MÚSICA & CANTOS NA CAPOEIRA

MÚSICA & CANTOS NA CAPOEIRA

"'Tava lá no pé da cruz / fazendo minha

oração, / quando apareceu um negro..."

(trecho de antiga ladainha)

A Capoeira se insere na faixa dos raros "esportes com música", cantos também... sim, temos DANÇAS -- gaúchas, mineiras, o vigoroso Maculelê -- que além de "exercícios físicos" englobam o Canto. Apenas o "VIRA" português, além de tudo isso, inclui as palmas ! Já vi vários Folclores africanos, todos com muita percussão, tambores e pandeiros, mas não vi PALMAS. Nossos bisavós e tataravós não brincavam sem elas... ninguém "ía ao Itororó beber água" sem que o Canto desta "ciranda" fosse acompanhado de palmas. Nas cenas de Batuque e "Semba" retratados por Rugendas e Debret lá estão elas, embora as bocas fechadas de quase todos "nos indiquem" que não haveria Canto, somente dança, também PROIBIDA, até por decreto de vereadores racistas daqueles tempos.

É de se crer que as palmas se incorporaram à Capoeira bem depois, chamam muito a atenção e são um pouco incômodas, é difícil cantar batendo palmas, o iniciante faz uma coisa ou outra. Fotos antigas da Angola baiana, na praia ou cidade, nos apresentam uma Capoeira SEM PALMAS, está lá para quem souber ver... e quase diria que SEM CANTO também ! Em fotos (ou nos vídeos atuais) "podemos ver" -- sem ter presenciado aquela Roda -- quem toca realmente e quem só está ali "de enfeite", o que "marca o ritmo" e quem "faz a virada". Portanto, todo cuidado é pouco: podes aparecer -- para a posteridade -- como um mestre "que não sabia tocar" ou, pelo menos, NÃO CANTAVA nas Rodas.

É um "passatempo" divertido esse de observar os detalhes de um registro do Passado remoto, 60 ou 70 anos depois. As roupas, chapéus, coletes, o pandeiro sem arruelas ("adufe"), por vezes quadrado e NENHUM CAXIXI à vista. Entre os que assistem, pode-se identificar quem também seria "capoeira", em vez de espectador comum.

A Capoeira de antigamente ensinava "pelo exemplo", como todo Folclore... o mestre não pegava ninguém pela mão para lhe instruir a tocar pandeiro ou berimbau, o interessado aprendia sozinho. Isso gerou uma multidão de praticantes "que só jogavam" e que agora são "mestres DE RARO SABER" que cantam mal e tocam pouco, mal sabendo de que lado se põe a cabaça no berimbau. Que vantagens leva a Capoeira nessa situação ?!

O contramestre Jorge, do Grupo SENZALA lá do Clube do Flamengo, "onde treinei" em 1974/75 (só queria tocar e cantar) escalava 2 ou 3 para "fazerem barulho" enquanto os demais treinavam. Talvez com isso tenha colaborado para diminuir a "distância" entre jogo & canto, criando músicos melhores. Me parece que a Angola baiana -- do GCAP pra cá, até onde sei -- dá mais atenção a essas deficiências. Raro é o angoleiro de qualidade que também não seja bom tocador e cantor ! É preciso ABOLIR o microfone nas Rodas, essa "novidade" não pode vingar, isso é "a morte" da Capoeira. Cordas vocais são músculos, como os das pernas e braços, se não forem exercitados -- no banheiro ou no quintal -- não comparecerão quando se precisar delas. Encha os pulmões de ar sempre ou vais ficar ROUCO em 5 minutos. Os músicos aprendam a tocar MAIS BAIXO, há pessoas no pandeiro sempre dispostas a nos deixar surdos.

Nas poucas Rodas em que me viram, em Belém, sempre olhei "de cara feia" para um tipo desses, inutilmente, aliás. Quem canta deve estar NUM BERIMBAU, essa "invenção indigesta" de um "croonner" com microfone na mão é "o fim do Mundo" ! Se êle fôr pro berimbau, terão que destacar aluno para lhe segurar o microfone... era só o que faltava !

Quanto às MÚSICAS, não sou saudosista, mas as dos anos 70/80 eram bem melhores ! Não ouço os CDs atuais -- me falta coragem -- porém o que ouço em vídeos recentes é "grossa bobagem". Cordéis, cirandas, músicas de Capoeira são NOTÍCIAS do dia-a-dia do povo simples doo interior, embora estejamos todos vivendo em cidades. "Escravos de Jó / jogavam o CAXANGÁ"... infelizmente tal brincadeira só existe agora na África ! A Capoeira precisa dar muitos passos PARA TRÁS, ela "avançou" demais e nas áreas erradas. Precisamos CORRIGIR os "desvios" !

Tocar berimbau É UM SUPLÍCIO, sempre foi... poucos alunos se dedicarão a isso com berimbau normal, que não pesa menos de uns 400 gramas, sustentados no "mindinho". Providencie-se "berimbau de taquara" (ou goiabeira, que não vale nada) e cabaça já rachada, se não quiser perder a sua. E nada de tocar COM PEDRA, não sai um bom som, quanto mais grossa, pior ! As bordas desgastam... use moeda grande, o chamado "DOBRÃO ou patacão", de 1820 e poucos, se encontra em filatelistas e numismatas, colecionadores de MOEDAS. O "capoeira" miserável dos 1800 só usava pedra porque a pataca de 40 ou 80 réis êle precisava para comprar comida.

Nada mais ridículo do que pedra de quase 2 cm de "altura"... e o mestre achando "que está abafando" ! "Capoeira" veio aqui / do Quilombo do Zumbi"... o quilombo RESISTIU uns 40 anos, nossa Capoeira 240 !!! Entretanto, se continuarem "A INVENTAR", acabam com ela !

"NATO" AZEVEDO (em 9/março 2021, 3hs da manhã)