A FOTOGRAFIA NA CAPOEIRA !
A FOTOGRAFIA NA CAPOEIRA
"(...) a foto é belo Passado
presente em nosso Futuro" !
"NATO" AZEVEDO, 1994
(trova / trecho final)
Há EVOLUÇÕES e "revoluções" que ainda não foram feitas na trissecular Capoeira e o registro em fotos é uma delas. Imprimem-se as imagens de uma Roda ou grande evento de forma burocrática, quase que "sentado numa cadeira". Veja-se fotos de qualquer casamento... quanta diferença ! Nas Rodas, o fotógrafo -- se não fôr do meio -- sente-se tolhido, pouco à vontade, sem saber onde se posicionar. O ângulo comum, de frente para os berimbaus, privilegia eternamente apenas os que tocam, os demais atrás dele nem serão registrados. E numa Roda especial muitos Mestres se colocam ali !
Para a Capoeira, o fotógrafo convidado deveria assistir antes vários treinos, para se familiarizar com movimentos e golpes, caso contrário não fará foto que impressione, que eternize um mo(vi)mento único. Fizemos amizade com um ótimo fotógrafo de temas simples e o levamos algumas vezes para assistir Rodas na praça do bairro e no Grupo Berimbau de Ouro. Conseguiu folha inteira de reportagem sobre o Grupo (que findou em 1988, ao perder a sede) no "seu jornal" DIÁRIO DO PARÁ, onde atuava. CARLOS RAUDA inscreveu seu nome na galeria dos fotógrafos de Capoeira com os trabalhos mais expressivos. Não é a Roda "como um todo" que deve importar, mas tão somente os jogadores. Pierre Verger é mais feliz quando MAXIMIZA os detalhes, embora prefira registrar o conjunto inteiro.
Um bom fotógrafo para a Capoeira deveria entender de desenho, de HQs, historias em quadrinhos. Carlos Rauda tinha, tem ainda, esse "timing", a noção da lente da câmera como uma "fish eye", que "estica" o movimento, o modifica, o "deturpa" até, mas nos mostra um ângulo diferente, pouco usual, surpreendente. Temos meio século de fotos comportadas, sem inovação, imagens que "dão sono"... e são sempre "as mesmas": armada, meia-lua, bênção, queixada. Um "macaco", S Dobrado, a "banda", rasteira de costas, o "corta-capim" ?! Só por milagre !
Um certo ANÍBAL PILOT, fotografando para O GLOBO, decidiu inovar no longínquo 17 de novembro de 1979, em 35 magníficos "slides" coloridos: closes do rosto dos cantores, "capoeira" sozinho num movimento, "duplas", "trios" e a Roda em São Cristóvão "rolando"... talvez, por isso mesmo, por se tratar de "Roda de rua" êle se sentiu com liberdade para circular por todo o perímetro. Se deu ao luxo de deixar -- numa das fotos -- apenas 1/3 dela para os "artistas", colhendo expressões curiosas dos espectadores, alguns sorrindo, outros "condenando a palhaçada".
Nos falta nas milhares de fotos feitas -- no Mundo inteiro nos últimos 10 anos -- a visão criativa de um Carybé, que nem fotógrafo era ou do autor dos desenhos belíssimos do livreto de 1962, assinado por Lamartine Pereira da Costa. Note-se neste último que a "tomada de cena" é feita do chão para cima em quase todos os desenhos. Falando em desenho, uma suposta caricatura de mestre "Camisa" (não por ser êle !) jogando com jovem negra tem o "enquadramento perfeito" para VALORIZAR a atuação dos 2 jogadores. O Grupo ABADÁ tem feito -- em fotos & desenhos -- o melhor trabalho gráfico para AMPLIAR a percepção da Capoeira COMO ARTE, e não apenas LUTA !
"NATO" AZEVEDO (em 19/março 2021, 11hs)
OBS: nota de 2010 informa que o site americano BE FUNKY.COM transforma qualquer foto em pintura, quadro impressionista, GRAFITE ou foto antiga... resta saber se ainda existe !