira" de fora da Roda (sentado no círculo) "comprando" o "Passo a Dois", a substituir (?!) -- valha-nos Deus, senhor São Bento ! -- o jogador para quem o "convite" fora feito.

ANOTEM para confirmação: a Capoeira NÃO AGUENTA tanta "invenção", isso precisa ter um fim ou ela será DESTRUÍDA ! Como minha vivência na Capoeira foi praticamente nenhuma, recorri a um amigo (e mestre) que a VIVEU todos os dias desses 45 ANOS e me concedeu a honra de dizer preciosas palavras: primeiro a explicação sobre a prática literal, o que se faz na Roda e, em seguida, sobre a possível ORIGEM dos tais movimentos. De minha parte, "chuto" que imagens da luta greco-romana de 15 séculos atrás já teriam algo bem parecido ! Mas, é só mais um "palpite" de um curioso !

"NATO" AZEVEDO (em 23/maio 2021, 18hs)

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(Abaixo, comentários de mestre "GUARÁ", da ECAP - Escola de Capoeira Angola de Paris, no Facebook, em 26/maio 2021.)

1) "Eu uso a chamada se é toque de Angola . Principalmente se o toque está bem amarrado . As divergências são muitas como é de costume na capoeira. Beber água na fonte é super necessário para entender às subjetividades da chamada ou do passo a dois , ou ainda chamada para a mandinga . Do contrário o risco de fazer uma coisa desprovida de sentido é grande . A chamada é a mandinga dos angoleiros que tem mandinga . Quem faz , sem saber fazer , está se expondo ao outro e a sua própria arrogância..."

2)"... eu ligo esses gestuais da capoeiragem em geral a nossa mãe África . Que está fazendo aniversário ! Existe hoje, e sempre existiu, um grande esforço em querer explicar certos aspectos de nossa cultura com uma visão euro-centrada . Penso no embranquecimento das capoeiras , e de uma hegemonia branca, que não cessa na busca de uma suposta origem da capoeira desprovida de África... posso ir mas longe, mas fico por aqui companheiro . Axé!" (ass: me. GUARÁ)