OS NOVOS TEMPOS DA CAPOEIRA

OS NOVOS TEMPOS DA CAPOEIRA

"Quem é rei aqui na Terra,

é rei em qualquer lugar" !

(mestre "CAMISA", em

homenagem a me. BIMBA)

Andei afastado das questões por quase 30 anos, mas minha"volta" a ela se deveu ao meu interesse pela música deste folclore-esporte... creio até que foram os toques e o canto que me levaram a praticá-la. Bem antes de manuais e partituras -- como ado "livrão" verde de kay Schaeffer -- eu já criara minha própria forma de "anotar os toques": 1) bola branca com faixa escura para o "ishk"; 20 meia bola preta para o "tim", e 3) bola branca para o "dom",com as "notas" penduradas em 3 linhas, ao estilo da partitura clássica. "Rubinho Tabajaras" deixara gravados 8 ou 10 toques, com nome questionados, na época cada mestre os definia como bem entendia. (Meu irmão usava 3 "sinais" com a mão, para ensinar seus alunos !)

Dos anos 70 para cá a Capoeira estruturou-se, por vezes de forma equivocada, artificial e desnecessária. Felizmente, seu espírito de Folclore -- o pouco que lhe resta dele -- rebelou-se e quase nada "vingou". Independente de soluções (?!) pessoais, por Grupos particulares ou por uma Confederação confusa, o título rela de MESTRE precisa ser resgatado, se já não o foi. Ainda que -- para combater pessoas sem gabarito suficiente para sustentá-lo -- tenha-se "inventado" graduações acima dele, considero isso um grave êrro de visão que deverá ser corrigido, doa a quem doer. A CBC -- em sua primeira hora (1992 ?) -- tinha 3 ou 4 "degraus" extras, que só trouxeram cizânias. Não me cabe essa "rebelião" estrutural mas, certamente, algum dia terá que ser feita. Vejo no momento atual -- tanto aqui em Belém quanto a nível nacional -- que a Capoeira desfez-se das "armadilhas" de autopromoção às custas de agressões e desrespeito a Grupos vizinhos, organizou-se em termos de apresentação (uniformes, símbolos,folders, etc) e seus professores e mestres têm se dedicado ao ensino regular e em local fixo, sem "itinerâncias", paradas, falta de profissionalismo e de compromisso. Afinal, falta algo à Capoeira atual ?! Não sei dizer !

Quando criamos um Centro Cultural, em 1988, nossa meta era a divulgação da Capoeira em termos audiovisuais, mais até do que por meio de aulas. Infelizmente tivemos no CORREIO local um "inimigo feroz" e o CCCP, sem nenhuma espécie de apoio, "naufragou" em pouco tempo. Ficaram reportagens de página inteira (5 entre outras 18) que demonstram nossas intenções. Imagens do jogo feitas por fotógrafos de gabarito enfeitariam cadernos, cartões telefônicos, toalhas, o que viesse... ficamos "no sonho" ! Vejo agora que muito do que idealizamos está na Internet, realizado por mãos alheias movidas pelo mesmo ideal de aprimoramento e perfeição. Nesse ítem, me parece que o PORTALCAPOEIRA se superou, quem tem memória poderá comparar o site em seus primeiros dias (em 2010 ?) com a diagramação atual primorosa, setorizada, dividida em temas, democrática e abrindo espaços para o NOVO !

O "namoro" com a Internet não pode RENEGAR a "Mídia" tradicional, Jornais principalmente... e isso não é praticado por Grupo algum. Os símbolos REDONDOS, em círculo, fazem parte da História dessa Luta e podem ser preservados, contudo a "pobreza franciscana" das imagens dentro dele precisa findar. É inadmissível -- em tempos audiovisuais -- uma cabaça ou meio berimbau, com letras microscópicas a circundá-lo. Aumente-se o desenho do logotipo a fim de que nova imagem, moderna, o substitua !

E chegamos aos NOVOS MOVIMENTOS... confesso que "tremi" ao ler na "homepage" do PORTALCAPOEIRA esse ítem ! Por muito tempo fui de opinião que "só muda um Folclore quem não gosta dele"! Dentro dessa "ótica" nossa Capoeira continuaria com s 14 movimentos da Angola que a viu nascer ou os 17 ou 20 e tantos da "Regional Baiana" gestada por mestre "Bimba" e seus discípulos. Miloslaw Souza, professor de Folclore, argumenta em recente reportagem que Belém sequer poderia ter quadrilha junina, por ela ser nordestina na essência e porque o nosso "caipira" é indígena, bem diferente do "Jeca Tatu". No entanto, a Cidade tem um movimento junino esplêndido, trazido pelos antepassados nordestinos que aqui chegaram a 100 anos atrás. Apesar das mudanças, as quadrilhas RESISTEM ao Tempo. REBERLAR-SE, resistir é também o IDEAL da Capoeira... novos saltos são expressões individuais dela, o AGIR COLETIVO não mudou !

Curiosamente, a secular Angola mantém a prática quase como foi criada, côro poderoso a sustentar o "axé" africano que é a sua essência. É na "ex-Regional Baiana" que mora o "perigo", ao assimilar gestos e movimentos "alienígenas" (ou alienados) descaracterizando a Luta, diminuindo sua importância e originalidade. Um livreto de 1994, "NOMENCLATURA DOS GOLPES" salvo engano, apresenta de saída 15 ou 20 "aús" -- entre outras "sandices" -- além de analisar perto de 200 jogos de um campeonato universitário onde os oponentes usaram somente 4 ou 5 "golpes" / movimentos dos 30 ou 50 existentes.

Logo, invente-se o que fôr, o Folclore seleciona o que ébom para si, embora permita TUDO, "camaleão" que sempre foi. "Na ÂNSIA DE LIBERDADE nasceu a Luta..." cantou mestre "Suassuna". Que essa LIBERDADE permaneça !

"NATO" AZEVEDO (em 24/jan. 2019)