"CADÊ... IDALINA" ?!
"CADÊ... IDALINA" ?!
"Ao ver IDALINA, foi como se
tivesse achado uma flor em
meio a um charco." (pag. 129)
JORGE AMADO - in "O ABC
de Castro Alves", ed. Record.
Estava eu a procurar a obra de De Campos Ribeiro, (a fim de reproduzí-la na Internet) um colorido retrato da "Gostosa Belém de Outrora", aliás título do livro, quando me deparei com este de Jorge Amado, que supuz ser apenas sobre a poesia do combativo vate da LIBERDADE, o nome maior da luta por ela. Com o Destino atuando a meu favor, claro que eu iria abrí-lo justamente numa página falando de uma... IDALINA ! Um poeta BAIANO amara uma certa Idalina, afirmava a biografia (escrita em 1941), e um escritor baianíssimo -- melhor, pra mim, que o carioca Machado de Assis -- "ressuscitava" a tal Idalina, essa DE RECIFE, de um bairro de nome Santo Amaro... definitivamente, não há coincidências na Vida !
IDALINA, sonoro nome, é conhecida pelos "capoeiras", os mais antigos pelo menos, está nos versos dos cantos -- os "corridos" e "chulas" da Capoeira -- e num dos LPs mais expressivos dela, o de Camafeu de Oxóssi, pouco visto e menos ouvido, meio lado de "reportagens" da vida do povo, com seus rebocadores, lanchas verdes, o "HUMAITÁ" -- seria um navio, de marujos "capoeiras"? -- "falando" de fazendas, Catarinas, Idalinas. Insisto em afirmar que, junto ao Cordel e repentes, o canto na Capoeira era/foi o "jornal do sertão", personagens e fatos citados nele existiram, aconteceram. Podem nem ter sido presenciados pelo autor da "chula", mas êle a ouviu em algum lugar. Por isso, prestem atenção ao que cantam, vocês estão REPASSANDO História !
Quais as chances dessa IDALINA ser a Idalina que motivou a criação de um toque de berimbau, dizem que por mestre "Bimba" ?! De ser ela a musa citada por Camafeu de Oxóssi ?!
-- "Metade, talvez menos" !, diria a maioria. Confio no Destino, meu sétimo sentido "grita" que é ela, só que a jovem "de má fama" e que nenhuma biografia "séria" sobre Castro Alves sequer citou tinha 18 anos em 1864 -- quando o condor da Liberdade a conheceu -- e estaria com uns 70 anos quando o menino Manoel a teria visto, se é que a conheceu ! Jorge Amado não informa se o primeiro amor de tantos (e tantas !) que Castro Alves teve em sua breve vida seguiu com êle, de Recife a Salvador, talvez sim, mas êle a eternizou em alguns de seus poemas. Porque Castro Alves estava em Recife não se sabe; mas segundo Jorge Amado, escreveu no colo da Negra amada os primeiros grandes poemas que o consagrariam, recitados sob uma chuva de aplausos, no Teatro São João, de Salvador.
"Asilo de amor e poesia", escreve J. Amado, "a casa da Rua Lima" e cita Pedro Calmon em seguida... "IDALINA lhe é de resto providencial". (pag. 130) Mas Idalina sabia que o amor maior de Antônio C. Alves era a POESIA e "num Recife sem escândalos, Castro Alves era o escândalo, vivendo publicamente com uma mulher sem nome e sem honra". (pag. 134) A jovem negra deixou partir para Salvador seu único amor e voltou à desgraça em que vivera !
Ainda que mestre "Bimba" não a tivesse conhecido, sua homenagem à pessoa com tal nome nos remete ao amor maior de Castro Alves, disso não tenho dúvida ! As "chulas" contam histórias, algumas belas, trágicas outras ! "É de manhã, / Idalina 'tá me chamando... / Idalina tem o costume / de chamar e sair andando" ! "Tira daqui, põe ali... tira de lá, bota cá... IDALINA" !
"NATO" AZEVEDO (em 14/maio 2021, 6hs)
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OBS: CASTRO ALVES ligado à Capoeira... será possível ? Seu tio João José Alves, além de alferes, era o desordeiro mais famoso da capital, unido a "capoeiras" e à ralé, fizera deles um "batalhão de vagabundos" que acolhiam seu chamado. (pag. 56)
EM TEMPO: este livro SOBRE A POESIA de Castro Alves foi proibido (e recolhido das bancas) pela DITADURA de Getúlio Vargas -- o "Bolsonaro" da época -- pois seu autor era... COMUNISTA !
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Quem quiser SABER MAIS sobre uma outra IDALINA, essa baiana (e talvez "capoeira"), acesse a magnífica tese de doutorado de PAULA JULIANA FOLTRAN FIALHO(http://mariasfelipas) intitulada "MULHERES INCORRÍGIVEIS: DESORDEM CAPOEIRA E VALENTIA NAS LADEIRAS DA BAHIA 1910/1920", de leitura imprescindível, obrigatória nas Escolas.