MESTRE "ROBERTÃO... UMA LENDA !
MESTRE "ROBERTÃO"... UMA LENDA !
Glorioso 7 de Setembro de 2019, com a Capoeira de Belém viva e renascida comparecendo em massa à praça da República, ex-cemitério de escravos e o lugar mais frequentado da Capital. Mais de 10 Grupos realizaram 6 ou 8 Rodas onde quase 150 praticantes mantiveram acesa a chama desse folclore-esporte tricentenário. Em conversa com antigo aluno, veio à tona o nome de Roberto Almeida dos Santos, mestre "ROBERTÃO" entre os que o conheceram e gozaram de sua amizade. De uma simplicidade impressionante, sem arrogância nem vaidade, gentil e amigo de todos, era no entanto um professor enérgico que exigia dos seus alunos e cobrava atenção às lições de cada aula.
Seguro de si, "capoeira" completo, mestre "Robertão" dominava todos os fundamentos, tocava bem berimbau e cantava bonito, ritmado e dentro das tradições. Aprendera no Maranhão com mestre "Sapo", que também ensinou mestre Bezerra, que parece não ter aproveitado tão bem os mesmos ensinamentos. Tive o prazer de conhecer mestre "Robertão" atuado na instrução dos praticantes do Grupo "Berimbau de Ouro", cujo prédio os Bombeiros recém-chegados na Cidade Nova "tomariam", expulsando dali a Capoeira. Sem outro local para os treinos, o Grupo se dispersou em 1988, com mestre "Robertão" encerrando ainda jovem e em plena forma sua carreira de professor, isto em meados de 1987.
A partir daí, pequenos (e grandes) dramas pessoais o afastaram das Rodas e da prática, culminando com a conversão ao Evangelismo, que foi a "pá de cal" na chance de uma volta dele ao ensino, não fosse ainda um inesperado AVC outro complicador. Penso que a Capoeira NÃO É RELIGIÃO, quem tem (se não fôr ateu) é o praticante, por isso pode-se estar nela sem cometer pecado ou sem desagradar a (seu) Deus. Numa das muitas "voltas" do nosso Destino findamos numa garagem em 1989 sem banheiro, chuveiro, janelas, luz elétrica, nada. Roberto, assim que soube, nos cedeu uma casa sua, com poço e luz, SEM NOS COBRAR coisa alguma, nem 1 centavo. Minha mãe, ao cavar valeta ao lado da cisterna para escoar água, acabou por destruí-la !
Suponho que a Eternidade seja a terna lembrança que levamos de pessoas que BRILHARAM em nossas Vidas, fazendo das próprias existências passarela de qualidades e competência, exibição memorável de belos sentimentos e louvável exemplo. Mestre Roberto segue vivo -- graças a Deus ! -- e não há no bairro Cidade Nova inteiro quem não se lembre dele senão com carinho e admiração, a gentileza em pessoa, o amigo de todas as horas, o mestre que foi MESTRE mesmo ! Com a saída dele a Capoeira de Ananindeua perdeu demais... quem dera quizesse voltar, ao menos para assistir as Rodas e cantar, se tocar lhe fôr difícil !
Felizmente fizemos com êle algumas fotos na praça Tancredo Neves (bairro Cidade Nova 4) numa tarde de 1990 e, infelizmente, êle não compareceu à filmagem de hora e meia que realizamos nessa época na mansão -- com belo jardim -- do doutor Carlos Ano Bom, o pai, não o filho. O estilo único e o belo jeito de jogar Capoeira de mestre "ROBERTÃO" seguem inimitáveis... e seu Grupo "Berimbau de Ouro" também faz muita falta. Salve, MESTRE !!!
"NATO" AZEVEDO (em 8/setembro 2019, 20 hs)