ADEUS, ADEUS... BOA VIAGEM !

ADEUS, ADEUS... BOA VIAGEM !

Com essa rápidas considerações sobre a EVOLUÇÃO da Capoeira nos últimos 20 ANOS dou por encerrados meus conceitos e impressões a respeito da Capoeira que conheci e, até certo ponto, pratiquei... a do Rio (1973/77) e a de Belém (1987/93). Claro que mudou muito -- quase diria mudou TUDO -- porém, pelo menos em Belém a essência continua a mesma. Embora a Capoeira defenda e represente LIBERDADE -- a individual, a coletiva, geral e a de praticá-la, cada um a seu modo -- nossa Arte-Luta tem hoje "inimigos" sutís mas que podem modificá-la demais e até destruí-la.

Sei que parece brincadeira, contudo os microfones -- veja quem fala, "eletrifiquei" berimbau em 1988 -- quanto o Evangelismo que se instalaram nesse século são "mudanças" desnecessárias e que irão atrofiá-la. Cordas vocais são músculos, precisam apenas de treinos... nada pior para o axé de uma Roda do que cantor de voz ruim tendo-a amplificada. Cabe aos demais músicos reduzir o "volume" de seus instrumentos (pandeiros, atabaque), adequando-os à voz do cantador. Na Angola se faz isso naturalmente... somos FOLCLORE, precisamos continuar sendo ou ela perde o sentido ! (*1)

Essas "subdivisões" (capoeira gospel, "capoeira santa", LGBT, etc) são modernismos que -- se atendem aos anseios ou vaidades de "grupos específicos" -- significam "separações" que nenhum Folclore tem, por ser ecumênico, ABRAÇAR cada ser humano. Me irrita ver que, quando eram CATÓLICOS, certos mestres NADA viam de errado na Capoeira... agora, evangélicos, TUDO ESTÁ ERRADO nela ! Então, saiam, antes de entortá-la aos seus novos "parâmetros", além de pressionarem alunos a acompanhar suas preferências.

Do que "sobrou" dos meus rabiscos de 1994 ficam "de fora" tanto as comparações entre Bimba e Pastinha -- me refiro a atuação de cada um, modernizando ou conservando práticas nela -- como a ainda escassa presença do NEGRO na Capoeira, não que a dos anos 70 fosse muito melhor, fotos e vídeos da época provam isso ! Infelizmente a análise antiga seria considerada RACISTA atualmente... a questão é vista hoje de tal forma que qualquer crítica à pessoa negra é discriminação, embora naquele momento eu argumentasse que o Negro "não praticava Capoeira para não ser ainda mais marginalizado", já que a Capoeira efetivamente o era.

O avanço que a Capoeira requer é o de olhar para trás, o de RESGATAR algo de seu Passado antes que tudo se perca e a presença de praticantes (alunos e graduados) negros e negras é quase uma obrigação desses tempos, recuperação dos primórdios dela. O Negro -- que construíu esse país com sangue, suor e lágrimas -- continua sem voz, sem vez, sem espaço e nem presença (nas piscinas, nem pensar !) em tantos esportes, atividades e profissões, tendo na Capoeira um dos poucos locais realmente seus, além do Samba. Cada Grupo (e cada mestre) precisa abrir portas para que o Negro retome uma prática que LIBERTA corpo e alma, onde recupera o que perdeu em ancestralidade e Destino.

Se fôr para escrever, que se ANALISE a trajetória do PORTAL CAPOEIRA desde seu início, no qual discussão variada e inteligente -- ao lado de gaiatos e inconsequentes -- repensou os caminhos e práticas de nossa avacalhada Dança-Luta, contribuindo para melhorá-la ! PARABÉNS, mestre MILANI ! Já tenho até o título do "ensaio": PORTAL CAPOEIRA - porta aberta ao debate"... falta agora só corpo do texto !

"NATO" AZEVEDO (em 1º/abril 2021, 4hs)

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OBS: (*1) - essas novas "definições" são DISCRIMINADORAS (de gênero, de categoria profissional ou religião, etc) e vão contra os Fundamentos da Capoeira tradicional.