"GINASTAS DA VALENTIA" EM BELÉM

"GINASTAS DA VALENTIA" EM BELÉM

"KAÁ-POERA" (tupi ? guarani ?)

mato baixo, capinzal, capoeira.

CAPOEIRA - cesto de galináceos,

porão de casarão, luta de escravos.

Bem antes de chegar em Belém eu já sabia da existência de Capoeira na capital, meu irmão estivera por aqui e vira Rodas dela no Ver-o-Peso ou na Praça da República, em 1981. Porém, como a mão do Destino sempre nos dá uma ajudazinha, nem precisaria dele para isso. Fui apresentado -- em meus primeiros meses no Pará, jan./fev. de 1984 -- no interior ao ex-prefeito José Ildone, mas como o poeta maior da cidade. Me presenteou com livros de autores locais, 3 deles inesquecíveis: os cronistas Orlando Carneiro, Georgenor Franco Filho e o magnífico livro "Gostosa Belém de Outrora", do poeta e escritor De Campos Ribeiro. Pelo que sei o autor VIVEU a época de "bambas" da Capoeira nos bairros do Jurunas e Umarizal, entre outros e cita os "BICHÕES" em sua obra. (*1)

Conclusão: quando iniciei, em 1993/94, pesquisa para localizar as origens da Capoeira em Belém -- a atual já tem um "pai" ou padrasto (?!) que, soube eu pela Internet, "aprendeu num livreto" (?!) e teria formado MAIS DE 70 mestres (?!) aqui -- nem precisei recorrer ao "O Negro no Pará", do eminente pesquisador prof. Vicente Salles, pois já tinha um ponto de partida. Entendendo que tais referências foram muito "escavadas" optei por consultar jornais antigos, dos anos 50, da época mais festiva no Estado, o Círio de Nazaré. É onde encontrar-se-ão as ORIGENS da Capoeira hodierna porque grupos de dança e teatro vinham de vários Estados fazer apresentações aqui, trazendo entre os artistas um ou outro "capoeira" que, se não ficava em definitivo na cidade, ensinaria por algumas semanas. Isso é SUPOSIÇÃO mas "sem imaginação não se reconstrói o Passado", diria um sociólogo qualquer.

Portanto, nossos modernos "capoeiras" deveriam ler as páginas 51 até 55 do livro de DE CAMPOS RIBEIRO, no capítulo "Ginastas da Valentia", onde conhecerão seus "antepassados", quem sabe até com igual sobrenome. O autor narra o que viu e viveu entre 1910 e 1930/40 e descreve as façanhas de dúzia e meia de "navalhistas" que fizeram a fama da "Dança-Luta", boa parte marinheiros, nenhum espanto nisso !

Lá estão, seja como trabalhadores comuns, seguranças ou em Grupos Folclóricos, brilhando nas pernadas e cabeçadas os "batutas", "marretas" e "cobras" que semearam o terror e granjearam respeito na base da rasteira e da benção, entre outros golpes: são êles "Macaco", "Gato", "Pé de bola", Teodoro "Medonho", "Mané Baião", Norato, Pantaleão, "Periquito", "Gasolina"... e vai por aí ! Em cada Estado é preciso recuperar O PASSADO, pelo menos como um TRIBUTO aos que nos precederam, cuja coragem e persistência sustentaram e permitiram a existência da Capoeira nos dias atuais. Você que me lê e tem recortes de Jornais e revistas, fotos, fitas VHS ou Super8 mm com imagens dos antigos praticantes faça um esforço para que esses documentos possam ser conhecidos, admirados... afinal, se sabemos Capoeira hoje foi graças à RESISTÊNCIA DE CADA UM deles, enfrentando perseguições e ameaças para mantê-la VIVA !

"Berimbau bateu... "capoeira sou eu ! Vamos s'imbora, camará" !

"NATO" AZEVEDO (em 22/abril 2021, 22hs)

OBS: (*1) - da série "Lendo os Municípios", vol. 4, edição de 2005, pela SECULT-PA, publicação original de 1965.