ARTE CHORANDO PELO FUTEBOL
Depois vem aquele pessoal dizendo que é saudosismo. Mas no meu tempo o jogador de futebol tratava a bola de você. Hoje eles tratam de Vossa Excelência tamanha a falta de intimidade com a pelota. Depois de mais de 345 passes errados, quando conseguem acertar um, o recebedor mata na canela e sai correndo atrás, se tiver espaço prá isso. Nunca a bola saiu tanto pela linha de fundo e lateral do que nos jogos atuais. E o pior de tudo isso é a valorização desses pseudo craques. Bom aí eu não creio em valores tão altos por meninos que perdem tantos gols, e possuem apenas um lampejo ou outro de um grande jogador. Cifras que assustam pelos valores, mas que há algo de podre no reino da Dinamarca. Talvez uma lavanderia aqui, outra ali, e as coisas vão acontecendo sem ninguém se importunar. Até mesmo porque vivemos nos tempos que corrupção é a qualidade mais importante dos gestores, e a justiça faz vista grossa para não aumentar os volumes que pesam sobre suas mesas e consciências. Mas voltemos ao campo. Onde estão os lançamentos de 40 metros? Os passes profundos deixando os atacantes na cara do gol? Aliás, prá que o bom passe se os atacantes não sabem desviar do goleiro, e fazem desse mero assistente de jogo do passado a herói do presente. Os placares de 0 a 0, 1 a 1, 2 a 1, são considerados ótimos resultados, afinal se ganharam míseros pontos, que é o que importa. Dar espetáculo, isso ficou no passado e na lembrança de quem viu. O que falta? Caro leitor não falta nada. Nunca se deu tanto conforto ao jogador de futebol como na atualidade. Centros de treinamento luxuosos, hospedagens nos melhores hotéis, profissionais médicos e terapeutas do melhor nível. Uniformes bonitos, coloridos, telões que permitem até o jogado arrumar o cabelo depois de uma cabeçada. Arenas protegidas, gramados impecáveis, tudo de bom. O problema está na visão do profissionalismo. Trabalha-se para enricar atores e diretores. A visão é somente de contratos milionários, nos quais todos ganham. Todos não. E estou falando de Brasil. E o público? O público que se lixe, porque nem jogadores e/ou dirigentes-empresários, estão pensando em agradar ao público. Primeiro os direitos de transmissão, as empresas patrocinadoras, os atores, e se der, agradar ao público, ao povão. Isso tudo é o que nós vemos. E o tamanho do que não vemos? Conseguiram encaixotar algo que era livre, e hoje vive em extinção: o talento. A culpa? Não me arrisco a palpitar, mas quando assisto as baboseiras das narrações esportivas (repetem dez vezes a história do jogador, do juiz, do estádio, da cidade, e o jogo correndo) e pífios comentários técnicos (evitam confrontos com a verdade, não falam aquilo que eles sabem para não desagradar os ouvintes), creio que a grande mídia está por trás disso. E aí, que Deus nos proteja da Rede Globo.