Capoeira: Toques! (de Waldeloir Rego)

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Há no acompanhamento musical toques que se poderia chamar de gerais, porque são comuns a todos os capoeiras, os quais são executados ao lado de outros que são particulares de determinada academia ou mestre de capoeira. Também acontece, e não raro, um mesmo toque, apenas com denomi­nação diferente entre os capoeiras. Para que se tenha uma idéia, recolhi o nome dos toques de alguns capoeiras, que ainda atuam com freqüência na Bahia, como: —

Mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado)

São Bento Grande

Benguela

Cavalaria

Santa Maria

Iuna

Idalina

Amazonas.

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Santa Maria

Dobrada

Samba de Angola

Ijexá

Panhe a laranja no chão tico-tico

Samongo

Benguela Sustenida

Assalva ou Hino.

Canjiquinha (Washington Bruno da Silva)

Angola Angolinha

São Bento Grande

São Bento Pequeno

Santa Maria

Ave Maria

Samongo

Cavalaria

Amazonas

Angola em gêge

São Bento Grande em gêge

Muzenza

Jôgo de Dentro

Aviso

Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha)

São Bento Grande

São Bento Pequeno

Angola

Santa Maria

Cavalaria

Amazonas

Iuna

Gato (José Gabriel Goes)

Angola

São Bento Grande

Jôgo de Dentro

São Bento Pequeno

São Bento Grande de Compasso

São Bento de Dentro

Angolinha

Iuna

Cavalaria

Benguela

Santa Maria

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Waldemar (Waldemar da Paixão)

São Bento Grande

São Bento Pequeno

Benguela

Ave Maria

Santa Maria

Cavalaria

Samongo

Angolinha

Gêge

Estandarte

Iuna

Bigodinho (Francisco de Assis)

São Bento Grande

Cinco Salomão

São Bento Pequeno

Cavalaria

Jôgo de Dentro

Angola

Angolinha

Santa Maria

Panhe a laranja no chão tico-tico

Amol (Amol Conceição)

São Bento Grande

Angola

Jôgo de Dentro

Samba da Capoeira.

Traíra (João Ramos do Nascimento)

Santa Maria

São Bento Pequeno

São Bento Grande

Jôgo de Dentro

Angola Dobrada

Angola

Angola Pequena

Santa Maria

Regional

Iuna

Gêge-Ketu.

Comò se vê, em todos êles há uma constância nos toques Angola, São Bento Grande, São Bento Pequeno, Cavalaria, Iuna e Benguela. Como já tive oportunidade de dizer, os to­ques divergentes dos comuns raramente constituem um toque totalmente diferente dos demais. Via de regra, é um já exis­tente, apenas com outro rótulo ou então uma ligeira inovação, introduzida pelo tocador, fazendo com que se dê um nome nôvo. A denominação de alguns toques da capoeira está ligada a determinados povos ou regiões africanas pura e simples­mente pelo nome, ou são toques Litúrgicos ou profanos de que a capoeira se valeu, como Benguela, Angola, íjexá e Gêge, isso sem se falar nas combinações Angola em Gêge e GêgeKetu.

Antigamente, segundo capoeiristas idosos, o toque cha­mado na capoeira de Gêge era o toque dos povos gêges (Dahomey) chamado bravun, toque Litúrgico, específico do deus Oxumarê, o Arco-íris e que na capoeira era tocado em ataba­que, conforme a ilustração de capoeira existente em Rugendas.

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No toque Ijexá, na capoeira de Gato (José Gabriel Goes), o nome é apenas um rótulo, pois o toque em si é uma alteração dos já conhecidos. Entretanto, em Caiçara (Antônio da Conceição Morais), quando em exibição para turistas, é o toque Litúrgico característico dos povos ijexás, tocado para alguns deuses, que Caiçara toca no berimbau e aplica na capoeira.

Quanto às combinações nada têm a ver senão nas denominações. O toque chamado aviso, usado pelo capoeira Canjiquinha (Washington Bruno da Silva), segundo seu mes­tre Aberrê era usado por um tocador que ficava num oiteiro, vigiando a presença do senhor de engenho, capitão do mato ou da polícia.

Fonte:

https://pdfcoffee.com/waldeloir-rego-capoeira-angola-pdf-free.html