BIMBA E PASTINHA - O PODER E A GLÓRIA

BIMBA E PASTINHA - O PODER E A GLÓRIA

A trajetória dos dois mais famosos nomes da Capoeira moderna tem, a meu ver, conotações metafóricas entre o Poder e a Glória. Confirmando tal tese, de um sabe-se quase tudo, porque registrado nos anais da História, a partir do próprio personagem, êle mesmo preocupado em se deixar fotografar, dar entrevistas e diplomar oficialmente seus alunos. Já do outro, chegou até nós o que disseram os discípulos, retransmitiram admiradores, além de um livro oportunista publicado por terceiros e de um depoimento (em disco LP) cheio de reticências.

Mas, porém, contudo, todavia enquanto o poder é atributo físico, temporal, a glória situa-se no terreno do etéreo, do espiritual. Enquanto o Poder é finito, a Glória eterniza-se; aquele passa de mão em mão, de um para o seguinte, do mais forte para quem o supere e este, é intransferível, personalíssimo, individual. Um causa temor e respeito, impostos por várias formas, a outra traz admiração e gratas lembranças. O primeiro tem poucos seguidores, a segunda inúmeros adeptos e simpatizantes. O Poder transmuda-se conforme os tempos o exijam, amolda-se às situações, avilta-se para agradar. Já a Glória é íntegra, agradável por si mesma, independendo do local ou situação.

(OBS: trecho inicial de artigo, que se perdeu, escrito em ABRIL/1994 por este Autor)

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Como o Tempo passa... lá se foram quase 30 ANOS desde que "cometi" esse texto, na época mera Retórica, discurso pouco embasado, utópico, quase irreal. Pretendia apenas "provocar", "causar" diriam hoje. Felizmente, não foi divulgado, ou melhor, quase não foi ! Um folhetim de um certo "Abelha", de uma cidadezinha de Goiás, eu acho -- "Rio Torto" me parece -- teria publicado as 3 páginas, com erros e falhas graves, que "puseram mais lenha" na revolta de fanáticos dos dois lados.

Pois esqueçam esse "intróito" equivocado, digo, esse começo de artigo, era mais "jogo de palavras" do que tese abalizada. Nele, me espanta minha declaração de que a biografia sobre Pastinha seria... OPORTUNISTA ! De que livro falava eu ?! De qual Autor ? Teria sido o diário de mestre Noronha, pouco lisonjeiro para o velho "angola" ? Não consegui que minha memória acessasse os "escaninhos" do cérebro "velho de guerra": "um livro inteiro sobre Pastinha ?! NADA CONSTA" !!! Não podia eu estar falando do trabalho sério e abrangente de Waldeloir Rego -- um marco na literatura da Dança-Luta -- nem muito menos da breve citação de Jorge Amado no seu "Bahia de Todos os Santos" sobre mestres que fizeram a fama da Capoeira baiana.

MINHAS DESCULPAS a quem teria feito a tal biografia... realmente não lembro de ter lido sequer revistas dedicadas a Vicente Ferreira, quanto mais 1 LIVRO. Está na hora de cobrir essa lacuna na História da Capoeira nacional.

Um MUSEU DA CAPOEIRA é "dor de cabeça" na certa, uns 2 MIL mestres iriam participar, fora os falecidos... mas penso que um Museu dedicado somente a Bimba e Pastinha (ou Pastinha e Bimba... MuBIMPA?, MuPABIM?) não é favor, é DEVER, são e foram as BASES da Capoeira moderna. As Federações todas e as 3 ou 4 "Confederações", normalmente preocupadas apenas com torneios e campeonatos, podem iniciar gestão para serem "centrais" de arrecadação de documentos, revistas e jornais que CITEM os 2 nomes maiores. A partir daí, esse material chegaria às mãos do Comitê-gestor do projeto, provavelmente em Salvador. Não há porque hesitar !

O centenário de nascimento de ambos já se perdeu no tempo, talvez o cinquentenário de falecimento ainda esteja por vir... isso pouco importa, que nos próximos 2 ANOS tenhamos a efetivação do Museu, com acesso eletrônico (disponível antes, até) AO ACERVO e resposta às consultas. Não será trabalho fácil, mas só afirma que é impossível quem fracassou. Que se entre num CONSENSO e que o Brasil faça justiça aos 2 ÍDOLOS e ícones máximos dessa Luta-Dança, hoje representando nosso país em MAIS DE CEM nações. É HORA DE LUTAR... lutemos, camaradas !

"NATO" AZEVEDO (em 10/março 2021, 21hs)

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ADENDO AO TEXTO: mestre César Itapoan deu a partida, tendo escrito ampla biografia sobre Manoel dos Reis Machado, a meu ver o pioneiro NO ENSINO da Capoeira. Embora meu texto antigo privilegiasse a Angola em detrimento da Regional, teria sido BIMBA -- ainda como ANGOLEIRO?,cabe perguntar -- o introdutor do ensino aberto, "massificado" com método, as "Sequências", atitude que não interessava à tradicional Angola "de segredos", que camuflava o espírito DE LUTA dela. Bimba não hesitou em divulgá-la e seu local de ensino -- desconheço a geografia de Salvador em 1915/20 -- pode ter facilitado a presença de alunos com estudo e noções e que colaboraram para a futura Regional ter o avanço que a lançaria em meio país. Apresentação para um Governador -- ontem, hoje e sempre -- "não cai do Céu", há muitos trâmites e reuniões até que isso aconteça. Uma Academia em área pobre, popular, jamais terá tal chance.

Me parece que o disco LP de Bimba -- com livreto ilustrado com movimentos de sua Capoeira -- teria saído ANTES do LP-documento de Pastinha, este de 1968. E daí ?! Pois, ambos contribuíram e muito para a DIFUSÃO da música de Capoeira, antes restrita às "escolas" ou Grupos de Capoeira, ainda fechados ao público. Até onde as apresentações de Bimba e de sua Regional colaboraram para fazer Getúlio Vargas (em 1945 ?) tirar a Capoeira do CPB, o temido Código Penal ? Até onde o enfrentamento com outras Lutas -- e a assimilação de golpes destas -- levou a Capoeira para "outros caminhos" e lhe trouxe respeito como LUTA ? Bimba tirou a lentidão dos movimentos, acelerou o ritmo do berimbau, lhe acrescentou "balões" e outras "esquisitices", porém lhe deu STATUS, a tirou da condição de "brinquedo de desordeiro", coisa que Pastinha admitiu ser, até em seu disco.

Quem começou primeiro A ENSINAR ? Arrisco dizer que foi Bimba... mestre Atenilo, aluno dele, declara que "Pastinha ía treinar com Manoel", antes do "racha" que mudou os destinos da Capoeira, creio eu que por volta de 1930, evolução que Bimba não fez sozinho, assim como Pastinha jamais citaria o termo INCONCEBÍVEL em frases dele.

"NATO" AZEVEDO (em 10/março 2021, 3hs)