"A CANOA VIROU..."

ADENDO AO TEXTO -- reproduz abaixo artigo de 26/junho de 2009, postado por mim no portal cultural OVERMUNDO. Posto sem a intenção de POLÊMICA, mas com o intuito de complementar o texto atual SOBRE APELIDOS e como parte significativa de meus escritos antigos.

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A CANOA VIROU...

"CAPOEIRA é o jogo na roda...

tudo o mais é (apenas) consequência

disso. Ou, em outras palavras, o resto

pouco importa !"

NESTOR CAPOEIRA -- numa "releitura"

particular de "Nato" Azevedo.

"Vou me embora desta terra,

que aqui não posso ficar.

Vou dar descanso ao meu nome...

vou dar sossego ao lugar."

"auto" (trecho de peça) cantada por

mestre "LUA", em Niterói, em 1977/78

E morreu ontem, 26/junho 2009, o maior artista negro do Mundo, talvez -- em quantidade de fãs e admiradores -- maior do que Pelé, Cassius Clay ou Carl Lewis, o velocista que "derrotou" Hitler. A TV Record registrou que, só na lista telefônica da capital paulista, existem DUZENTOS Michael Jackson, a jogar por terra (ou no mar) a teoria da ANCESTRALIDADE DO NOME, um dos temas mais importantes do artigo de mestre Moraes, sem considerarmos nomes "criativos" juntando metade do nome paterno com parte do nome da mãe.

Mas até mesmo NO TÍTULO... "Diga-me o SEU NOME e te direi quem és!" o texto é um equívoco, a não ser que o Autor seja mediúnico ou pitonisa. Há certa dose de "pré-conceito" na afirmação e que poderia desqualificar a obra.

Meu nome é CINCINATO ("nascido simples", na origem latina da palavra)... e daí?! Aliás, quase minto, meu nome é CELSO, que recebi na pia batismal e que o pai, dizendo ser nome DE POBRE -- seria essa a tal "ancestralidade"? -- trocou pelo pomposo e sonoro prenome citado acima. E se eu disser que, além de crismado LUÍS (por escolha minha), no hospital onde nascemos, gêmeos, a certidão de vacina BCG traz os "nomes" de Cosme e DAMIÃO ? E agora, mestre Moraes ?!

No tempo em que estudamos no Primário, nos anos 60, o nome de batismo se chamava PRENOME cuja definição, nos dicionários da época era "nome que ANTECEDE o nome de família". Mas, isso é outra história !

O escritor Pedro (do latim "Petrus") não é doutor, embora lecione História em universidade ou faculdade. Contudo, errei por pouco, caro Professor Moraes... a "ancestralidade latente" em seu PRENOME me permite tal liberdade. Senão, vejamos: o primeiro Papa da cristandade, um Czar de imenso poder na Rússia de 1700 e tal e o meninO-Imperador que govermou o Brasil por quase 30 anos.

Da meia dúzia (ou mais) de temas que mestre Moraes pincela em seu texto, boa parte é verdade pela metade... ou nem isso! A presença das elites -- no plural, não sei porquê! -- na Capoeira, a polêmica ancestralidade, o tal Batismo dos quase-escravos nos portos africanos -- declaração que seria transposta de obra de João Reis -- dificil de se crer pelo simples fato de que eram raríssimos os missionários naquela época e porque a Igreja, que mantinha escravos em seus Colégios jesuitas e na paróquias, via no Negro "um ser SEM ALMA".

Tem mais: "a prática de batizar o aluno (e dar-lhe um apelido) seria mais uma forma de RACISMO". Tal afirmativa se refere aos grupos de Capoeira atuais, onde o número de mulatos e negros continua modesto. Embora tal "ritual" não conste das tradições da Capoeira, CONSTA DA HISTÓRIA DO NEGRO que a gerou, apenas aqui no Brasil, acrescentaria Moraes.

E voltamos ao início de tudo: os ancestrais do negro Manoel e do mulato Vicente BATIZADOS nos portos de Benin, Congo, Moçambique e Sudão -- obrigado pela contribuição, mestre Cobra Mansa! -- ou na chegada do navio negreiro no Rio ou Salvador, com um terço da carga macabra, por vezes nem isso.

Quanto aos APELIDOS nos Grupos, se A MAIORIA deles (metade mais 1) hoje em dia fossem mesmo pejorativos, seriam estúpidos os alunos que os aceitassem e mais estúpido ainda o "instrutor" -- me recuso a chamar de Mestre um sonso desses -- que, vivendo da mensalidade dos alunos, quizesse depreciá-los tanto.

Portanto, outra "meia verdade" do texto infeliz de mestre Moraes, embora ainda existam apelidos RACISTAS mesmo (até no futebol), por se referirem à côr da pele. GRAFITTE é um deles, que a Imprensa nacional repete a toda hora e os tais Movimentos Negros fingem não ver nem ouvir.

E chegamos aos BATIZADOS, o alvo principal dos "rabiscos" de mestre Moraes. (Seria êle um dos tais ELEMENTOS EXTERNOS ligados à Capoeira?!) Recebi emails que quase me acusavam de DIFAMAR o autor e diziam ver rancor contra êle no meu texto. A interpretação de uma obra depende do (des)conhecimento de cada leitor... não me aborreço com isso.

Embora concorde (com êle!) na extinção dos apelidos, TODOS ÊLES, defendo com unhas e dentes os BATIZADOS, "batismos" -- isso é coisa de crente! -- ou que outro nome um Vieira qualquer venha dar para a festa, o evento.

BATIZADOS são a única vez no ano em que o Grupo de Capoeira se mostra -- muitas vezes de forma inadequada -- para a comunidade onde está e é quando os pais vão conferir o quê e como o filho/filha está aprendendo e o TIPO de professor ou Mestre (valha-me Deus, Senhor São Bento!) que dirige o Grupo.

Mestre Moraes sai do seu sagrado silêncio para admitir que seu texto era realmente "uma casca de banana" -- enfim, acertei uma! -- mas que foi eu quem escorregou nela. Isso é uma questão de ponto de vista. Reclama que não defini em que região do imenso continente negro OS APELIDOS, por tradição, estão ligados AO NOME, embora NÃO NEGUE minha assertiva.

Aponta que confundi POVO com ETNIA, "neologismo politicamente correto" mas que RENEGA o que eu, Moraes e quantos mais que frequentaram a EP nos anos 60 aprenderam. Hoje, nos livros escolares, a RAÇA é uma só... a HUMANA ! Em que muda meu argumento saber que BANTU não é povo, raça, grupo, dialeto ou culto mas, sim, ETNIA? "A ordem dos tratores não altera o viaduto", acrescenta meu irmão, o piadista da família.

Para finalizar, mestre Moraes argumenta que nas fotos citadas por mim (de angoleiros baianos em 1950 e tal, em rodas nas praias e no cais) fica dificil identificar quem é ou não escravo (?!) e que "EM CERTAS CIRCUNSTÂNCIAS o calçado definia quem era escravo ou senhor".

Assim, é covardia: tal expressão permite a negação ou confirmação de absolutamente TUDO. No Brasil daqueles tempos meia cidade usava sapatos... e não tinha escravos simplesmente porque era CONTRA A ESCRAVIDÃO, como o jornalista José do Patrocínio ou o "saca-molas" " Tiradentes", para ficar só nesses.

Dou por encerrada a questão, quem quizer que continue...

"NATO"AZEVEDO

(escritor e poeta "de latrina")

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Meu texto anterior "ENTRE LINHAS & ENTRELINHAS" ensejou, num megasite cultural, o comentário abaixo, que reproduzo SEM O NOME DA AUTORA, para evitar-lhe os aborrecimentos que estou tendo agora, apenas por expor minha opinião:

Perfeito! Esse papo de 'cultura popular' é herança do CPC, dos anos 60. A Capoeira, um dos poucos e grandes legados do Brasil à humanidade, é fruto de fenômenos sociais, como toda grande manifestação cultural de massas. E quanto à presença da 'elite branca', dá-se o mesmo que no Blues americano. Não fosse a presença maciça da classe média, ávida e curiosa em qq lugar, a capoeira teria desaparecido. Conheci e pratiquei um pouco nos anos 70, em Copacabana e S. Cristóvão, com um colega de trabalho, mulato classe média baixa. Hoje, a Capoeira é praticada nos EUA e Europa, graças a este tipo de divulgação 'classe média'. A juventude negra e favelada migrou para o terrível 'fanqui' e sua boçalidade. Este tornou-se a 'cultura popular', para desgosto dos CPCistas. Nos EUA, o negro só pensa em RAP, outra bosta. Largou o Blues nas mãos brancas universitárias. Não li o artigo (não o encontrei), mas conheço o discurso. Quanto a batizados e sobrenomes, nossos 'heróis' continuam sem sobrenome. É Martinho da Vila, Zico, Pelé, Roberto Carlos, Xuxa, Leonardo 'do Milan', Chitãozinho e Xororó, Lula(lá fora é Lula da Silva), Robinho, Dunga,Fernando Henrique(lá fora Pres. Cardoso),Getúlio, etc... E por aí vai ... Poucos famosos têm sobrenome, embora tenham sido 'batizados". Continuamos na Idade Média. Apenas jornalistas e escritores têm sobrenome.

(uma jovem) Rio de Janeiro (RJ) · 27/6/2009 -- 08:07