TCHOUKBALL: os componentes psicossociais relacionados à saúde físico-mental, segundo Doutor Hermann Brandt.

TCHOUKBALL: os componentes psicossociais relacionados à saúde físico-mental, segundo Doutor Brandt.

Autor: Hermann Brand (In memoriam)

Coparticipação: Océlio Antônio Ferreira (Tradução e adaptação em português).

RESUMO

Esse artigo aspira sublinhar determinados aspectos das regras fundamentais do Tchoukball, inclusive do ponto de vista das intervenções sociais positivas desse esporte, uma vez que esse jogo elimina o contato físico entre os jogadores. Nessa perspectiva, assinalam-se também alguns conceitos dos critérios sociológicos gerais; o prazer nas atividades físicas; emulação; psicologia infantil e psicopatologia; estrutura social; sociologia do esporte; as atividades esportivas na sociedade e o ambiente psicossocial do esporte. Em outras palavras, a filosofia não agressiva do Tchoukball com suas soluções técnicas-pedagógicas-desportivas para eliminação definitiva da violência no esporte, procurando dar sentido e valorizar as experiências vividas no aprendizado dos intercâmbios humanos positivos. Dito isto, convém ter em conta todas as hipóteses de base, assim como os efeitos emocionais dos componentes psicossociais, considerando ainda alguns aspectos da saúde física, psicológica, social e cognitiva propostas pelas inovações do Tchoukball na área do esporte de equipe, relativo à estrutura social e mental do indivíduo através de uma análise comportamental dos instintos agressivos no mundo da pró-sociabilidade. A fim de ajudar os a melhorar o desempenho pessoal e coletivo, enfatizando as emoções, os pensamentos e os comportamentos dos atletas ou praticantes. Além disso, este estudo com rigor científico fornece informações sobre o proveito eficiente das ‘Atividades Físicas’ como fator fundamental de saúde pública. Mesmo porque outra hipótese é cruzar os braços e esperar, isso é inadmissível, assistir sem nada fazer e nada produzir. As mensagens, reflexões, propostas e ideias contidas nesse artigo foram traduzidas do capítulo original do livro do doutor Hermann Brandt, citado na referência desse artigo.

Palavras-chave: Tchoukball; Hermann Brandt; Componentes Psicossociais.

1 INTRODUÇÃO

A fisiologia cardiovascular domina a biologia de qualquer atividade física, incluindo brincadeiras, as noções de psicomotricidade, comportando todas as integrações cerebrais, levam a uma expansão do círculo de interesses vitais da educação física e até mesmo das atividades físicas em geral, elas legitimam a busca de soluções que englobam da forma mais ampla possível, as diferentes esferas funcionais interessadas no ato motor.

Sempre voltamos a este plano de trabalho: por um lado, o condicionamento físico resultante do efeito sobre os músculos, articulações, funções cardiovasculares e respiratórias e, por outro lado, o ato psicomotor integral que necessita de disponibilidade física, o qual ele usa o que requer, portanto, um pré-requisito físico significativo; mas é esse ato psicomotor integral que legitima nossos esforços na busca de uma solução feliz das Atividades Físicas em benefício do homem comum.

Portanto, esse é um aspecto que, não podemos enfatizar excessivamente, quero dizer, insistir muito no fato de que a elaboração de um volume como o escrito no meu livro “Atividade Física e Biologia” (Dr. Hermann Brandt), levando a um conhecimento detalhado dos processos envolvidos e sua modalidade, conduz inevitavelmente a uma conclusão que é inicialmente inesperada, mas que ainda parece ser: o poder educativo da Educação Física.

Esse poder educacional é de tal ordem que, ao considerar tanto as funções básicas mio articulares quanto as funções cardiorrespiratórias e nervosas, legitima as afirmações que reivindicam o proveito eficiente das ‘Atividades Físicas’ como fator fundamental de saúde pública. Por isso, temos o direito de fazer a seguinte pergunta: por que não podemos convencer mais pessoas, contemporâneos e obter seu apoio para um programa específico de Atividades Físicas? Por que a indiferença tão geral do homem moderno à ginástica educacional em geral e aos jogos úteis em particular?

Aqui se abanda a Biologia para entrar em uma ordem completamente diferente de fatos que pertencem aos eventos que se enquadram no domínio da sociologia (estudos sociais). O poderia ser resumido da seguinte forma: O oferecimento de programas de encorajamento que auxiliam na escolha da atividade físico-esportiva.

2 COMPONENTES PSICOSSOCIAIS

a) Critérios gerais da ciência sociológica

Aquelas pessoas que convivem com as atividades físicas, seja praticando regularmente ou ensinando, percebem que essas relações estão passando por uma fase crítica, universalmente aceita em outros lugares. Não há uma concepção oficial a este respeito, pois nenhum país conseguiu desenvolver uma doutrina sólida, seja social ou politicamente.

Uma série de eventos ligando as atividades específicas, em todas as frentes, como eventos mundiais - da Copa do Mundo aos Jogos Olímpicos - desintegram programas educacionais, ao subordiná-los as ações que possam alimentar as chamadas participações de "alto nível". O que se deve fazer?

Para dar uma resposta satisfatória a esta questão, devemos retomar a análise das condições sociais e psicológicas nas quais os esportes evoluem em nossa sociedade moderna. Isso equivale a estabelecer o balanço da psicologia, psicologia social, sociologia das atividades esportivas.

Nós não podemos estar satisfeitos em observar a grande importância dos problemas que acompanham a Educação Física e o Esporte nessas novas direções; devemos tentar encontrar uma solução; e é isso que estamos fazendo com nossa atividade.

Quais são as nossas noções de fisiologia, quais são todos os nossos métodos mais ou menos embaraçosos, sujeites a variações, quais são nossas teorias, as reivindicações das várias escolas atuais, se não à direita da massa Ia participar dos benefícios das Atividades Físicas? E então, quais são os benefícios, podemos extrair, esperar, em qual direção organizar esforços para alcançar realizações utilitárias reais?

Essas considerações podem nos levar muito longe; elas são o objeto de especialidades e conferências especiais, eles mobilizam pesquisadores, praticantes, em números consideráveis. No entanto, pode-se dizer que, apesar de tudo isso, a sociologia do esporte e da psicologia, a psicologia social do esporte em particular, ainda está em sua infância; esses começos são certamente promissores, porque percebemos cada vez mais a importância das descobertas feitas em todos esses campos, mas todos os mesmos princípios, porque essas especialidades ainda não adquiriram uma maturidade suficiente para que conclusões definitivas possam ser tiradas. Contudo, as considerações sugeridas por essas novas disciplinas - psicologia, psicologia social, sociologia - nos permitem considerar respostas já mais ou menos válidas.

b) Fontes de prazer nas atividades físicas

Se analisarmos a natureza dos prazeres que encontramos no esporte, encontramos muitos, mas eles são agrupados mais ou menos sob dois títulos gerais: ou o instinto Indique, isto é, o prazer de jogar por jogar, ou o prazer de competir, isto é, o prazer de se comparar, de verificar as possíveis performances em relação aos outros, ou mesmo em relação ao passado; o elemento competitivo também é um componente do prazer, especialmente para certos personagens que gostam desse tipo de espírito de combatividade pessoal.

Não envolvemos o orgulho e a autoestima, embora eles façam sua parte; muitos atletas e esportistas gostam de praticar seu esporte pela glória que obtêm através dele (veja os assuntos cuja musculatura permite demonstrações de poder forçando a admiração!). Mas, uma vez que não queremos aceitar essa atitude particular como uma motivação válida para o exercício esportivo, nós o ignoramos em nossa análise e deixamos que os orgulhosos façam sua escolha de acordo com suas possibilidades pessoais.

Parece que estamos certos que há sempre um interesse em fazer uma síntese do prazer lúdico e do divertimento competitivo, sendo complementares entre si. No entanto, devemos reconhecer que estes dois fatores têm um impacto particular sobre as razões para o exercício do esporte e, portanto, as razões que podem convencer povos a aceitar e escolher um determinado tipo de atividade física, esses dois fatores têm uma influência particular. Portanto, eles devem ser considerados, pesquisados e organizados de acordo com os objetivos educacionais escolhidos.

Em particular, ouvimos as objeções que nos são apresentadas, por exemplo, que é difícil separar a dose de orgulho do espírito de competição. A prova é que muitas pessoas tentando competir deixa o esporte porque não vence porque o espírito competitivo diminui ou perde seu gosto. Por outro lado, o instinto lúdico pode sobreviver mais facilmente, por si mesmo e por sua própria inércia; até gostamos quando perdemos, e parece óbvio que é uma das qualidades combativas que devemos desenvolver.

Saber perder é um dos elementos da pedagogia educativa do esporte, mas é também uma qualidade moral de cultivar, que protege contra as oscilações de humor e a instabilidade interna resultantes de variações na satisfação competitiva.

Por esta razão, nós sempre chegamos à conclusão que as atividades que melhor se encaixam ou respondem ao instinto lúdico são aquelas que oferecem segurança máxima em termos de pedagogia geral. É preciso reconhecer, aceitar, que as Atividades Físicas que são cobertas pelo elemento lúdico natural do jogo são mais eficazes, mais tenazes, mais duráveis e mais profundas em sua influência do que todas as outras, e a isso se deve acrescentar que o instinto lúdico quando se desenvolve, o indivíduo se acostuma ao esforço, mesmo quando não seja coroado com sucesso particular; é o prazer do esforço pela sensação de esforço, o gozo do jogo pelo próprio jogo, independentemente dos seus resultados.

c) Emulação (rivalidade ou competição)

Deve-se ressaltar que o elemento competitivo coloca em evidência outro caráter psicológico, vinculado às ‘Atividades Físicas’, a emulação. Isto é, a comparação de indivíduos entre si por ocasião da recordação da supremacia individual sobre os outros cria uma emulação que permanece sempre uma fonte de estimulação fundamental. No entanto, para ter chances de fazer uma escola, isto é, recrutar seguidores, convencer os hesitantes, atrair o indiferente, é melhor jogar em todos os quadros ao mesmo tempo e intervir oportunisticamente, bem, antes o instinto lúdico que o instinto competitivo.

Contudo, resta ainda assegurar que a emulação criada pela competição não ultrapasse as possibilidades psicossomáticas individuais e chegar a um exercício e/ou treinamento nervoso ou fisiológico. Sintetizando, a mistura de fundamentos lúdicos e competitivos deve ser resolvida pelos responsáveis pelo treinamento, pelos pedagogos, para garantir que haja sempre consistência entre os resultados e o objetivo perseguido.

Isso significa dizer que é preciso ter a ambição de exercer um controle sobre esses instintos poderosos, canalizá-los e de alguma forma subordiná-los aos interesses bem compreendidos da ordem fisiológica, psicológica e social.

Essa subordinação dos elementos instintivos às justificativas biológico-sociais deve servir de base para qualquer nova proposição da Atividade Física; Para ser válido coletivamente, qualquer programa deve garantir uma síntese equilibrada entre todos esses valores.

d) Psicologia infantil e Psicopatologia

No momento em que redigíamos esses princípios, até mesmo enquanto nós escrevemos essas breves noções primordiais, ou seja, esses poucos conceitos fundamentais, um programa na Rádio Francesa reuniu especialistas em psicologia pediátrica e psicoterapia para discutir os instintos agressivos da questão. Conceitos e ideias bastante contraditórias foram expostos. Tudo ainda não está claro e as opiniões dos especialistas variam de acordo com sua especialidade, cada uma tendo seu ponto de vista, um ponto de partida, diferente do nosso.

Gostaria de chamar a atenção, em particular, para a opinião de um psicoterapeuta na qual ele admite que o instinto agressivo seja normal em crianças, preside sua evolução, sua estrutura mental, participa em alto grau no desenvolvimento da personalidade, na maturação da criança. Todos os interlocutores pareciam concordar em um ponto: o instinto agressivo não deve levar à violência; ela foi condenada por unanimidade, porém sabemos que a definição do papel do instinto agressivo no comportamento social da criança tem variado muito ao longo deste milênio.

Em resumo, as evidências sugerem que o instinto agressivo é mais ou menos a regra geral. Somos nós que dizemos mais ou menos, porque é óbvio que, em muitas circunstâncias, é fraco o suficiente para não aparecer em primeiro plano; sem dúvida, pode-se admitir que o instinto agressivo, é natural e, às vezes, associado a distúrbios do desenvolvimento da personalidade infantil. Os psicoterapeutas referem-se à opinião de Freud para estimar e inferir que o comportamento agressivo é fundamental, mas apresenta variações patológicas ou semi-patológicas significativas. A psicoterapia refere-se à psicopatologia, e seria difícil distinguir entre os aspectos particulares da psicologia normal e as manifestações patológicas no limite do normal.

Além disso, em poucas palavras, descobriu-se que o instinto de agressão é mais ou menos generalizado. Somos nós que dizemos mais ou menos porque é óbvio que em muitas circunstâncias é fraco o suficiente para não aparecer em primeiro plano. Não pode haver dúvida de que o instinto de agressão é natural e às vezes associado a distúrbios do desenvolvimento da personalidade infantil. Os psicoterapeutas referem-se à opinião de Freud para estimar e deixar entender que o comportamento agressivo é fundamental, mas apresenta variações significativas que se repetem periodicamente e que constantemente envolvem mudanças patológicas ou semi-patológicas não negligenciáveis, isto é, significativas. A psicoterapia refere-se à psicopatologia, e seria difícil distinguir entre os aspectos particulares da psicologia normal e as manifestações patológicas marginais ou no limite do normal.

A psicanálise em particular é rica em bibliografias de fenômenos anormais, pelo menos em documentações subpatológicas, e é nessa documentação particularmente importante na literatura em que os psicoterapeutas elaboram suas teorias essenciais, também conhecidas como teorias críticas.

Na prática, não discutimos o direito que têm os especialistas no papel de dar interpretações de fatos psicológicos de acordo com as próprias bases de sua especialidade. No que nos diz respeito, buscaremos a inspiração de nossa concepção - nossa "verdade" - na análise de material humano não patológico; valorizamos a observação da juventude normal no esporte.

Estamos convencidos, ainda podemos constatar que a análise das funções dos instintos humanos, durante a prática do esporte é relativamente recente. Os autores que abordaram esses problemas geralmente não conseguiram se afastar da bagagem que receberam em suas atividades profissionais específicas (sociologia, psicologia, psicologia infantil, psicoterapia, psicotécnica, etc...).

Eles atribuíram em suas altitudes e experiências pessoais sobre os fatos esportivos e os aplicaram, logo, os critérios utilizados em suas próprias especialidades. Entendemos que essas visões são muito interessantes, mas somente se os deixarmos em seus respectivos contextos originais: concretamente eles usam "a marca de origem" e permanecem os pontos de vista concretos e/ou os conhecimentos especiais.

Estas são, sobretudo, às óticas particulares que nos dizem quase o mesmo: visto deste ângulo de observação, até os fatos esportivos aparecem..., este é o caso do instinto agressivo, mas fomos levados a livrar-nos dessas noções de a rotina onde eles se atolaram no ponto de partida, enquanto a observação nos obrigou a conclusões ligeiramente diferentes.

e) Estrutura social

Quanto mais vivemos o esporte, entre outras coisas, podemos constatar que na atividade esportiva de equipe, ou seja, os esportes coletivos são constituídos de um verdadeiro "microcosmo" onde a vida é total como na vida cotidiana, isto é, envolver todo o homem, mas com uma grande vantagem de apresentar algumas condições experimentais reais.

O homem se comporta em relação aos seus companheiros de equipe e adversários no esporte de acordo com sua própria constituição corpórea e força mental, ele vive um ato, uma fatia da vida; o palco é um "meio de comportamento" com seus problemas, as suas situações, os seus conflitos, os seus desdobramentos, as suas conclusões, vamos até acrescentar uma sequência de ações sociais, uma espécie de parênteses em que o homem "vive sua vida", para o seu destino, mas ele se apresenta com todos os instintos com que a natureza o dotou.

Cada ato, cada sequência, cada encontro é uma cena vivida, improvisada, mas fiel aos dados constitucionais dos sujeitos que aparecem no palco. Essa concepção do microcosmo esportivo é útil sob dois pontos de vista: análise em primeiro lugar porque a partir da observação de choques individuais, que refletem as realidades complexas, as quais estão presentes, extrai-se uma documentação de primeiro valor. Então a pedagogia; as cenas vivenciadas não são de forma alguma que escapam ao livre-arbítrio, ou refletem os mecanismos irremovíveis dedicados a um tipo de predestinação.

Na realidade, o atleta espera, aprende a viver a sequência do esporte. Precisamente a atividade esportiva é um aprendizado de comportamento em microcosmo, e então, de acordo com os imperativos escolhidos e aceitos, o aprendizado toma sua dimensão real que é a da humanidade, com suas fraquezas, suas grandezas, suas derrotas e suas vitórias, seus conflitos e associações. Isso é tudo o que contém a vida do microcosmo esportivo.

O esporte é uma luta, ‘uma metáfora da vida’ e, como tal, responde bem aos instintos profundos do homem. É em nome desses instintos e do espetáculo que ele nos oferece seu desdobramento dentro do ‘microcosmo esportivo’, o qual nós não compartilhamos das clássicas definições dadas ao conceito "agressão-violência”...

A participação em atividades físicas e a observação de fatos nessa área nos levam às seguintes conclusões: o instinto básico é a combatividade; este último é orientado para soluções positivas. A luta pela vida é uma consequência direta do sentimento que cada indivíduo tem em seu "direito de existir".

A combatividade representa o elemento construtivo desse instinto de espírito de luta; ele comunica ao homem o poder de se impor, de aperfeiçoar-se para ganhar sua posição na sociedade em que trabalha. A luta não é dirigida contra alguém, mas para conseguir o seu lugar ao sol. Isso ocasionalmente traz consigo o direito de impedir a "irritação ou incômodo" as outras pessoas que parece desaparecer, mas a atitude interior é a de coragem para enfrentar as situações e a vontade de criar condições, (mesmo e especialmente interior) favorável.

O instinto agressivo é, ao contrário, direcionado contra alguém, ele se dirige ao "outro" para observá-lo, manobrá-lo, guiá-lo, limitá-lo. A agressividade triunfa diminuindo os outros, atacando as qualidades de comportamento dos outros, é a busca de uma supremacia de ataque.

Conduz-se à violência (que alguns especialistas condenam como se representasse outro instinto), é apenas por uma evolução normal e lógica da atitude de agressividade, para a qual os meios de persuasão são muitas vezes insuficientes. Gentileza não é uma qualidade de agressão, e da tentação a tentação, para afirmar o direito à agressão, quase inevitavelmente leva à violência.

Depende da resistência dos outros, porque quanto mais forte esta resistência, mais é necessário aumentar os meios de combatê-la e impor-se; e então, a partir de quando a violência deixa de ser a expressão de agressão para se tornar um defeito de comportamento?

Agressão afirma a supremacia do mais forte; é ele quem triunfa, e o instinto agressivo primeiro mobiliza situações, expressões de força, mas a força é também - na maioria das vezes - uma dádiva da natureza. Há injustiça em sancionar os vencidos; se a vitória é adquirida, ela está sempre em um fundo de valor constitucional, congênito (individual), e então a aquisição de suplementos de força é direcionada para o objetivo prescrito pela agressividade.

Agressividade é a expressão do instinto de conservação negativo: suprimir a força do oponente, ou pelo menos neutralizá-lo. Já a combatividade evolui em um terreno psíquico totalmente diferente. O instinto de luta (ou instinto de combate) é, antes de tudo, o fato da "não resignação", ou seja, da não renuncia: não aceitar as próprias fraquezas, por si mesmo, pelas próprias inadequações, pelas inferioridades de alguém, em uma palavra. Aplicar-se para encontrar formas de aumentar o valor do comportamento, multiplicar as chances de vencer a batalha, aceitar a luta e colocar um preço nela é o conceito de combatividade.

No esporte, há sempre um combate (uma luta ou batalha), isto é, um encontro esportivo onde se medem as personalidades; quer seja de agressividade ou de combatividade (espirito de luta), as duas equipes estão se preparando para essa prova, isto é, deve estar preparada para apresentar um melhor jogo. A vida esportiva é isto, ou pelo menos deve ser assim: a preparação dos testes onde nós nos medimos. Porém a agressividade está particularmente preocupada com a fraqueza do adversário, e a combatividade busca valor pessoal. Fatos externos parecem idênticos e as cláusulas ou disposições internas diferem entre si quanto às seguintes características essenciais:

Não podemos negar a agressão o direito de fazer parte das bagagens normais dos atletas em caso de um eventual teste, mas podemos desejar criar oportunidades para o esporte onde a combatividade seja sancionada como uma qualidade superior..., e desejável. Abre-se assim o tópico da sociologia do esporte.

f) Sociologia do esporte contemplada como uma ciência

Falamos sobre isso frequentemente, mas é uma nova temática, e ainda pouco esclarecida e utilizada. Às vezes é a sociologia que analisa o esporte, outras vezes é o esporte que questiona a sociologia. Para dizer a verdade, até o presente momento ninguém ainda fez um aprofundamento considerável da dimensão substancial para resolver essa questão.

O esporte é um fato social, uma vez que ele desempenha uma função cada vez mais relevante na comunidade, mas que papel é esse tão fundamental para coletividade? Qual é a sua própria situação em relação à sociedade ao seu redor?

No entanto, nosso proposito não é apenas procurar saber o que realmente significa a sociologia do esporte na sociedade moderna. Mas, essa problemática merece um estudo exaustivo, dedicando todo o seu esforço ao mesmo para poder dar una resposta completa.

Seja como for, é um campo muito vasto, porque passa das atitudes pessoais dos praticantes para a organização internacional de esportes de espetáculo, como os Jogos Olímpicos; passa também pelo profissionalismo, por todos os aspectos do espetáculo esportivo, seja na TV, até mesmo no rádio, nos jornais ou na entrada nos estádios mediante um pagamento; Tudo isso faz com que o aspecto social do esporte evolua em uma velocidade vertiginosa.

Estamos contentes em procurar elementos positivos que sejam capazes de alimentar uma concepção pedagógica eficaz do Esporte. Portanto, este é um ponto de vista muito especial que tomamos desde o início. O que será suficiente para determinar as teses essenciais entre as trocas de ideias entre sociólogos e esportistas. Assim sendo, uma revisão das teses essenciais da ‘Sociologia do Esporte’ foi feito na obra de Georges Magnane: A Sociologia do Esporte (Collection Idée - Nouvelle Revue Française, Gallimard éditeurs Paris). Este livro nos parece o melhor para expressar a atitude sintética, esportivo-sociológica.

Atividade esportiva e subconsciente, na idade adulta, aspecto sociológico. Precisamente, um capítulo é dedicado à análise do esporte do ponto de vista psicanalítico; isso, em introdução à sociologia do esporte, nos permite precisar um aspecto do problema do instinto, que Magnane chama de ‘Instinto Agonal’ ou agonístico: parece-lhe possível interpretar a violência, mesmo que excessiva, como culminação normal do ‘instinto agonal’. Era também o que diziam os psicopatologistas de crianças. Partindo desse ponto de vista, podíamos discutir durante muito tempo a relação entre o instinto agonístico e a violência no esporte e admitir que o futebol americano, por exemplo, «testemunha uma necessidade imperiosa de definir, limitar e submeter às convenções o simbolismo da violência no esporte».

Pelo contrário, pensamos que o exercício da violência nos esportes deve ser praticado e/ou regulada para casos excepcionais, ou seja, reservadas apenas as pessoas especialmente fortes para as quais a libertação pela violência pode ser a expressão de uma solução para problemas internos. Além disso, podemos constatar que os esportes violentos são espetacularmente receptivos e que, por conseguinte, estes esportes também são justificados pela reação do público em comparecer a essas competições extremas... E que precisamos delas para manter o esporte financeiramente. Entretanto, em determinadas condições especificas, o esporte também tem um valor terapêutico indiscutível; Com efeito, já tivemos essa experiência, ou seja, nós o experimentamos em circunstâncias muito diferentes, que nos parecem absolutamente convincentes. Mas este não é um dos principais elementos da atividade esportiva; mas ela só é terapêutica quando permite uma organização interna do indivíduo, uma nova estrutura mental de acordo com objetivos, motivações extraídas da realidade social do momento.

Por isso, o esporte criar oportunidades de praticar algumas atividades que são plenamente alcançáveis, dentro do contexto das ambições de um homem comum, e, portanto, expõe menos do que qualquer outra atividade ao desapontamento de repetidos fracassos. Ser derrotado no esporte não é o equivalente a uma derrota interior causando solavancos no equilíbrio mental. Ser derrotado é simplesmente ser menos poderoso que o adversário, mas a justificativa do esforço não deixa de ser preservada, permanecendo intacta em sua totalidade. É por isso que, normalmente, a atividade esportiva apresenta um valor terapêutico. Mas, a partir daí, para confirmar com Magnane que a análise sociológica do esporte, essa pesquisa sobre o comportamento do atleta, nos permite pensar que podemos assim fazer uma psicanálise da juventude atual que parece ir além do campo de aplicação restrito da atividade esportiva.

O ato esportivo não vai necessariamente para as profundezas do subconsciente e, portanto, não permite descobrir fatos ignorados na estrutura mental de um indivíduo. A atividade esportiva não pode ser uma psicanálise, mas não é menos verdade que o instinto chamado por Magnane de ‘Instinto Agonal’ ou agonístico, incluindo todas as possibilidades combativas de um indivíduo, tem um importante significado social. Os comportamentos recíprocos dos companheiros de equipe sempre constituem uma experiência social, através da qual o indivíduo pode aprender muitas coisas. Então, é nesse momento que se realiza uma verdadeira terapia (desempenha o seu papel terapêutico) pela atividade social.

Nós vamos além, afirmando que a escolha de um esporte também pode ser feita em termos das possibilidades que ele oferece no que diz respeito ao comportamento social e, portanto, eventualmente a experiência social pode tornar-se terapêutica.

2.1 Atividades esportivas na Sociedade

A sociologia do esporte deve levar em conta todos os problemas que as atividades esportivas representam para a sociedade: se examinarmos esse problema geral: esporte e sociedade moderna, podemos ver que três polos competem entre si o direito de praticar e analisar fatos: psicologia individual, sociologia e psicologia social. Cada uma dessas três disciplinas tem um domínio que se atreve a reivindicar com conhecimento "moderno", para ter opiniões documentadas.

Na verdade todos nos interrogamos acerca da realidade, aquela que vivemos nos círculos dos praticantes, seja em contato com aqueles que afirmam ter acesso à atividade física, ou com aqueles mais numerosos e que ainda estão cada vez mais interessados, e têm uma forte opinião sobre esportes..., mesmo sem praticar um, e finalmente, e acima de tudo, nessa outra realidade que desperta interesse, aqueles dos dirigentes esportivos, gestores ou gerentes, técnicos, etc., vivem todos os dias.

A realidade social do esporte parece sempre mais simples e, ao mesmo tempo, mais complexa.

A primeira, a mais simples em princípio, consiste em que só podemos separar esses componentes artificiais; eles estão intimamente relacionados, e formam um todo, traduzindo o aspecto humano que pela nossa parte, defendemos com particular atenção. Não há três disciplinas, existe o homem que vive todas elas ao mesmo tempo.

A segunda é ainda um pouco mais complexa: mas isto ilustra um pouco a realidade porque, se a atividade humana está sendo executado simultaneamente nos limites das três disciplinas, não deixa de ser verdade que o entrelaçamento, isto é, a confiança mútua nesses elementos com as suas interações não simplifica a compreensão que é preciso ter.

A Sociologia, a psicologia individual, a psicologia social: todas elas levam umas as outras, e é mais em nome de suas ações combinadas e contemporâneas que devemos apreciá-las, do que em nome dos aspectos particulares (ou artificialmente) isolados de cada uma delas. Em qualquer caso, qualquer medida prática que afeta a atividade física na sociedade moderna é direcionada ao comportamento individual no grupo social. O homem só é válido em seu ambiente social e encontra seu significado vital apenas em sua expressão em função dos outros.

2.2 O ambiente psicossocial do esporte: o espetáculo esportivo

O grupo social..., é o homem, ou melhor, os homens! Porque temos a audácia de entender no contexto social circundante, em torno de atividades físicas, aqueles que não praticam, mas estão interessados..., ou deveriam estar interessados, porque a existência de personagens inativos, mas espectadores, não é indiferente ao destino da atividade física de grupos esportivos. Pode parecer injusto falar em "espetáculo" com base no esporte: mas a vasta informação moderna que nos permite assistir "ao vivo" em Paris, os jogos que acontecem no México transformou o significado de atividades físicas, esporte e performances modernas passaram para condição de espetáculo internacional. Já não se pode negar que o futuro de um esporte está mais ou menos ligado à sua espetacular qualidade, e falar de espetáculos esportivos é abrir um capítulo doloroso e encantador de uma só vez. Um grande elemento espetacular: "o suspense ou a tensão" do resultado.

Não há critério válido para avaliar o valor espetacular de um esporte. Devemos admitir que um dos coeficientes mais influentes e, ao mesmo tempo, menos mensuráveis é "o desconhecido" do esporte, a tensão da expectativa: "quem ganhará"? As pessoas ousaram dizer que esse elemento do desconhecido estava na raiz de grande parte do valor do esporte, o resultado final de um jogo é algo que todos esperam frequentemente com uma emoção quase patológica.

Este é o slogan que se gosta de repetir em nome do Barão de Coubertin "é preciso tentar a sorte, correr riscos, nunca se sabe". No que diz respeito ao próprio atleta, é óbvio que o fato de participar e buscar até o último momento para reivindicar ou a afirmação de seus direitos em qualquer capacidade é sempre impressionante. Mas esta emoção, vista do lado do público, é ainda mais particular na medida em que é contagiosa. O entusiasmo e revolta das multidões face ao resultado esportivo não tem nada em comum com esse caráter impreciso e indeciso do fim de uma corrida ou fim do jogo. Porque há sempre mais ou menos elementos acrescentados: imponderáveis, situações que ocorrem no último momento que levam à decisão - e é isso que mais atinge o público - são multiplicadas pela qualidade da imprevisibilidade que cria a ansiedade da espera.

Os resultados imprevistos e inesperados têm eventualmente mais efeitos emocionais do que uma corrida que é como diz o ditado clássico, jogada antecipadamente ou "corrida antecipada". É por esta emoção que as multidões se deslocam periodicamente por ocasião dos grandes jogos são simplesmente espantosas. Aguardamos a solução, o "destino", a "decisão" é esperada numa tensão de espírito - tensão muitas vezes coletiva, como é o caso quando os especialistas da excitação de grande público "claque" (fazendo-o participar de eventos esportivos, atividades vitoriosas, manifestações cívicas ou contribuições filantrópicas, entre outras, de acordo com as suas próprias aspirações. em animar torcida), agitam a bandeira nacional - que representa o momento psicológico para o qual queremos assistir. Quanto mais nós emocionamos com o desfeche final, ou seja, o final de uma partida quaisquer esporte, temos uma tendência a ficar felizes por ter participado ativamente e/ou simplesmente assistido o jogo!

3 CONCLUSÃO

Hoje em dia, encontra-se nos mais variados ambientes sociais diversas formas de violência psicofísicas, as quais se tornam um problema cada vez mais difuso e transversal. Sendo que apenas a aplicação de leis não suficiente para combater essas problemáticas sociais, é, portanto indispensável que se trabalhe na prevenção educativa, em especial através de esportes com comprovação científica que apresente novos técnicas e novas práticas que iniba o contato físico e a agressividade, esse tipo de aprendizado constitui uma ferramenta eficaz para criação de uma nova cultura da paz, como é o caso dos princípios da não violência estabelecido nas regras do jogo do Tchoukball.

Por outro lado, constata-se que a simples preservação da saúde física e mental dos jovens já é, e por si só, uma melhoria de saúde, já que comprovadamente o bem-estar psíquico previne vários tipos doenças psicossociais e reduz substancialmente a ansiedade. Por isso, é indispensável proteger também o equilíbrio o psíquico e a moral das crianças e adolescentes, esse balanceamento psicológico é crucial para o desenvolvimento saudável do indivíduo. Atualmente, crê-se que os resultados com a pratica de uma boa ‘Atividade Físico-desportiva’ constituem uma riqueza incomensurável e presumida para modificar a essência pisco-cognitiva do individuo, o transformando em um cidadão pacifico, por conseguinte, o imaginário coletivo. de todas as classes sociais.

Na sua globalidade o Tchoukball, falar com propriedade científica de uma nova ‘Cultura da Paz’ que a sociedade atual precisa urgentemente e exercitada através desse esporte coletivo não violento. O Tchoukball foi concebido com a intenção de defender, proteger e desenvolver os valores fundamentais do esporte de equipe. Portanto, a orientação adotada desde o início nas pesquisas do doutor Hermann Brandt foi, sobretudo, àquela de um 'homem completo' em todos os aspectos: biológico, físico-mental e social.

OBRA REFERÊNCIADA:

BRANDT, Hermann. Étude critique scientifique des sports d'équipe - Prix Thulin de la FIEP, 1970. Le Tchoukball, le sport de demain. Genève: Editions Roulet, 1971. Titulo em português: “Estudos Críticos e Científicos dos Esportes de Equipe” - Prêmio THULIN da Federação Internacional de Educação Física - FIEF, em Lisboa - Portugal. Trad. e adaptação do Francês (Helvético) em Português do Brasil: FERREIRA, Océlio Antônio.

COMO CITAR ESSE ARTIGO: BRANDT, Hermann; FERREIRA, Océlio Antônio. TCHOUKBALL: componentes psicossociais relacionados à saúde físico-mental, segundo Doutor Brandt. . In: “Étude critique scientifique des sports d'équipe - Le Tchoukball, le sport de demain”. Tradução e adaptação em português de FERREIRA, Océlio Antônio. Aracaju-Brasil, 21 de setembro de 2019.

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