CENTRO CULTURAL - 25 ANOS DEPOIS...

"O Conhecimento em si é de pouca

valia... o valor do Conhecimento está

no uso que se faz dele".

(autor não-identificado)

"A jibóia é cobra mansa / mas come a

jararaca. (...) CAPOEIRA é a jibóia...

"jararaca" é muita gente"!

(trecho de chula de Capoeira da

aluna "CIGANA", Fortaleza, 1988)

Nunca tivemos ilusões, nem eu e nem meu irmão gêmeo Renato... o CCCP nasceu sem nenhum propósito, criado por um espertalhão que não media esforços para fazer coisas erradas. Nome de peso na Capoeira de Belém -- junto com sua "Xerox", quase sempre a copiar (ou repetir) os mesmos "absurdos" -- o sujeito era temido e detestado, ainda que conservasse no meio capoeirista um nome & fama que jamais entendi como surgiram e de que forma se ampliaram.

O objetivo do tal mestre era levantar, de tempos em tempos, o próprio nome e se valia dessas "entidades" fantasmas, meros títulos sem local ou espaço, sem membros nem diretoria ou atuação. O CCCP me caiu nas mãos meio que por acaso... "batemos de frente" com a figura, aqui no bairro, em 1987 e, mais adiante, quando das reuniões para a fundação do tal Centro eu não quis participar. Por volta de fevereiro de 1988 houve outra reunião, agora em Belém, dentro de um grande colégio próximo do Mercado de S. Brás. Dessa vez fui e findei como "relator" (?!) da tumultuada "palestra", anotando num papel de embrulho os nomes e Grupos dos 13 ou 15 participantes... o egocentrismo e a prepotência do "supermestre" encerraram de vez qualquer chance do (futuro) CCCP nascer.

Êle não se deu por vencido... semanas depois "alugou" espaço no restaurante da famosa Academia SÓ ÊLE / SÓ ELA -- com meia quadra ao lado da Basílica de Nazaré -- e levou uns 30 "capoeiras" suados e sujos (houve Roda na Praça da República antes) para a criação de um Grupo-Show que jamais fez evento algum, pois não tinha nele 1 só aluno do elemento. Triste sina: em julho de 1989, Belém vazia devido às férias escolares, foi a vez do "alter ego" dele, a outra "sumidade" da Capoeira na capital, também fazer "um Grupo" às pressas, no qual só as camisetas eram dele... devolvidas logo depois, sem que 1 só aluno do sujeito tivesse comparecido. Agora, 2014/15, vê-se Mestres desse quilate sendo presenteados com altas somas pela sua DEDICAÇÃO (?!) à Arte-Luta.

Mas, voltemos ao Centro Cultural... como ambos não frequentavam a Capoeira local, vivam "deitados na fama" que (sabe-se lá como!) fizeram entre 1973 e 1985, não ficaram sabendo que continuamos a idéia da criação do CCCP, difundindo-a nos Grupos e Rodas e tendo no SESC (da Doca) o porto seguro -- graças ao professor "Abíu", depois mestre -- que cedia espaço no final das Rodas livres para a divulgação do futuro Centro. Criado lá, em junho/1988, o CCCP só encontrou barreiras... tentei para presidente o nome maior da Capoeira, mas êle só vivia "no interior", nunca estava em Belém. Sugeri o nome do cenógrafo do SESC, o folclorista Luiz Carlos Moraes e o do próprio "Abíu", porém os 2 recusaram. Restou meu próprio nome... o SESC, por burocracia, ignorou a presença do CCCP lá, devolvendo cartas e não autorizando reuniões e atividades ali. Para encerrar, nem mesmo os capoeiristas quiseram o CCCP na vida deles.

Nossa proposta de nivelar TODOS os instrutores de Belém na "corda azul" (de aluno formado) -- a partir dali haveria cursos e oficinas para aperfeiçoamento, ministrados pela FPC - Federação Paulista, ÚNICA na época e OFICIAL -- foi tida como um INSULTO e o Centro "abandonado".

Nos restou apenas a divulgação CULTURAL da Capoeira, baseada em nossas noções de diagramação, de desenho, colagem, fotografia, etc. E foi o que fizemos, graças principalmente à FOTO GALERIA, na pessoa de seu dono, sr. Rui Nogueira, inacreditavelmente esquecido (?!) na crônica anterior, a "CEM HOMENS BONS".

A Foto Galeria já nos apoiara discretamente nas 2 "exposições" anteriores, feitas com papel reciclado e mais vontade do que técnica. Com o apoio do CENTUR em 1991 pudemos fazer tudo o que sonhamos, em matéria de Fotografia: "sanduíche" de negativos, inversão das cores (por cópia direta de negativo colorido), reprodução ampliada dos microfilmes Super-8 e até os famosos "photocards", espécie de cartão postal com texto ao lado da foto, NOVIDADE absoluta na época, com a chancela da Foto GALERIA. Hoje estão arquivados, em várias cidades do Brasil, boa parte dos 110 "postais" com 2 fotos raras de Rufino Almeida -- me doadas, por amizade -- e que registram em julho de 1989 a passagem por aqui de "capoeiras" universitários da USP e de "mestres-cometas" de Belém, que não se via em lugar algum POR ANOS.

O Centro Cultural não é, para nós, a melhor das lembranças... só levanto o assunto porque quem tem MENOS DE 30 ANOS de prática na Capoeira de Belém (ou de "permanência" nela) nem sequer ouviu falar del. Os CORREIOS do bairro Cidade Nova 4 nos deram imenso prejuízo, mudei adiante para o do Telégrafo sem nenhuma melhora e encerrei o CCCP com ano e meio ou uns 2 anos, no máximo, de "atividade", além de uns 300 ofícios e cartas, sem resultados expressivos. Toda essa vivência está desde 1996 (em 4 ou 5 pastas) nas mãos de um amigo (F.R.S.) e espero que algum dia ela finde em outro Estado, onde terá VALOR como fato e História, incluindo aí o "croquis" da futura sede do CCCP, feita graças ao amigo URUBATAN, funcionário da UFPA.

De 1997 até 2004 tentamos vender nosso acervo para as entidades maiores do Estado (SECULT, SEEL, ESEFPA, Museu da UFPA, UEPA do Telégrafo, UNAMA) e até para particulares, tudo em vão. Para se ter uma idéia da REJEIÇÃO que a Capoeira tinha, na biblioteca de revistas da UFPA, no Guamá, a jovem recepcionista me argumentou que "exporia as 19 revistas de Capoeira (do Grupo MUZENZA) somente quando eu lhe levasse as demais"... e no Museu da UFPA recusaram umas 20 fitas cassette de discos de grandes mestres do Passado "porque estavam muito baixinhas", o nível de áudio delas não era o ideal. Na UEPA e na ESEFPA "desculpas" igauis: não aceitavam cópia xerox (de livros e revistas), no caso menos de 10% do acervo, a maior parte era de revistas e jornais, além de discos, posters, decalques, uns 20 postais raros, "souvenirs", documentos vários, convites de Batizados de grupos de Belém e, principalmente, 425 notas e reportagens de jornais, umas 300 sobre Grupos locais.

Num triste dia acordei "com o pé direito" -- sou o canhoto da família -- e decidimos "dar um fim" naquilo tudo, inclusive em mais de 200 fotos só de Grupos de Belém. Vender 1 foto por aqui era uma baita humilhação... não se comprava nem as próprias fotos, de Batizados ou eventos, uma tristeza! Nas exposições em grandes escolas públicas de Belém como o Orlando Bittar, o Vilhena Alves e o Souza Franco, para citar apenas esses, todos os 300 ou 400 ignoravam os painéis. Fomos até Marituba, para a mesma decepção... aqui em nosso bairro as EPs argumentavam que Capoeira "era Folclore Baiano", não interessava ao aluno local. Para nossa surpresa, apenas em escolas particulares -- os colégios Ipiranga e Cearense -- tivemos melhor recepção, com interesse real de alunos e professores. Numa manhã azíaga de 2009, salvo engano, a maior parte do acervo VIROU CINZA e o restante foi vendido como papel velho, a 12 centavos o quilo. Assim acabou melancolicamente um SONHO que virou PESADELO ! "E la nave va"!

"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor) - 4/set. 2016

OBS: para maiores informações acessem "CCCP - 4 ANOS DE LUTAS E REALIZAÇÕES" ( ou http://aquelastardestristes.blogspot.com/2010)